Depois do pavoroso remake
dirigido por Roland Emmerich em 1998, não fiquei muito animado com a notícia de
que teríamos uma nova versão americana para o famoso monstro japonês Godzilla,
principalmente depois de depositar bastante expectativa em outro filme de
monstros gigantes, Círculo de Fogo
(2013), e sair decepcionado da sala de cinema. Este Godzilla se sai um pouco melhor, mas repete alguns problemas que o
filme de robôs e monstros do Guillermo del Toro.
Na trama, o soldado Ford (Aaron
Taylor-Johnson) precisa ir até o Japão para ajudar o pai, Joe (Bryan Cranston),
que foi preso depois de invadir uma zona de quarentena radioativa na tentativa
de provar que o incidente que tirou a vida de sua esposa (Juliette Binoche)
quinze anos antes não foi um mero vazamento de reator nuclear. Logicamente ele
está certo e isso o coloca em contato com o Dr. Serizawa (Ken Watanabe), que
participa de uma divisão secreta que tenta conter e estudar as criaturas, mas
Joe desconfia que tudo que ocorreu até então era apenas uma preparação para o
surgimento de algo muito maior.
O filme acerta muito bem no clima
de tensão e caos que se estabelece uma vez que as criaturas surgem, ilustrando
com competência as capacidades destrutivas dos monstros e as consequências dos
ataques, bem como a sensação de impotência dos militares e cientistas ao
perceberem que estão lidando com forças muito além de suas capacidades. Quando
uma criatura invade uma cidade, não vemos apenas longos minutos de efeitos de
computação gráfica de monstros destruindo prédios, mas também nos mostra as
pessoas em meio a isso tudo, correndo por entre os escombros e as espessas
nuvens de poeira que sobem ao redor das áreas destruídas. As batalhas entre
Godzilla e as outras criaturas são bastante empolgantes e mostram o poder e a
selvageria da criatura que, assim como nos antigos filmes japoneses e diferente
do péssimo remake de 98, é tratada aqui como um predador virtualmente invencível.
Essa atmosfera de caos e
destruição é muito bem apoiada pela fotografia que desenha paisagens tão belas
quanto desoladas nos espaços cheios de escombros e fuligem, assim como a trilha
sonora que ajuda a dar uma dimensão de gravidade e grandiosidade a tudo que
acontece.
Assim sendo, é lamentável que os
personagens humanos se revelem o elo fraco do filme, sendo, em geral, seres
unidimensionais e vazios, mas que o filme insiste em nos fazer acompanhá-los,
embora eles não tenham nada de muito interessante a oferecer e seja a
pancadaria entre monstros o motivo de estarmos sentados nas salas de cinema.
Claro, temos uma ótima
performance de Bryan Cranston como um sujeito destruído por uma tragédia
pessoal e obsessivamente devotado em descobrir o que aconteceu, algo evidenciado
pelo plano que mostra o reflexo de seu rosto flutuando sobre a janela, quase como se o personagem tivesse se tornado
um mero espectro de seu antigo eu. O mesmo pode ser dito do trabalho de
Juliette Binoche e ambos são as mais eficientes âncoras emocionais que o filme
nos dá, mas eles aparecem muito pouco (Binoche menos ainda) e no restante do
tempo temos que acompanhar os inócuos Ford e Dr Serizawa.
Aaron Johnson e Ken Watanabe até
que se esforçam para tornar seus personagens interessantes, mas o texto lhes dá
pouco com o que trabalhar. Watanabe fica preso a um papel meramente expositivo,
explicando a todo momento as ações das criaturas e seus poucos bons momentos se
limitam a algumas frases de efeitos. Já Johnson está preso ao clichê do soldado
que tenta voltar pra casa e o filme faz pouco esforço para ir além disso.
Normalmente isso não seria um
problema, já que vamos ao cinema para ver os monstros e os humanos estão ali
apenas para orientar a ação, mas Godzilla
comete o mesmo erro de Círculo de Fogo
ao levar esses arcos de personagem tremendamente banais mais a sério do que
deveria, devotando a eles mais tempo do que necessário e deixando o monstro que
dá nome ao filme quase como um coadjuvante. O diferencial é que aqui temos um
elenco melhor que a desastrosa dupla de protagonistas de Círculo de Fogo, o que torna a experiência um pouco menos incômoda,
mas o lado humano do filme perde muito de sua força sem Cranston em cena.
Godzilla também leva sua premissa mais a sério do que deveria,
fazendo grande esforço para explicar a origem das criaturas e seus poderes e
isso produz algumas soluções capengas, que apenas revelam a fragilidade de
tentar racionalizar uma premissa tão absurda e fantasiosa, afinal se o Godzilla
é uma espécie de predador alfa de poderes ilimitados como um dos personagens
afirma, então qual o motivo dele atacar somente outros monstros? Porque não
atacar os humanos, mesmo quando eles o atacam? Não há resposta além da
conveniência de roteiro e teria sido melhor assumir o caráter fantasioso e
escapista de ver “monstros do bem” contra “monstros do mal” do que uma
abordagem séria que apenas expõe as falhas lógicas e o absurdo deste universo.
Godzilla funciona muito bem como filme catástrofe, oferecendo cenas
grandiosas de destruição de criaturas lutando, mas peca por dedicar tempo
demais a personagens pouco interessantes e por levar tudo mais a sério do que
deveria.
Nota: 6/10
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