O primeiro filme é tão bom que meu principal temor para esta sequência é de que fosse apenas um caça-niqueis acomodado que repetiria preguiçosamente tudo que vimos antes apenas para fazer uns dólares a mais. Felizmente, Como Treinar Seu Dragão 2 não é nada disso, expandindo com competência o universo proposto no original, além de aprofundar os personagens e as relações entre eles.
A trama se passa cinco anos
depois do original e coloca Soluço (Jay Baruchel) prestes a ser nomeado por seu
pai, Stoico (Gerard Butler), como o novo líder de Berk. O problema é que Soluço
está mais interessado em desbravar o mundo ao lado de seu dragão do que
efetivamente se tornar líder dos vikings. A situação muda quando ele encontra
com o caçador de dragões Eret (Kit Harington) e descobre que o líder militar
Drago (Djimon Honsou) está escravizando dragões para formar um exército
pessoal.
O filme mantem o visual colorido
e cheio de vida da obra anterior, mas expande esse universo, introduzindo novos
locais e criaturas que trazem a mesma sensação de frescor criativo que víamos
no primeiro filme. Além disso, é competente em denotar visualmente a passagem
do tempo, nos mostrando os personagens mais crescidos, mas ainda familiares
apesar das mudanças experimentas, como a “penugem” da barba que aparece em
alguns deles.
Os voos nos dragões continuam
cheios de energia e velocidade e transmitem muito bem a sensação de liberdade
que os personagens experimentam ao cruzar os céus montados nas feras aladas.
Temos cenas de ação ainda mais grandiosas neste filme e apesar de lidar com
cenários amplos e muitos eventos simultâneos, a câmera nunca se perde em meio a
tudo o que ocorre transitando com fluidez e organicidade, transmitindo com
clareza tudo o que ocorre.
O principal trunfo, no entanto, é
o cuidado que a trama tem com seus personagens e a construção da jornada de
Soluço. Se no primeiro filme o protagonista estava em busca do lugar que
ocuparia junto a seu povo, agora ele precisa compreender e abraçar as
responsabilidades que surgem agora que é praticamente um adulto. Personagens
coadjuvantes também tem seu espaço e cada um tem seu momento para brilhar, seja
em uma sequência de ação ou em momentos mais dramáticos, como a cena em que
Stóico reencontra uma figura do seu passado e de maneira tocante nos revela um
lado sensível que até então não tínhamos visto. Há muitos momentos de emoção
genuína neste Como Treinar Seu Dragão 2
e os mais sensíveis provavelmente irão às lágrimas mais de uma vez.
Além disso, é louvável que um
filme voltado predominantemente ao público infantil não se furte em mostras as
consequências e perdas que os personagens experimentam. A trama não facilita o
trabalho dos heróis e a vitória vem a custos pessoais significativos para
Soluço. Isso serve para dar mais força dramática e verossimilhança ao
amadurecimento do personagem, afinal de contas, derrotas, decepções e a perda
de pessoas próximas fazem parte da vida de qualquer um e momentos ruins nos
ensinam a crescer tanto (ou mais) do que vitórias e momentos positivos.
Assim sendo, é bastante prazeroso
e gratificante ver como aquele garoto tímido e vacilante do primeiro filme vai
aos poucos se transformando em um adulto corajoso e responsável e percebemos o
quanto ele mudou e cresceu desde o primeiro filme. Contrapondo os momentos de
grande peso dramático temos também bons momentos de humor, em especial o
personagem Bocão (Craig Ferguson) e os jovens companheiros de Soluço. O único
ponto negativo fica por conta do vilão e seu plano genérico de dominar o mundo,
tudo bem que ele até tem suas razões para odiar dragões, mas ainda assim soa
como um tipo raso em um filme que apresenta um cuidado tão grande em seus
elementos.
Como Treinar Seu Dragão 2 é uma das raras sequências que melhora e
supera o original, ampliando o universo apresentado, sem se esquecer de
aprofundar seus personagens, equilibrando com grande habilidade drama, humor e
ação.
9/10
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