Baseado na série televisiva dos
anos 80 The Equalizer este O Protetor coloca Denzel Washington como
Robert McCall, um ex-agente da CIA que tenta levar uma vida pacata depois de
abandonar a agência. Trabalhando como estoquista em uma loja de equipamentos
domésticos, McCall tenta manter seu passado escondido, mas quando vê a jovem
Teri (Chloe Moretz) sendo explorada como prostituta por um grupo de mafiosos
russos, ele decide usar todas as suas habilidades para ajudá-la. Suas ações
chamam a atenção dos chefes da máfia, que despacham o mercenário Teddy (Marton
Csokas) para dar conta dele.
A premissa parece derivativa demais,
já que a ideia de um superagente aposentado obrigado a voltar a ativa para
ajudar alguém próximo já foi utilizada à exaustão, só recentemente já vimos
isso nas séries Busca Implacável (2008),
Carga Explosiva (2002) e o próprio
Denzel já tinha vivido um tipo parecido no horrendo Chamas da Vingança (2004).
Aqui, pelo menos, o filme é
consciente de estar reproduzindo um arquétipo desgastado, como fica claro no
momento em que McCall cita Dom Quixote ao dizer que a figura do cavaleiro
errante que vaga o mundo buscando injustiças para combater talvez já tenha
ficado antiquada demais para os dias de hoje. Deste modo, ao invés de
simplesmente se escorar nisso como uma espécie de muleta narrativa, o filme
reconhece o diálogo com uma figura heroica cuja tradição cultural reverbera até
os dias de hoje e continua a gerar interesse. O que, é claro, não torna o filme
menos genérico, mas pelo menos ele não subestima nossa inteligência que está
reproduzindo um formato conhecido.
Diferente da maioria dos blockbusters de ação recentes que
investem em cenas de ação incrivelmente rápidas, movimentadas e cheias de
explosões, O Protetor vai calmamente
construindo a tensão e o suspense até o momento em que um desfecho violento é
inevitável. Afinal de contas, tanto o protagonista quanto o vilão são matadores
experientes que reconhecem a habilidade um do outro e sabem que um movimento
mal calculado certamente acarretará sua morte. Assim sendo, quando os
confrontos acontecem, eles soam como orgânicos e bem motivados dentro da lógica
da narrativa ao invés de uma mera espetacularização da violência gratuita. Além
disso, o filme também não tem medo de mostrar as consequências desses atos
brutais, algo que tem se tornado raro já que os filmes de ação hollywoodianos
tem evitado ser muito gráficos no sangue e na violência para não aumentar a
classificação indicativa.
O filme se beneficia ainda do
trabalho dos dois atores principais. Denzel Washington confere uma expressão
cansada a McCall, como se tivesse vivido boa parte de sua vida carregando um
grande fardo. Seus gestos rígidos e sempre repetidos deixam claro que seu
rígido treinamento e modo de vida o tornaram obcecado por calcular e medir seus
mínimos movimentos. Apesar disso, revela-se ainda um sujeito bondoso, que ajuda
seus colgas sem pedir nada em troca, como fica claro na relação entre ele e
Ralphie (Johnny Skourtis), a quem ajuda a treinar para se tornar segurança.
Teddy, por sua vez, também é um sujeito de passos calculados, mas que disfarça
sua selvageria e brutalidade sob uma fachada calma e polida. Um exemplo disso é
a cena em que ele interroga uma prostituta e apesar de sua fala calma, a garota
começa a chorar, pois sabe exatamente o que Teddy fará com ela.
Como este tipo de filme raramente
apresenta um antagonista a altura, é bom vermos um vilão tão bom no que faz
quanto o protagonista e que não se entrega a planos altamente complicados e
absurdos para conseguir o que quer. Os momentos que McCall e Teddy dividem a
cena são os pontos altos do filme e a cena em que eles se encontram pela
primeira vez é um tenso duelo verbal no qual cada palavra é dita cuidadosamente
para medir e avaliar o rival.
O filme peca, no entanto, em
alguns cacoetes estilísticos, em especial no uso abusivo da câmera lenta e
planos-detalhe para ilustrar a “visão analítica” de McCall e o modo como ele
rapidamente avalia o ambiente antes de agir. O excesso de uso por si só já é um
problema, mas se levarmos em conta que esse recurso já tinha sido explorado à
exaustão em muitos filmes recentes como Sherlock
Holmes (2009) e sua sequência, O
Besouro Verde (2011) e tantos outros, tornando tudo ainda mais enfadonho.
O Protetor pode ser previsível e derivativo, mas apresenta
personagens interessantes e uma competente construção do tenso jogo de gato e
rato entre herói e vilão que tornam válida a experiência.
Nota: 7/10
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