Quando
falei sobre os dois filmes anteriores desta nova trilogia, sempre mencionei o
quanto eles eram inchados, cheios de subtramas desnecessárias e ritmo
arrastado. Este O Hobbit: A Batalha dos
Cinco Exércitos poderia fazer valer todos os excessos anteriores ao
entregar um clímax que os justificasse, no entanto, apenas consolida a ideia de
que a modesta e simples aventura escrita por J.R.R Tolkien não precisava ser
estendida ao longo de três filmes.
O
filme começa exatamente onde A Desolação de Smaug terminou, com o poderoso dragão dirigindo-se à Cidade do Lago.
Após a batalha, os moradores da cidade, liderados por Bard (Luke Evans),
decidem pedir a parte que lhes cabe do tesouro da montanha para reconstruírem a
cidade. No entanto, Thorin (Richard Armitage) foi completamente consumido por
sua cobiça e se recusa a negociar. Além dos humanos, o rei elfo Thranduil (Lee
Pace) também se aproxima da montanha para recuperar um antigo tesouro. Para
piorar, o exército de orcs liderados por Azog (Manu Bennet) se aproxima da
montanha, pronto para cercar humanos, elfos e anões para eliminá-los de uma
vez.
Assim
como os dois primeiros filmes, este também sofre com problemas de ritmo, o
principal deles é o fato de ele começa pelo clímax. A batalha contra Smaug é
grandiosa, tensa e empolgante como se esperava, mas fica a sensação de isto
deveria estar no final do filme anterior e não servir de prólogo para este, já
que primeiro é preciso fechar o arco do dragão para que a trama deste filme
possa devidamente começar.
Para
piorar, algumas subtramas e personagens que os dois primeiros filmes gastaram
precioso tempo para construir, como o romance entre Kili (Aidan Turner) e
Tauriel (Evangeline Lily) ou a introdução de Beorn (Mikael Persbrandt), terminam não valendo a pena.
Qualquer um que conhece o livro sabe o que acontece com Kili ao fim de O Hobbit, o que nos trazia a incômoda
sensação de que este arco morreria na praia e este terceiro filme apenas
confirma que este romance foi uma enorme perda de tempo, já não acrescentou
nada ao personagem. O mesmo pode ser dito de Beorn, que, dada sua aparição
relâmpago neste terceiro filme, poderia ter sido inteiramente suprimido desta
trilogia. Nos livros ele é importante na batalha final, mas aqui mal aparece,
tornando sua longa e arrastada introdução no filme anterior completamente
inútil, melhor teria sido não mostrar o personagem (da mesma forma como
suprimiram Tom Bombadil em O Senhor dos
Anéis) do que colocá-lo na narrativa e não fazer nada com ele.
Não
bastassem os problemas herdados de escolhas equivocadas dos filmes anteriores,
este filme também comete seus erros. Um deles é o foco excessivo no covarde
Alfrid (Ryan Gage). Se inicialmente ele oferece um bem-vindo alívio cômico, sua
presença vai se tornando incômoda à medida que o filme insiste em fazer as
mesmas piadas e fica difícil crer que Bard ou os outros cidadãos tolerariam um
comportamento tão torpe. O incômodo ainda piora com a insistência do filme em
manter vivo alguém tão desprezível, já que todo o tema do filme são os
problemas causados pela ganância e deixá-lo sem punição parece tematicamente
incoerente.
A
irregularidade dos efeitos especiais também incomoda em alguns momentos. A
maquiagem digital usada em Legolas (Orlando Bloom) o deixa com um aspecto
esquisito. Algumas cenas com Bilbo (Martin Freeman) e Gandalf (Ian McKellen)
conversando em meio à batalha (e o mesmo acontece em uma cena com Thorin e seu
primo) são incomodamente bidimensionais, deixando claro que os atores estavam
sozinhos diante de um fundo azul e não em meio a uma guerra frenética.
No
entanto, o filme também tem seus acertos. Peter Jackson continua a exibir sua
habitual competência em comandar grandes cenas de ação, estabelecendo com
clareza a geografia do ambiente e a movimentação dos personagens, deixando
claro quem está aonde e lutando contra quem, criando uma encenação fluida e
coesa. Embora nada do que aconteça durante a batalha do título chame tanto a
atenção quanto o confronto com Smaug (Benedict Cumberbatch) no início, ainda
assim é tudo muito bem realizado e as acrobacias do elfo Legolas continuam
espetaculares.
Martin
Freeman continua sendo o coração e a alma do filme com seu Bilbo e exibe uma
preocupação genuína com a mudança de seu amigo Thorin. Os momentos em que temos
ambos em cena são de longe os melhores do filme e Freeman exibe muito bem a
apreensão e pesar que Bilbo sente pelo companheiro. Uma pena, portanto, que
Bilbo apareça tão pouco (apesar de seu papel decisivo), se tornando quase um
coadjuvante em seu próprio filme. Richard Armitage, por sua vez, é muito
competente em retratar a queda de Thorin rumo à cobiça e como a posse do seu
tesouro o deixa insano. É interessante perceber como o filme sobrepõe a voz do
personagem com a de Smaug, demonstrando como ele se tornou tão obcecado pelo
ouro quanto o dragão.
Os
demais anões não tem muito o que fazer (exceto Kili e seu malfadado romance),
mas todos evocam bem o afeto e camaradagem que sentem um pelo outro, assim,
mesmo sabendo muito pouco sobre eles, podemos sentir o quanto são amigos e se
importam uns com os outros.
Contudo, é o carisma e calor humano (ou élfico ou anão) destes
personagens que faz esta jornada valer a pena e encerrar com dignidade a
jornada de Bilbo Bolseiro, que definitivamente não precisava ser tão inchada e
alongada através de três filmes.
Nota: 6/10
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