Baseado
na história real de um brutal crime, este Foxcatcher:
Uma História que Chocou o Mundo, é um intenso estudo sobre rivalidade,
ciúme e orgulho que levados às últimas conseqüências destroem as vidas de três
homens.
A
trama gira em torno de Mark (Channing Tatum), campeão olímpico de luta
greco-romana que, apesar dos triunfos, vive com dificuldades financeiras e à
sombra do irmão mais velho Dave (Mark Ruffalo), também um lutador e campeão
olímpico. Quando Mark é abordado pelo misterioso milionário Frank du Pont
(Steve Carell) para treinar em sua fazenda com todo o equipamento e auxílio
financeiro que puder dispor, o lutador crê que sua oportunidade finalmente
chegou. No entanto, aos poucos vai percebendo que seu benfeitor não é
exatamente aquilo que imaginava.
Tatum
traz uma certa inocência e um olhar beócio ao ser personagem, tanto que quando ele senta diante da
televisão para assistir um vídeo com a história dos du Pont sua postura é igual
à de um criança. Por outro lado também há uma grande medida de ressentimento
reprimido por seu irmão no personagem, não apenas por Dave ter um
reconhecimento que ele não tem, mas porque ele parece saber que não é capaz de
ser tão bom quanto o irmão. Apesar disso, não deixa de nutrir um amor genuíno
pelo irmão, a quem vê como uma figura paterna, tanto que por mais de uma vez
desconta sua raiva e frustração no próprio corpo ao invés de descontá-la em
outros. Assim sendo, é fácil entender como ele se torna presa fácil para alguém
como du Pont que sabe exatamente que botões pressionar para trazer Mark para o
seu lado.
O
filme, no entanto, pertence ao Frank que Steve Carell constrói com a ajuda da
ótima maquiagem e de próteses. Du Pont, aliás, é uma figura que consegue ser
simultaneamente patética e inesperadamente ameaçadora. Se inicialmente ele
aparenta ser apenas um milionário excêntrico, aos poucos vamos percebendo que
ele tem sérios distúrbios. Primeiro percebemos um complexo de Édipo mal
resolvido a partir de sua relação complicada com a mãe (Vanessa Redgrave). Algo
claro na cena em conversão e ela se dirige ao filho como se falasse como uma
criança pequena e mimada. Outro momento é quando a matriarca vai visitar o
treinamento dos lutadores e du Pont tenta mostrar a ela sua posição enquanto
mentor dos atletas, resultando em uma vergonhosa aula de luta.
Sua
vontade de exercer poder sobre outros, aliás, é outro traço seu que se eleva a
níveis doentios. du Pont se comporta como se seu dinheiro fosse capaz de comprar
qualquer coisa, inclusive o afeto e respeito dos outros. O personagem se
comporta como se tudo em a sua volta lhe pertencesse e não vê nenhum problema
em entrar na casa de seus atletas no meio da madrugada ou de disparar uma arma
de fogo dentro da academia e nesses momentos vamos percebendo como ele pode ser
perigoso. Sua iniciativa de financiar a equipe de luta nada mais é que uma
tentativa desesperada de satisfazer sua necessidade emocional de ser amado e
admirado. Uma necessidade que ele parece incapaz de satisfazer, já que apesar
de dar tudo a Mark, ele continua a recorrer ao irmão para conselhos e treinos.
No entanto, Du Pont continua insistindo em tentar ocupar o lugar de Dave na
vida do atleta e seus esforços vão aos poucos tornando a situação insustentável.
Já
Mark Ruffalo traz imensa empatia como Dave, um homem constantemente preocupado
com sua família que decide se manter próximo ao irmão mesmo sabendo que há algo
de muito problemático na relação entre ele e du Pont.
O
diretor Bennet Miller conduz tudo de maneira contida, construindo uma atmosfera
naturalista que torna tudo terrivelmente próximo da realidade, transmitindo
toda a tensão que a história convoca. Sua paleta de cores predominantemente
frias e uma trilha sonora esparsa contribuem para esse sentimento e sugerem o
constante temor de que algo terrível pode acontecer.
Deste
modo, Foxcatcher: Uma História que Chocou
o Mundo é uma excelente tragédia sobre poder e loucura, sustentada
personagens bem construídos e uma atmosfera realisticamente soturna.
Nota:
9/10
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