quarta-feira, 1 de abril de 2015

Crítica - Velozes e Furiosos 7


Faz algum tempo que a franquia Velozes e Furiosos se afastou do tema dos rachas de rua, mas com esta sétima entrada a franquia também se afasta de fazer filmes sobre seres humanos. Sim, porque os heróis e vilões deste filme são deuses indestrutíveis capazes de sobreviver a qualquer coisa, não importa o quão grave, apenas com alguns arranhões ou até mesmo sem consequência alguma, resultando no primeiro exemplar da franquia que poderia ser enquadrado enquanto filme de super-herói. Não digo isso enquanto forma de desmerecê-lo, pelo contrário, é justamente esse senso de ridículo que torna o filme tão divertido, todos tem plena consciência de que se trata de algo exagerado e absurdo, cujo único objetivo é nos entreter com essas aventuras cartunescas.

A história começa imediatamente após o fim do filme anterior com o perigoso Deckard Shaw (Jason Statham) iniciando sua vingança contra a equipe de Dom (Vin Diesel) depois do que fizeram com seu irmão Owen (Luke Evans). Para lidar com esta nova ameaça, precisarão da ajuda do misterioso Sr. Ninguém (Kurt Russell) que irá colocá-los em uma missão para recuperar um poderoso software de vigilância que pode ajudar a localizar Shaw.

Já na cena de abertura o filme deixa clara a sua lógica de desenho animado ao mostrar o vilão caminhando por um hospital totalmente destruído (por ele) depois de fazer uma visita ao irmão. Fica evidente que esse filme não está lidando com seres humanos normais, mas sujeitos tão estupidamente poderosos que podem eliminar sozinhos pequenos exércitos. Assim, seus personagens erguem carros blindados com as mãos ou se jogam de montanhas como se tudo fosse incrivelmente fácil, afinal o filme está mais preocupado em criar cenas de ação espetaculares (e elas são) para se preocupar com pequenas coisas como verossimilhança. O ápice disso é talvez o momento em que o agente Hobbes (Dwayne "The Rock" Johnson) levanta gravemente ferido de sua cama de hospital e arrebenta o gesso de seu braço como se nada houvesse acontecido para ir ajudar os heróis. A menos que o hospital tenha tratado suas múltiplas fraturas e queimaduras com anabolizante de cavalo isso não seria nenhum um pouco possível ou crível, mas dentro da lógica exagerada de super heróis de desenho animado do filme isso não é apenas possível, como altamente divertido.

As cenas de ação ignoram qualquer preceito físico de gravidade, atrito ou resistência de materiais para gerar o maior e mais estúpido possível e elas cumprem o que prometem, desde o ataque ao ônibus, ao imenso clímax final. Além disso, conseguem dar espaço para que cada um dos protagonistas tenha seu momento. O Brian (Paul Walker) protagoniza duas ótimas lutas contra Tony Jaa, enquanto que Letty (Michelle Rodriguez) tem um intenso embate com a segurança interpretada pela lutadora Ronda Rousey. Já Vin Diesel e The Rock tem suas oportunidades contra Jason Statham.

A trama se complica mais do que deveria e suas reviravoltas são completamente desprovidas de lógica ou coesão. Um exemplo é o já referido ataque ao ônibus, na qual a equipe resolve adotar uma abordagem sorrateira para pegar os bandidos de surpresa. O que fazem pra isso? Jogam seus carros de paraquedas de um avião para caírem no meio da estrada, porque, claro, ninguém vai ver meia dúzia de carros coloridos caindo do céu em paraquedas enormes, certo? É absolutamente idiota, mas o filme é tão sincero em sua estupidez que é difícil não embarcar no absurdo e na diversão que ele proporciona. A narrativa também abandona qualquer noção de temporalidade como ocorre no conflito final quando alguém diz que a força aérea chegará em três minutos, mas vinte minutos passam sem nenhum sinal deles. É uma lógica temporal ao estilo Dragon Ball Z, no qual os personagens lutam em um planeta que irá explodir em 5 minutos e, de algum modo, isso leva oito episódios de vinte minutos para acontecer, mas totalmente coerente com o tom escapista da obra.

Outro problema é que o filme se estende mais do que necessário com inchadas duas horas e vinte de duração, o que acaba tornando as coisas um pouco cansativas, principalmente porque nem todos os elementos funcionam como deveriam. O personagem Roman (Tyrese Gibson) aborrece mais do que faz rir, em geral porque suas piadas interrompem o fluxo da ação ou se alongam mais do que deveriam e perdem a graça. A relação entre Dom e Letty e seu conflito por não possuir memórias continua soando artificial, mal escrita e demasiadamente melosa como era no filme anterior, sem mencionar a limitada capacidade expressiva dos dois atores. Quem continua roubando a cena é The Rock que dispara socos e frases de efeito com um timing impecável, uma pena que ele apareça tão pouco. Já Jason Statham é provavelmente o melhor vilão da franquia trazendo um carisma e uma aura de ameaça constante que outros antagonistas nunca conseguiram.

No entanto, o filme encontra o tom emocional certo ao tratar da despedida do personagem do falecido Paul Walker. O modo como isso seria abordado por esta franquia famosa pelo exagero e escapismo era preocupante, já que facilmente poderia cair em um oportunismo de maus gosto ou um excesso de sentimentalismo barato. Felizmente nada disso acontece e a despedida do companheiro acontece de maneira bastante afetuosa, além de coerente com o tema familiar e a ideia de que família não é apenas aquela com a qual se nasce, mas a que construímos. Assim sendo, o encerramento do personagem soa orgânico com sua trajetória até então e nos faz deixar a sala de cinema com um gosto agridoce na boca. Justo quando os excessos começavam a cansar devido à longa duração o filme consegue mudar o tom de maneira elegante e respeitosa para dar um digno adeus ao seu astro.

Velozes e Furiosos 7 é conscientemente estúpido, imaturo e sem noção e é justamente essa sinceridade em relação a sua natureza absurda que torna tudo tão divertido.


Nota: 7/10

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