Faz
algum tempo que a franquia Velozes e
Furiosos se afastou do tema dos rachas de rua, mas com esta sétima entrada
a franquia também se afasta de fazer filmes sobre seres humanos. Sim, porque os
heróis e vilões deste filme são deuses indestrutíveis capazes de sobreviver a
qualquer coisa, não importa o quão grave, apenas com alguns arranhões ou até
mesmo sem consequência alguma, resultando no primeiro exemplar da franquia que
poderia ser enquadrado enquanto filme de super-herói. Não digo isso enquanto
forma de desmerecê-lo, pelo contrário, é justamente esse senso de ridículo que
torna o filme tão divertido, todos tem plena consciência de que se trata de
algo exagerado e absurdo, cujo único objetivo é nos entreter com essas
aventuras cartunescas.
A
história começa imediatamente após o fim do filme anterior com o perigoso
Deckard Shaw (Jason Statham) iniciando sua vingança contra a equipe de Dom (Vin
Diesel) depois do que fizeram com seu irmão Owen (Luke Evans). Para lidar com
esta nova ameaça, precisarão da ajuda do misterioso Sr. Ninguém (Kurt Russell)
que irá colocá-los em uma missão para recuperar um poderoso software de vigilância que pode ajudar a
localizar Shaw.
Já
na cena de abertura o filme deixa clara a sua lógica de desenho animado ao
mostrar o vilão caminhando por um hospital totalmente destruído (por ele)
depois de fazer uma visita ao irmão. Fica evidente que esse filme não está
lidando com seres humanos normais, mas sujeitos tão estupidamente poderosos que
podem eliminar sozinhos pequenos exércitos. Assim, seus personagens erguem
carros blindados com as mãos ou se jogam de montanhas como se tudo fosse
incrivelmente fácil, afinal o filme está mais preocupado em criar cenas de ação
espetaculares (e elas são) para se preocupar com pequenas coisas como
verossimilhança. O ápice disso é talvez o momento em que o agente Hobbes
(Dwayne "The Rock" Johnson) levanta gravemente ferido de sua cama de
hospital e arrebenta o gesso de seu braço como se nada houvesse acontecido para
ir ajudar os heróis. A menos que o hospital tenha tratado suas múltiplas
fraturas e queimaduras com anabolizante de cavalo isso não seria nenhum um
pouco possível ou crível, mas dentro da lógica exagerada de super heróis de
desenho animado do filme isso não é apenas possível, como altamente divertido.
As
cenas de ação ignoram qualquer preceito físico de gravidade, atrito ou
resistência de materiais para gerar o maior e mais estúpido possível e elas
cumprem o que prometem, desde o ataque ao ônibus, ao imenso clímax final. Além
disso, conseguem dar espaço para que cada um dos protagonistas tenha seu
momento. O Brian (Paul Walker) protagoniza duas ótimas lutas contra Tony Jaa,
enquanto que Letty (Michelle Rodriguez) tem um intenso embate com a segurança
interpretada pela lutadora Ronda Rousey. Já Vin Diesel e The Rock tem suas
oportunidades contra Jason Statham.
A
trama se complica mais do que deveria e suas reviravoltas são completamente
desprovidas de lógica ou coesão. Um exemplo é o já referido ataque ao ônibus,
na qual a equipe resolve adotar uma abordagem sorrateira para pegar os bandidos
de surpresa. O que fazem pra isso? Jogam seus carros de paraquedas de um avião
para caírem no meio da estrada, porque, claro, ninguém vai ver meia dúzia de
carros coloridos caindo do céu em paraquedas enormes, certo? É absolutamente
idiota, mas o filme é tão sincero em sua estupidez que é difícil não embarcar
no absurdo e na diversão que ele proporciona. A narrativa também abandona
qualquer noção de temporalidade como ocorre no conflito final quando alguém diz
que a força aérea chegará em três minutos, mas vinte minutos passam sem nenhum
sinal deles. É uma lógica temporal ao estilo Dragon Ball Z, no qual os personagens lutam em um planeta que irá
explodir em 5 minutos e, de algum modo, isso leva oito episódios de vinte
minutos para acontecer, mas totalmente coerente com o tom escapista da obra.
Outro
problema é que o filme se estende mais do que necessário com inchadas duas
horas e vinte de duração, o que acaba tornando as coisas um pouco cansativas,
principalmente porque nem todos os elementos funcionam como deveriam. O
personagem Roman (Tyrese Gibson) aborrece mais do que faz rir, em geral porque
suas piadas interrompem o fluxo da ação ou se alongam mais do que deveriam e
perdem a graça. A relação entre Dom e Letty e seu conflito por não possuir memórias
continua soando artificial, mal escrita e demasiadamente melosa como era no
filme anterior, sem mencionar a limitada capacidade expressiva dos dois atores.
Quem continua roubando a cena é The Rock que dispara socos e frases de efeito
com um timing impecável, uma pena que
ele apareça tão pouco. Já Jason Statham é provavelmente o melhor vilão da
franquia trazendo um carisma e uma aura de ameaça constante que outros
antagonistas nunca conseguiram.
No
entanto, o filme encontra o tom emocional certo ao tratar da despedida do
personagem do falecido Paul Walker. O modo como isso seria abordado por esta
franquia famosa pelo exagero e escapismo era preocupante, já que facilmente
poderia cair em um oportunismo de maus gosto ou um excesso de sentimentalismo
barato. Felizmente nada disso acontece e a despedida do companheiro acontece de
maneira bastante afetuosa, além de coerente com o tema familiar e a ideia de
que família não é apenas aquela com a qual se nasce, mas a que construímos.
Assim sendo, o encerramento do personagem soa orgânico com sua trajetória até
então e nos faz deixar a sala de cinema com um gosto agridoce na boca. Justo
quando os excessos começavam a cansar devido à longa duração o filme consegue
mudar o tom de maneira elegante e respeitosa para dar um digno adeus ao seu
astro.
Velozes e Furiosos 7 é conscientemente estúpido, imaturo e sem noção e é
justamente essa sinceridade em relação a sua natureza absurda que torna tudo
tão divertido.
Nota:
7/10
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