Com
tantos remakes e continuações de antigos pipocando ultimamente nos cinemas,
estava difícil ficar empolgado com este Mad
Max: Estrada da Fúria, já que a grande maioria destes produtos fica muito
aquém do original. Isto, no entanto, não é o caso deste filme, que entrega uma
insana e intensa em jornada em um mundo cuidadosamente bem concebido.
Acompanhamos
Max (Tom Hardy, herdando o papel que foi de Mel Gibson) tentando sobreviver em
um hostil deserto pós-apocalíptico enquanto é assombrado por problemas do
passado. Os problemas começam quando o personagem é capturado e
inadvertidamente arrastado para uma perseguição à Imperatriz Furiosa (Charlize Theron)
que está em fuga depois de ter libertado e levado consigo as
"esposas" de um poderoso líder tribal e religioso, algumas das poucas
mulheres ainda capazes de gerar filhos saudáveis. Cabe a Max ajudá-las enquanto
luta pela própria sobrevivência.
A
verdade, porém, é que este é muito mais um filme da Furiosa do que de Max, já
que é o conflito da personagem e o desenvolvimento de seu arco dramático que
guia a narrativa. Isso não chega a ser um problema, já que Theron tem uma
presença imponente e constrói a personagem como uma pessoa endurecida depois de
anos de abuso e disposta a arriscar tudo para reparar seu mundo, tornando-a uma das melhores heroínas de ação a aparecer nas telas em muito tempo e não deve nada a personagens icônicas como Sarah Connor e Ellen Ripley. Já Max, que
passa uma porção do filme amarrado e preso a uma máscara, é um sujeito que
passou tanto tempo sozinho e lutando para sobreviver que foi reduzido a quase
um animal e Tom Hardy convoca isso muito bem ao fazer o personagem se comunicar
basicamente por grunhidos e por frases curtas e objetivas, quase como se ele
tivesse esquecido como falar com as pessoas e se importasse apenas com se
manter vivo.
A
história é relativamente simples, em alguns momentos previsível, mas
surpreendente em outros, além de um interessante subtexto de desconstrução de uma sociedade patriarcal. O que se destaca, entretanto, é o cuidado com o qual
George Miller (responsável pelos três filmes anteriores) constrói seu universo.
Há algo de único em sua sociedade pós-apocalíptica, das máscaras dos líderes
tribais, passando pelos veículos de guerra e até uma espécie de "trio
elétrico" flamejante, tudo soa interessante, insólito e coeso com a
ambientação pretendida. Afinal, as roupas, veículos e até aspectos da cultura
(como o fato de volantes serem objetos de idolatria) ajudam a entender como
este é um lugar completamente insano e hostil no qual a sobrevivência é uma
batalha a ser travada a cada instante e cada recurso, de água a gasolina, é completamente
precioso. A fotografia enche as paisagens de cores quentes e saturadas, dando
uma impressão de um intenso e incessante calor no interminável deserto.
Essa
atmosfera de constante perigo e incerteza ajudam a tornar mais intensas as
cenas de ação que ocupam a maior parte do filme e elas são ainda mais insanas,
violentas e grandiosas do que os trailers dão a entender. Grande parte disso
deve-se também ao fato de Miller preferir filmar o máximo possível com efeitos
práticos, veículos e dublês ao invés de apelar o tempo todo para a computação
gráfica, tornando tudo ainda mais crível e carregado de energia, pois vemos
claramente que são pessoas de verdade ali em meio a todo o caos. Tudo isso
filmado em planos longos, que estabelecem os espaços da ação e desenvolvem tudo
de forma coesa.
Assim
sendo, este Mad Max: Estrada da Fúria
é uma intensa, insana e veloz perseguição, beneficiada por bons personagens e
uma ambientação bem construída.
Nota:
9/10
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