quarta-feira, 15 de julho de 2015

Crítica - Homem-Formiga

Análise Crítica - Homem-Formiga

Review - Homem-FormigaDepois do sucesso de público e crítica de Guardiões da Galáxia (2014), ficou claro que Marvel era capaz de fazer funcionar nas telonas até mesmo seus personagens menos conhecidos e mais esquisitos. Seguindo a aposta segura que foi Vingadores: A Era de Ultron, o estúdio volta a experimentar com mais um personagem insólito e pouco conhecido com este Homem-Formiga. O resultado final não chega a surpreender tanto quanto Guardiões da Galáxia, mas ainda assim é uma aventura bem divertida.

Acompanhamos Scott Lang (Paul Rudd), um ladrão recém saído da prisão que tenta viver honestamente, mas seus esforços são sempre frustrados por seu passado criminoso. Sua sorte muda quando ele é abordado pelo misterioso Hank Pym (Michael Douglas) um super-herói que está fora de ação a décadas e pede a ajuda de Scott para roubar sua partícula de encolhimento que foi replicada por Darren Cross (Corey Stoll), antigo pupilo de Pym, que planeja vendê-la aos militares para que usem como arma. 

A narrativa é menos aquilo que se espera de um tradicional filme de super-herói e mais próxima de um heist movie (ou filme de roubo) nos moldes de Onze Homens e Um Segredo (2001) ou Uma Saída de Mestre (2003). Isso implica em um filme um pouco mais lento, com seu início e meio mais voltados para o estabelecimento, planejamento e treinamento para o golpe e clímax voltado para a execução do roubo e os imprevistos que costumam ocorrer. Isso não é um problema, de modo algum, mas aqueles que esperam uma trama mais focada na ação poderão se decepcionar um pouco.

 Mais do que um filme sobre roubos ou sobre super-heróis, é um filme sobre relações entre pais e filhos. Há um paralelo claro entre Lang e Pym, já que ambos buscam corrigir erros do passado e se reaproximar de suas filhas. Do mesmo modo, há também um relação quase que paternal e problemática entre Pym e o vilão Cross, que o vê como um pai que lhe ignorou e agora decide provar seu valor ao arruiná-lo. Michael Douglas faz seu Hank Pym como um homem cheio de ressentimento pelo passado e por algumas escolhas que fez, com um pesar tão profundo que constantemente transforma suas frustrações em raiva, além disso a maquiagem digital que rejuvenesce o ator no início do filme é possivelmente o uso mais convincente desse tipo de efeito.

Já Paul Rudd traz sua habitual persona boa-praça para Scott Lang, que torna fácil simpatizar com ele, e um ótimo timing cômico em seus diálogos. O problema é que o filme se esforça além da conta para que jamais vejamos Scott sob uma luz negativa, justificando inclusive seu crime sob uma espécie de vigilantismo ao estilo Robin Hood, o que tira um pouco do peso e da força dramática de seu arco enquanto personagem, já que ao invés de vermos a evolução de um sujeito de criminoso a herói, abandonando sua ganância, egoísmo ou irresponsabilidade em nome de um bem maior, vemos um sujeito que já tinha uma personalidade altruísta e relativamente heróica confirmar a impressão que tínhamos dele. Se o primeiro caso resultaria em um personagem complexo e cheio de conflitos internos, o segundo, que é o que assistimos, nos traz um sujeito carismático e gente boa, mas nada além disso.

Outra questão é que o relacionamento entre ele e Hope Van Dyne (Evangeline Lilly), a filha de Pym, parece acontecer por pura conveniência do roteiro, tudo bem que o filme nos dá razões para que ela supere sua birra inicial com o personagem e passe a vê-lo como alguém digno do legado pai, mas daí para um envolvimento romântico há uma lacuna que o filme simplesmente não preenche. Na verdade, boa parte das relações entre os personagens se desenvolve de modo relativamente apressado, como a resolução do conflito entre Hope e Pym, provavelmente pela insistência do filme em inserir cenas que parecem mais voltadas para se comunicar com o resto do universo cinematográfico Marvel do que efetivamente enriquecer a narrativa do próprio filme, um problema que já tinha apontado no último filme dos Vingadores e que já vem acontecendo desde a "fase 1" do estúdio.

Claro que é bacana ver Scott interagindo com um dos Vingadores e isso serve para um gancho para a Guerra Civil em uma das cenas pós-créditos, mas nada disso era realmente necessário para a jornada de Scott, Pym ou Hope. Aliás, se Evangeline Lilly não fosse tão eficiente em evocar a mágoa de Hope em relação ao pai, poderia facilmente ter tornado a personagem chata ou caricata, já que ela tem pouco espaço para realmente desenvolver a Hope.

Corey Stoll se esforça para dar alguma personalidade a Darren Cross, inclusive com certa dimensão edipiana na relação entre ele e Pym, mas é sabotado por um texto que jamais permite que ele saia do clichê do "cientista megalomaníaco", resultando em mais um vilão pobre e unidimensional no universo cinematográfico da Marvel. Merece destaque, no entanto, o trabalho do ator Michael Pena como o hilário parceiro de crimes de Scott, um papel que teria caído fácil nas mãos de John Leguizamo se estivéssemos nos anos 90, que rouba a cena sempre que aparece.

As cenas de ação são bem curiosas por explorar esse universo diminuto do personagem, normalmente recorrendo a movimentos de câmera vertiginosos para nos trazer a sensação de amplitude experimentada pelo personagem, bem como o uso preciso da montagem para extrair comicidade ao contrapor as climáticas cenas de ação encolhidas com a perspectiva "normal" e menos grandiosa dos eventos. Acerta também ao apresentar um clímax que é mais pessoal para o protagonista, ao invés de entregar mais uma grande batalha generalizada com centenas de capangas e todo esse excesso que se tornou quase que obrigatório em filmes de super-heróis, como acontece em no descartável Thor: O Mundo Sombrio (2013), o fraco Homem de Ferro 3 (2013) e mesmo o bacana Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014), que encerram com enormes e burocráticas batalhas que não eram realmente necessárias. Apesar de bem divertido e insólito, a ação não chega a surpreender e encantar como deveria, talvez por nunca abraçar completamente as possibilidades alopradas dos poderes do herói, como acontece na breve e lisérgica cena no plano subatômico.

Assim sendo, Homem-Formiga é uma aventura leve e divertida que traz boa parte dos mesmos acertos e erros que nos acostumamos a esperar dos filmes da Marvel.

Nota: 6/10


Obs: Há uma cena adicional no meio dos créditos e outra no final.

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