quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Crítica - Amizade Desfeita


Resenha Amizade Desfeita

Review UnfriendedUltimamente entrar numa sala de cinema para assistir a um filme de terror no estilo found footage é algo que me faz temer pela minha sanidade. Não porque esses filmes me deixam como medo, mas pelo fato de serem tão ruins que tenho a sensação de que eles vão acabar me provocando algum dano cerebral. Nesse sentido, este Amizade Desfeita acaba se saindo um pouco melhor do que porcarias homéricas como A Possessão do Mal ou A Forca, o que não é muito difícil, é verdade, mas ainda assim surpreende pelo modo como traz ideias bem sacadas para um formato já desgastado e abusado. Isso, no entanto, acaba não sendo suficiente para salvar o filme.

A história se passa em tempo real e inteiramente na tela do computador da adolescente Blaire (Shelley Hennig), que conversa via webcam com um grupo de amigos quando o grupo começa a ser contatado pelo perfil da Laura (Heather Sossaman), uma amiga deles que se matou há um ano depois de um vídeo constrangedor dela foi postado na internet. De início eles acham que é apenas alguém pregando uma peça, mas aos poucos vão percebendo que há algo de muito sombrio acontecendo.

O filme tem muitas boas sacadas no modo como conta a sua história, usando diferentes recursos para mostrar o que se passa na mente da protagonista. Seus pensamentos se refletem no modo como ela vai escrevendo algo e então, apaga e depois reformula as frases ou como ela demonstra vergonha de algo ao apagá-lo de seu histórico de navegação, as músicas que ela vai escolhendo também funcionam como uma janela para seu estado de espírito. Do mesmo modo, o filme usa textos de internet para explicar certos detalhes da trama, sem precisar ficar obrigando os personagens a falarem entre si de algo que todos já sabem.

A simultaneidade entre diálogos e texto que acontece muitas vezes no longa talvez tenha sido o motivo da distribuidora Universal optar por lançar o filme apenas em cópias dubladas (os textos também são traduzidos) por aqui, já que as legendas provavelmente não dariam conta do grande volume de informação simultânea na tela, dificultando a experiência para os que não estão familiarizados com o inglês. Por outro lado, creio que era bem fácil contornar esse problema e fazer cópias legendadas, bastava apenas deixar as informações textuais em português e deixar os diálogos no idioma original.

O filme ainda consegue discorrer sobre a questão do cyberbullying e as consequências sérias que isso causa. Por mais que muitos achem que é apenas uma brincadeira, esse tipo de gozação por meios digitais é bastante sério, principalmente porque nada é de fato apagado na internet, sendo uma marca que seguirá a vítima pelo resto da vida em qualquer lugar que ela estiver, não importa o quanto se queira esconder. Além disso, o anonimato da rede torna fácil o assédio constante e os ataques agressivos, já que não é preciso se identificar ou mostrar o rosto.

Apesar das boas ideias narrativas e do tratamento ao tema, o filme fracassa em criar uma atmosfera de medo, apreensão ou suspense. Em parte por deixar bem evidente desde o início que todos os protagonistas são igualmente desagradáveis, trocando constantemente ofensas e xingamentos. Assim, antes mesmo que o filme nos diga, já sabemos que eles certamente tem culpa na morte da colega, eliminando assim qualquer aura de incerteza ou mistério. Outra questão são os próprios personagens que são vazios e apáticos e não conseguem despertar empatia suficiente para que torçamos de verdade por sua sobrevivência, nem os desprezamos o bastante para ficarmos contentes com suas mortes sangrentas.

As mortes, aliás, são outro aspecto no qual o filme derrapa. Sempre que chegamos a um momento em que um susto ou algo aterrorizante irá acontecer a fita acaba recorrendo a todos os expedientes que já cansamos de ver. Entram imagens tremidas e cheias de interferência, praticamente incompreensíveis, enquanto todos gritam e no meio disso vemos meio segundo de algo chocante como um sujeito tendo a mão enfiada em um liquidificador, apenas para voltar rapidamente aos gritos e interferências incompreensíveis. Falta peso, intensidade e impacto aos ataques aos personagens e devo confessar que em nenhum momento da projeção senti qualquer mínima ponta de medo, algo grave em um filme de terror.

Assim, Amizade Desfeita consegue trazer ideias interessantes a um formato que já se tornou cansativo e trabalha temas bastante contemporâneos, mas falha em criar um clima de medo ou apreensão e os sustos não funcionam como deveriam.

Nota: 4/10

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