Devo
dizer que apesar de apreciar muito o trabalho de Angelina Jolie como atriz, o
mesmo não posso de dizer de seu trabalho como diretora. Não vi seu primeiro
filme atrás das câmeras, Na Terra do Amor
e do Ódio (2011), mas seu trabalho seguinte, Invencível (2014), me soou demasiadamente superficial e carregado
de excessos apesar de belissimamente filmado. Já este À Beira Mar, seu terceiro esforço como diretora, continua
belissimamente filmado, mas também traz os mesmos problemas do trabalho
anterior com ainda mais intensidade.
A
obra acompanha Vanessa (Angelina Jolie) e Roland (Brad Pitt), um casal em crise
que vai passar férias no litoral da França. Enquanto Roland tenta lidar com seu
bloqueio criativo que o impede de escrever, Vanessa passa seus dias observando
um pescador na costa e o jovem casal, Lea (Melanie Laurent) e François (Melvil
Paupaud), que está hospedado no quarto ao lado.
Muitos
dos detratores deste filme irão centrar seus argumentos no fato de ser muito
lento ou de não ser nada mais do que uma banal discussão de relação (a famosa
DR) de mais de duas horas. Nenhum desses dois atributos, no entanto, é o
problema, afinal a trilogia iniciada em Antes
do Amanhecer (1995) é inteiramente baseado em duas pessoas falando sobre si
e suas visões de mundo e são belíssimos filmes, graças aos personagens
complexos e diálogos bem estruturados. O mesmo pode ser dito do sueco Força Maior, um competente estudo de
personagem que se baseia inteiramente nas tragicômicas conversas de um casal em
férias.
O
problema de Á Beira Mar é que se
configura como um estudo de personagem que, bem, não estuda absolutamente nada.
O propósito de um estudo de personagem é justamente tentar compreender quem são
aquelas pessoas e o que as faz ser daquele modo, uma tentativa de analisar e
reconstruir emoções humanas complexas. Devemos sair de um filme assim
conhecendo intimamente aquelas pessoas e as muitas nuances de suas
personalidades e isso não acontece.
O
casal varia entre apenas duas emoções, a raiva e a depressão, destilando-as em
diálogos arrastados, completamente desinteressantes, que confundem banalidade
com falta de inspiração, pois o fato de uma conversa ser trivial ou cotidiana
não significa que ela necessariamente deva ser enfadonha. Os simbolismos que a
narrativa tenta evocar são pra lá de óbvios e facilmente compreendidos antes que
o filme atinja a marca de trinta minutos, tornando suas mais de duas horas de
duração um doloroso exercício de paciência.
Fica
óbvio desde os primeiros momentos que o casal jovem é uma imagem do passado
apaixonado deles, o que lhes desperta fascínio e inveja, é evidente que o
pescador constantemente observado por Vanessa servirá como alguma metáfora para
a persistência à despeito do fracasso e aprender a "ir com a maré".
Apesar do filme cercar de mistério o passado de ambos, também fica evidente
desde o início que o evento traumático é uma gravidez fracassada, revelação que
termina por reduzir Vanessa ao clichê da mulher que é amarga e triste por ser
estéril. Do mesmo modo, toda a bebedeira e comportamento abusivo de Roland é
explicado tão somente pelo seu bloqueio criativo que, por sua vez, parece
causado justamente pelo trauma das gestações fracassadas da mulher, colocando
injustamente toda a culpa do fracasso do relacionamento na mulher.
A
música também acaba prejudicando. Os momentos em que ela entra, seus fortes
acordes melancólicos soam demasiadamente excessivos e redundantes em uma
narrativa que já é marcada em forte medida por essa característica. Por outro
lado, o filme exibe uma boa reconstrução de época em seus cenários e figurinos
além de ser belissimamente filmado e muitas tomadas, em especial aquelas com
Jolie deitada com seus largos óculos escuros e chapéu largo parecem saídas
diretamente de algum editorial de moda.
A
beleza, no entanto, não é o bastante
para salvar À Beira Mar uma narrativa rasa, com personagens pouco interessantes e que se
arrasta muito mais do que deveria.
Nota:
2/10
Trailer:
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