Este
Macbeth: Ambição e Guerra (até agora
não entendi pra quê esse subtítulo, mas, enfim) é um filme sombrio, depressivo,
cheio de pessoas horríveis e nem um pouco recomendável se você estiver tendo um
dia ruim. Ou seja, é uma adaptação bastante competente da tragédia
shakespeariana à qual se baseia, afinal, se você não sair com um gosto amargo
na boca depois de ver qualquer versão de Macbeth, algo não foi feito
corretamente.
Para
quem não conhece a famosa história, seguimos o nobre escocês Macbeth (Michael
Fassbender) que depois de uma batalha encontra um grupo de bruxas e estas
profetizam que ele irá virar rei da Escócia. Ao contar tudo para sua esposa,
Lady Macbeth (Marion Cotillard), e ao saber que a providência está de seu lado,
ela começa a tramar o assassinato do rei Duncan (David Thewlis), covencendo o
marido a cometer o regicídio. O casal consegue o que quer, mas passa a ser
consumido pela culpa e paranoia. Macbeth começa a achar que seus aliados Banquo
(Paddy Considine) e Macduff (Sean Harris, o vilão do recente Missão Impossível: Nação Secreta) podem
se voltar contra ele e decide agir.
A
fotografia chama atenção de imediato, principalmente pelo uso da luz, dando
impressão de que tudo é filmado com luz ambiente natural, conferindo ao filme
uma atmosfera sombria, bastante condizente com os atos soturnos dos
personagens, constantemente mergulhados na escuridão. Mesmo em espaços abertos,
as cenas são tomadas pelas sombras graças às nuvens negras que constantemente
pairam sobre os personagens, quase como um presságio dos eventos sombrios que
virão. Os planos abertos transmitem a imensidão dos ermos escoceses, que aqui
surgem como ambientes estéreis, sem vida, tão inférteis quanto o próprio
reinado do protagonista. A névoa toma muitos dos ambientes e em meio a ela as
pessoas surgem mais como espectros do que como pessoas.
Há
de se destacar também o clímax com o incêndio da floresta, no qual tudo é
tomado por fogo, cinzas e fumaça e temos a impressão de que os personagens
vagueiam pelo próprio inferno, reforçando a natureza vil de seus personagens. A
música traz constantes acordes carregados de melancolia, deixando claro que não
há espaço para alegria ou leveza nesta história, mas é sutil o bastante para
não soa excessiva ou intrusiva. Como já disse, é uma narrativa cheia de
amargura e crueldade e isso pode afastar alguns da obra, principalmente pelo
seu tom um pouco mais lento e contemplativo, que dá tempo aos personagens de
confrontarem a si mesmos por seus atos desprezíveis.
Sutis
também são as composições do atores que evitam cair nos excessos que vira e
mexe marcam as adaptações de Shakespeare, com atores se comportando como se
estivessem em um palco e não na tela de cinema. Aqui, os famosos solilóquios
como o do "som e fúria" de
Macbeth ou o do sangue nas mãos de Lady Macbeth são construídos de modo
bastante intimista, como se eles tivessem vagueando por suas próprias
consciências destroçadas. Michael Fassbender faz do nobre escocês um homem
decididamente cruel, mas cuja loucura e instabilidade derivam mais de um
potente sentimento de culpa e arrependimento do que por mera sede de sangue.
Ele elimina qualquer um que pareça uma ameaça por que tem consciência das
coisas terríveis que fez e por isso, não deseja que ações tão abjetas tenham
sido a troco de nada e vai se afundando em um ciclo de violência e culpa. Já a
Lady Macbeth, que começa impassível, vai aos poucos se dando conta do peso de
suas ações até se dar conta que é tarde demais para esboçar qualquer
arrependimento.
Assim,
tal qual a famosa "peça escocesa" em que se baseia, este Macbeth: Ambição e Guerra é um
implacável estudo sobre a crueldade e malícia humana.
Nota:
8/10
Trailer:
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