Havia
uma grande expectativa e antecipação sobre esse novo Star Wars, conheço muita gente que mal continha a ansiedade. Eu
preferi segurar o hype, afinal eu
estava lá em 1999 quando uma nova trilogia se iniciava com A Ameaça Fantasma e todas as altas expectativas e esperanças foram
soterradas em uma avalanche de inaptidões. Por isso, fiquei bastante aliviado
ao sair da sessão deste O Despertar da
Força, que é o retorno em grande estilo que os fãs esperavam desde a
trilogia prelúdio.
A
trama foi mantida a sete chaves durante toda a divulgação do filme e eu acho
realmente louvável o esforço, principalmente em uma época em que toda a trama é
dada nos trailers (estou olhando para
você, Batman v. Superman) e ver o
filme torna-se mera formalidade, já que entramos sabendo todas as reviravoltas
e surpresas. Aqui isso não acontece e cada revelação e cada reviravolta nos dá
um sentimento genuíno de descoberta, mesmo quando são algumas coisas que já
suspeitávamos que aconteceria. Não vou aqui dar muitos detalhes, pois quero
respeitar a reserva da Disney e do diretor J.J Abrams em preservar o frescor da
nossa experiência. O máximo que posso dizer é que gira em torno de Finn (John
Boyega), um stormtrooper que quer se afastar da Primeira Ordem, e Rey (Daisy
Ridley), uma jovem solitária que vive no desértico planeta Jakku recolhendo
sucata.
O
grande mérito da condução de Abrams e do roteiro escrito em colaboração com o
veterano Lawrence Kasdan (que escreveu O
Império Contra-Ataca e colaborou em O
Retorno de Jedi) é recapturar o deslumbramento e a sensação de estar imerso
em um universo grandioso, recheado por lugares e pessoas extraordinárias. A
cena em que Rey se mostra encantada ao ver as florestas de um determinado
planeta é talvez o que mais traduz isso, a reação dela é tão pura e tão genuína
que é difícil não embarcar nos encantos dessa história ou da própria Rey. Os
planetas insólitos, vilões temíveis e heróis carismáticos foram o que nos
conquistaram antes e é exatamente isso que o filme nos traz.
Falando
em descoberta, Daisy Ridley e sua Rey são o grande achado do filme ao construir
uma heroína que se vê pega em uma aventura que nunca imaginou e precisa
encontrar um modo de sobreviver a tudo aquilo. Como os melhores heróis, ela não
aceita de imediato seu papel, mas se ergue à condição quando a situação pede e
o momento em que ela se dá conta de sua capacidade, traz um senso de satisfação
que poucos filmes conseguem. Num ano em que já tivemos uma ótima heroina de
ação na Furiosa de Mad Max: Estrada da Fúria, é bom ver outra figura feminina igualmente intensa e cativante
tomando o protagonismo.
Assim
como Ridley, Adam Driver surpreende como o vilão Kylo Ren, conseguindo trazer
profundidade a um antagonista que poderia ser facilmente unidimensional, ao
fazer dele um sujeito movido por inseguranças (quanto ao seu destino e quanto
ao seu poder), dividido entre aquilo que acredita ser o melhor para si e a
pessoa que um dia foi, quase como se tentasse justificar para si mesmo que ele
realmente precisa trilhar aquele caminho, o que resulta em uma das cenas mais
impactantes do longa quando ele encontra um dos personagens veteranos. O ator
Domhnall Gleeson (o Bill Weasley de Harry
Potter) engata mais um ótimo trabalho depois do excelente Ex Machina: Instinto Artificial ao
trazer uma intensa persona "hitleresca"
ao seu General Nux.
Enquanto
isso, John Boyega e Oscar Isaac trazem bastante carisma a Finn e Poe,
estabelecendo uma ótima química de camaradagem entre os dois, com vários diálogos
bem divertidos. Falar de personagens veteranos como Leia (Carrie Fisher) e Han
(Harrison Ford) seria chover no molhado, já que eles se mostram extremamente
confortáveis retornando aos seus papéis e a essa altura acho que nem preciso
dizer o quão adorável é o robô BB-8.
Abrams
acerta também ao evitar abusar da computação gráfica, buscando usar cenários
físicos e efeitos práticos (incluindo o próprio BB-8) sempre que possível,
construindo uma obra visualmente impecável que consegue ser simultaneamente
familiar e cheio de frescor, lotando a tela como locais, objetos e personagens que
são sempre interessantes de ver. As cenas de ação são muito bem conduzidas,
desde os vertiginosos voos e manobras de Poe a bordo de sua X-Wing, passando
pelos tiroteios e duelos de sabres de luz, em especial o intenso confronto com
Kylo Ren ao fim do filme.
Se
há algum problema com O Despertar da
Força é que talvez ele seja reminiscente demais do filme original, não
apenas pelas muitas referências a eventos anteriores, mas no modo como toda a
sua estrutura é similar ao filme de 1977. Em muitos momentos temos uma leve
sensação de deja vu, como se estivéssemos
vendo algo que já vimos, tanto que um determinado personagem diz "mas essa
é só mais uma Estrela da Morte" em dado momento. Apesar disso, nunca soa
como uma pálida reprodução do que foi feito antes, como aconteceu no
decepcionante Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, já que o filme é tão competente na construção de seus
personagens e no desenvolvimento de suas relações que é praticamente impossível
não ficar investido na história. Acerta também em conseguir manter até o fim a
aura de mistério envolvendo alguns personagens e em oferecer respostas satisfatórias
ao mesmo tempo que mantêm outros elementos em suspense para os próximos filmes,
o que torna a espera ainda mais difícil.
Assim
sendo, Star Wars: O Despertar da Força
justifica toda a expectativa que se construiu ao seu redor, ampliando os
horizontes desta galáxia muito distante e lembrando o que a manteve tão
atraente ao longo dos anos. É uma aventura divertida, deslumbrante e com uma trupe
de novos personagens que não devem em nada àqueles que adoramos por tanto
tempo.
Nota:
9/10
2 comentários:
como sempre um texto na medida! sou muito seu fã, Ravazzano!
Valeu André!
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