terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Crítica - Creed: Nascido Para Lutar




Confesso que torci o nariz ao ouvir o anúncio de que este Creed: Nascido Para Lutar. Imaginei que fosse só um caça-níqueis cínico feito para faturar em cima do popular universo concebido por Sylvester Stallone. No entanto, eu já tinha me enganado antes com o ótimo Rocky Balboa (2006) que também parecia ser uma continuação preguiçosa e se revelou muito mais. O mesmo aconteceu com este filme, que é bastante digno de todo o legado de Rocky.

Adonis (Michael B. Jordan) é um filho ilegítimo do boxeador Apollo Creed (Carl Weathers), morto durante Rocky IV (1986). Depois da morte precoce da mãe e de passar boa parte da infância em orfanatos e reformatórios, ele é finalmente adotado pela esposa de Creed, Mary Ann (Phylicia Rashad). Já adulto, ele se sente impelido a entrar no mundo do boxe e decide buscar o auxílio do melhor amigo de seu pai, Rocky Balboa (Sylvester Stallone).

É uma história sobre família e como as vidas daqueles que vieram antes de nós impactam diretamente as nossas, para o bem e para o mal. Além disso é também uma tradicional história de esporte sobre um azarão que vai contra todas as chances e nesse sentido é um pouco parecido demais em sua estrutura com o primeiro filme protagonizado por Rocky.

Michael B. Jordan traz seu habitual carisma ao personagem principal e faz de Adonis um jovem preso ao passado, ressentido pelo abandono de seu falecido pai e da sombra que ele faz pairar sobre sua vida, afinal tudo que ele fizer será sempre comparado à grandiosidade de Apollo. Assim, ele se esforça para construir algo para si próprio e descobrir que ele verdadeiramente é além do rótulo de "filho de Apollo".

Já Stallone é uma grande surpresa. Apesar de saber o quanto ele é bom ao fazer esse personagem, principalmente no primeiro filme e no recente Rocky Balboa, esperava que aqui ele fosse se limitar à função de tutor, treinando Adonis e dando umas lições de moral aqui e ali. Seria fácil para Stallone fazer isso, apenas ficar sentado, se esforçar pouco e receber seu cheque, mas não é isso que acontece. O ator dá o seu melhor ao nos trazer um Rocky que percebe o peso da idade está se tornando cada vez maior, assim como pesa a ausência de todos os seus entes queridos, algo que fica evidente no tocante diálogo em que ele diz para Adonis que todas as razões que tinha para viver já morreram há muito tempo e o vemos, ao seu modo simplório e contido, demonstrar todo o desamparo e fragilidade do personagem. Aliás, nunca o vimos tão vulnerável quanto o vemos aqui e o modo como o observamos aqui é simplesmente de cortar o coração, já somos tão familiares com esse personagem que é quase como ver um parente próximo, um tio ou avô, definhar.

Stallone e Jordan tem uma química muito boa juntos e os diálogos entre eles estão entre os melhores momentos do longa, em especial uma conversa que eles tem numa cela que é quase tão poderosa quanto a conversa entre Rocky e o filho em Rocky Balboa. O diretor Ryan Coogler (que já tinha trabalhado com Jordan no bom Fruitvale Station: A Última Parada) traz intensidade às cenas de luta, em especial a primeira luta profissional de Adonis que é construída como um grande plano-sequência (embora provavelmente não seja, mas ainda assim é um esforço louvável) enquanto a câmera dança pelo ringue nos fazendo acompanhar em tempo real e sem cortes toda a força e intensidade do combate. Além disso ainda consegue criar algumas transições bem interessantes, como a que acontece depois do protagonista vencer a primeira luta e dizer que irá comemorar, apenas para no corte seguinte o vermos dormindo no sofá assistindo filmes.

O único ponto fraco é a descartável subtrama romântica entre Adonis e a cantora Bianca (Tessa Thompson). Bianca é uma boa personagem e a relação entre eles é relativamente bem desenvolvida, mas parecem pertencer a um outro filme, já que estão completamente desconectadas do restante das ideias trabalhadas pelo longa. O tempo gasto com esse arco soa ainda mais incômodo quando percebemos o quanto o filme desperdiça a madrasta de Adonis, cujos conflitos com o protagonista são resolvidos de modo muito fácil, sem mencionar que o filme chega a sugerir um conflito ou tensão entre ela e Rocky (Adonis diz que ele nunca mais a procurou depois da morte de Apollo), mas depois é completamente esquecido. Rocky e Mary Ann resolvendo questões pendentes do passado, bem como uma cena propriamente dita entre Adonis e a madrasta resolvendo suas questões (ao invés de fazer isso por correspondência) tinham muito mais a ver com o tema principal do filme do que arranjar uma namorada para o protagonista.

Ainda assim Creed: Nascido Para Lutar é uma obra que se prova digna do legado criado por Stallone, trazendo um novo e interessante protagonista ao mesmo tempo que traz novos desafios para o veterano Rocky, nos emocionando e nos fazendo vibrar com a jornada desses dois personagens.

Nota: 8/10

Trailer:
 

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