Na
tradição de filmes como Todos os Homens
do Presidente (1976), O Informante
(1999) ou Frost/Nixon (2008), este Spotlight: Segredos Revelados acompanha
o árduo trabalho de um grupo de jornalistas em investigar fatos que foram
ocultados do público. Nesse sentido, o filme é tanto uma denúncia das
descobertas da reportagem original quanto uma exaltação do trabalho
jornalístico e sua função de trazer à luz assuntos de interesse público.
Acompanhamos
a equipe da Spotlight, a coluna de jornalismo investigativo do jornal Boston
Globe, que no início dos anos 2000 começou a investigar casos de pedofilia
cometidos por padres da igreja católica. Ao longo da busca, descobrem que quase
uma centena de sacerdotes que passaram pela cidade abusaram crianças
sexualmente e pior, descobrem que o alto escalão da igreja sabia a respeito e
nada fez.
O
filme constrói com cuidado os passos dados pela equipe estabelecendo bem o
contexto em que as denúncias chegaram ao jornal e o grau de influência que a
arquidiocese tinha na cidade de Boston. Na verdade, o primeiro terço do filme é
tão preocupado em municiar o espectador de detalhes que tudo acaba sendo
excessivamente expositivo e fazendo a narrativa demorar de engrenar. Não vejo
isso como um problema, mas imagino que muitos poderão se incomodar com o ritmo
mais lento da trama.
Aos
poucos vamos vendo os passos dados pela equipe em levantar dados que ajudem a comprovar
a existência de abusos e o quão surpreendente é o alto número de vítimas e
também de molestadores. Nas mãos de um realizador inferior, as entrevistas com
as vítimas poderiam facilmente descambar para um sentimentalismo excessivo ou
se contentar apenas em fazer chorar, mas o diretor Tom McCarthy é inteligente o
bastante para evitar isso. Sua direção é sutil e delicada, confiando na
inteligência e percepção do público em perceber como aquelas pessoas tiveram
suas vidas completamente devastadas pelos atos monstruosos dos padres. Mais que
isso, o filme deixa claro o quanto esses abusos são acobertados não apenas pela
lideranças da igreja, como também por outros setores da sociedade que
constantemente fazem vista grossa, criando assim um ambiente de impunidade no qual
os abusos podem ocorrer livremente. A partir disso, monta de maneira bem
didática uma estrutura argumentativa que nos permite compreender como a
situação chegou a esse ponto.
Um
exemplo disso é a cena em que o repórter Mike Rezendes (Mark Ruffalo) entrevista
uma das vítimas que relata como foi abordada por um padre. Ao longo da cena,
percebemos diversas marcas de agulha do braço do interlocutor, mas nem Mike,
nem a própria vítima falam nada a respeito. Não é necessário falar, pois as
marcas por si, bem como o tom de voz, a postura e o olhar do falante, já deixam
claro o quanto o evento destruiu sua vida. A música segue a condução sutil de
McCarthy, mantendo-se discreta e evitando grandes intrusões, deixando as
situações e personagens deem o tom da dramaticidade.
O
filme consegue dar o devido espaço a cada um dos repórteres, dando a eles suas
motivações e conflitos próprios conforme se aprofundam na investigação, sem
chegar a eleger um protagonista. A decisão permite destacar o quanto o trabalho
em equipe é necessário para uma boa investigação jornalística e também que cada
um dos atores consiga mostrar a que veio. É o tipo de filme que se apoia mais
no esforço conjunto do elenco do que em uma atuação que chame a atenção. Assim,
temos performances bem consistentes de Michael Keaton (engatando mais um bom
trabalho depois do excelente Birdman),
Mark Ruffalo, Rachael McAdams, Liev Schrieber, Stanley Tucci e mais alguns
outros.
Deste
modo, Spotlight: Segredos Revelados é
um competente tratado sobre o quão grave e extensa é a questão da pedofilia dentro da
igreja católica ao mesmo tempo em que nos lembra como o bom trabalho jornalístico
pode fazer a diferença.
Nota:
8/10
Trailer:
Um comentário:
Sua crítica é muito boa. Obrigada por compartilhar. Eu também gostei de Spotlight, acho que mais que filme de drama, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Este é um dos filmes de Michael Keaton que eu mais gosto, acho que é melhor que The Founder completo dublado que estrenou no ano passado. A verdade este filme vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia muito interessante e controversa. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.
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