terça-feira, 21 de junho de 2016

Crítica - Independence Day: O Ressurgimento



O primeiro Independence Day (1996) não era lá grande coisa, mas funcionava como uma diversão descartável e descompromissada graças aos efeitos especiais que criavam uma destruição em larga escala e ao carisma de Will Smith. Vinte anos depois, esses efeitos especiais se tornaram lugar comum em grandes produções de Hollywood e Will Smith preferiu não voltar para a continuação. Assim, esse Independence Day: O Ressurgimento já nascia como um projeto desprovido daquilo que chamava atenção do primeiro (a inovação visual e o seu astro) deixando em dúvida se seria capaz de entregar algo que preste e a verdade é que realmente não consegue.

Vinte anos depois do primeiro filme, a Terra vem se preparando para uma nova ofensiva dos alienígenas, com David Levinson (Jeff Goldblum) liderando a força-tarefa responsável. O ex-presidente Whitmore (Bill Pullman) começa a ter visões envolvendo o retorno dos inimigos e avisa sua filha Patricia (Maika Monroe, do ótimo Corrente do Mal), mas ninguém lhe dá ouvidos, julgando ser estresse pós-traumático. Apesar de toda a preparação, nada estava à altura do novo ataque, que mais uma vez parece prestes a extinguir a raça humana.

Se a história anterior não era exatamente um primor narrativo, pelo menos ia direto ao ponto, rapidamente estabelecendo a ameaça e fazendo os arcos dos personagens convergirem rapidamente para dar prosseguimento à ação. Esse novo filme não consegue fazer nem isso e na marca dos quarenta minutos, de um total de cento e vinte, ainda está introduzindo seus personagens quando já deveria estar iniciando o conflito.

Além de prejudicar o ritmo do filme, todo esse tempo gasto com a enorme quantidade de personagens soa como um desperdício quando muitos deles não servem a propósito algum na trama e poderiam ser facilmente limados do corte final, como o carro cheio de adolescentes ou a psiquiatra interpretada por Charlotte Gainsbourgh (de Ninfomaníaca e Samba). Outros são mortos assim que o ataque alienígena chega e sequer tem tempo para mostrarem a que vieram e os que sobram são superficiais demais para fazer valer a quase metade do filme gasta para apresentar o inchado elenco.

O piloto interpretado por Liam Hemsworth é praticamente uma xerox do Tom Cruise em Top Gun (1986), um egocêntrico que não gosta de obedecer, mas que todo mundo tolera por ele ser bom no que faz. Já Dylan Hiller (Jessie T. Usher) tem como único traço de personalidade o fato de querer sair da sombra do pai e a piloto Rain (Angelababy) está ali apenas para agradar o público chinês na esperança que eles salvem a bilheteria do filme como aconteceu com Warcraft: O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos, Exterminador do Futuro: Gênesis (2015) ou O Destino de Júpiter (2015, que foi um fracasso mesmo com a alta arrecadação chinesa). Jeff Goldblum interpreta a si mesmo como fez em toda a sua carreira e cuja graça já se esgotou a uma década atrás. O ex-presidente interpretado por Bill Pullman, cuja canastrice tornava divertidos seus "diálogos inspiradores", é prejudicado por um roteiro que leva seu personagem mais a sério do que deveria.

Incomoda também o tanto que o filme é similar ao original em termos de estrutura, já que temos uma repetição preguiçosa de tudo que vimos anteriormente. Assim como no primeiro, temos um aviso de ataque que é ignorado, a destruição de marcos turísticos, o refúgio das autoridades na área 51, uma tentativa de bombardeio que dá errado, um discurso motivacional do presidente e uma armadilha simples que se mostra efetiva contra os alienígenas, tudo igualzinho como era.

Seria possível escrever páginas sobre a quantidade de furos e coisas sem sentido ou explicação que acontecem ao longo da narrativa, mas, sinceramente, não vale o gasto de energia. Os múltiplos buracos poderiam ser relevados se o filme abraçasse a própria estupidez como fizeram Velozes e Furiosos 7 (2015) ou o recente As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras, mas ao invés disso ele parece se levar a sério com um grande épico de ação, algo evidenciado pela música excessivamente solene.

As cenas de destruição e confrontos aéreos são competentes, o mínimo que se espera de uma produção do gênero, mas não tem nada que já não vimos em outros filmes similares e como os personagens falham em despertar simpatia ou interesse e não damos a mínima se eles vivem ou morrem, tudo soa vazio e artificial. Na verdade, o único momento que realmente empolgou foi quando o líder militar africano matou um alienígena com um facão e tirando isso eu estava praticamente torcendo para os alienígenas, uma vez que se eles ganhassem logo o filme podia terminar e acabar o meu sofrimento. Os visuais ainda são prejudicados pela montagem incessante que transforma os combates em uma enorme bagunça, mal conseguindo estabelecer com clareza os espaços de ação e também pelo uso do 3D, uma vez que há muitos corredores escuros e ambientes sombrios, em especial nas cenas com os pilotos dentro da nave-mãe, que ficam ainda mais escuros por causa das lentes dos óculos 3D, sendo preferível evitar o formato.

No fim, Independence Day: O Ressurgimento é prejudicado por suas próprias pretensões de grandiosidade, se perdendo em um elenco inchado, uma trama que se leva mais a sério do que deveria e cenas de ação que não tem nada a acrescentar ao gênero. É como um vinho deixado aberto na geladeira durante vinte anos: o rótulo continua a mesma coisa, mas o conteúdo é intragável.


Nota: 3/10

Trailer:

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