O primeiro Independence Day (1996) não era lá grande coisa, mas funcionava
como uma diversão descartável e descompromissada graças aos efeitos especiais
que criavam uma destruição em larga escala e ao carisma de Will Smith. Vinte
anos depois, esses efeitos especiais se tornaram lugar comum em grandes
produções de Hollywood e Will Smith preferiu não voltar para a continuação.
Assim, esse Independence Day: O
Ressurgimento já nascia como um projeto desprovido daquilo que chamava
atenção do primeiro (a inovação visual e o seu astro) deixando em dúvida se
seria capaz de entregar algo que preste e a verdade é que realmente não
consegue.
Vinte anos depois do primeiro
filme, a Terra vem se preparando para uma nova ofensiva dos alienígenas, com
David Levinson (Jeff Goldblum) liderando a força-tarefa responsável. O
ex-presidente Whitmore (Bill Pullman) começa a ter visões envolvendo o retorno
dos inimigos e avisa sua filha Patricia (Maika Monroe, do ótimo Corrente do Mal), mas ninguém lhe dá
ouvidos, julgando ser estresse pós-traumático. Apesar de toda a preparação,
nada estava à altura do novo ataque, que mais uma vez parece prestes a
extinguir a raça humana.
Se a história anterior não era
exatamente um primor narrativo, pelo menos ia direto ao ponto, rapidamente
estabelecendo a ameaça e fazendo os arcos dos personagens convergirem
rapidamente para dar prosseguimento à ação. Esse novo filme não consegue fazer
nem isso e na marca dos quarenta minutos, de um total de cento e vinte, ainda
está introduzindo seus personagens quando já deveria estar iniciando o
conflito.
Além de prejudicar o ritmo do
filme, todo esse tempo gasto com a enorme quantidade de personagens soa como um
desperdício quando muitos deles não servem a propósito algum na trama e
poderiam ser facilmente limados do corte final, como o carro cheio de
adolescentes ou a psiquiatra interpretada por Charlotte Gainsbourgh (de Ninfomaníaca e Samba). Outros são mortos assim que o ataque alienígena chega e
sequer tem tempo para mostrarem a que vieram e os que sobram são superficiais
demais para fazer valer a quase metade do filme gasta para apresentar o inchado
elenco.
O piloto interpretado por Liam
Hemsworth é praticamente uma xerox do Tom Cruise em Top Gun (1986), um egocêntrico que não gosta de obedecer, mas que
todo mundo tolera por ele ser bom no que faz. Já Dylan Hiller (Jessie T.
Usher) tem como único traço de personalidade o fato de querer sair da sombra do
pai e a piloto Rain (Angelababy) está ali apenas para agradar o público chinês
na esperança que eles salvem a bilheteria do filme como aconteceu com Warcraft: O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos, Exterminador do Futuro: Gênesis (2015) ou O Destino de Júpiter (2015, que foi um fracasso mesmo com a alta arrecadação chinesa).
Jeff Goldblum interpreta a si mesmo como fez em toda a sua carreira e cuja
graça já se esgotou a uma década atrás. O ex-presidente interpretado por Bill
Pullman, cuja canastrice tornava divertidos seus "diálogos
inspiradores", é prejudicado por um roteiro que leva seu personagem mais a
sério do que deveria.
Incomoda também o tanto que o
filme é similar ao original em termos de estrutura, já que temos uma repetição
preguiçosa de tudo que vimos anteriormente. Assim como no primeiro, temos um
aviso de ataque que é ignorado, a destruição de marcos turísticos, o refúgio
das autoridades na área 51, uma tentativa de bombardeio que dá errado, um
discurso motivacional do presidente e uma armadilha simples que se mostra
efetiva contra os alienígenas, tudo igualzinho como era.
Seria possível escrever páginas
sobre a quantidade de furos e coisas sem sentido ou explicação que acontecem ao
longo da narrativa, mas, sinceramente, não vale o gasto de energia. Os
múltiplos buracos poderiam ser relevados se o filme abraçasse a própria
estupidez como fizeram Velozes e Furiosos 7 (2015) ou o recente As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras, mas ao invés disso ele parece se levar a sério com
um grande épico de ação, algo evidenciado pela música excessivamente solene.
As cenas de destruição e
confrontos aéreos são competentes, o mínimo que se espera de uma produção do
gênero, mas não tem nada que já não vimos em outros filmes similares e como os
personagens falham em despertar simpatia ou interesse e não damos a mínima se
eles vivem ou morrem, tudo soa vazio e artificial. Na verdade, o único momento
que realmente empolgou foi quando o líder militar africano matou um alienígena
com um facão e tirando isso eu estava praticamente torcendo para os
alienígenas, uma vez que se eles ganhassem logo o filme podia terminar e acabar
o meu sofrimento. Os visuais ainda são prejudicados pela montagem incessante
que transforma os combates em uma enorme bagunça, mal conseguindo estabelecer
com clareza os espaços de ação e também pelo uso do 3D, uma vez que há muitos
corredores escuros e ambientes sombrios, em especial nas cenas com os pilotos
dentro da nave-mãe, que ficam ainda mais escuros por causa das lentes dos
óculos 3D, sendo preferível evitar o formato.
No fim, Independence Day: O Ressurgimento é prejudicado por suas próprias
pretensões de grandiosidade, se perdendo em um elenco inchado, uma trama que se
leva mais a sério do que deveria e cenas de ação que não tem nada a acrescentar
ao gênero. É como um vinho deixado aberto na geladeira durante vinte anos: o
rótulo continua a mesma coisa, mas o conteúdo é intragável.
Nota: 3/10
Trailer:
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