A animação South Park não vinha tendo sorte em suas adaptações para
videogames. Os resultados eram normalmente caça-níqueis simplórios que falhavam
em capturar o espírito da série e em suas próprias mecânicas de jogo.
Felizmente, depois de muitos atrasos, a falência da primeira produtora (a THQ),
a passagem para a Ubisoft e mais atrasos, é finalmente possível dizer que este
RPG desenvolvido pela Obsidian é, enfim um produto digno da série animada.
A trama pega o gancho sugerido no
fim do episódio triplo da última temporada Song
of Ass and Fire, que zoava Game of
Thrones, mas ver esses episódios não é essencial para entender o que se
passa aqui. Na história, os garotos estão engajados em uma espécie de LARP (live-action role play), uma variante do
tradicional RPG de mesa no qual os jogadores agem diretamente ao invés de jogar
dados. Divididos entre humanos, liderados por Cartman, e elfos, liderados Kyle,
as duas facções brigam pelo controle do Bastão da Verdade (que é apenas um
galho), cabe então ao jogador, na pele do garoto (ou garota) que acabou de
chegar na cidade, desequilibrar este “épico” conflito. Claro, como de costume
na série, a brincadeira sai do controle e ganha proporções épicas e absurdas
envolvendo abduções alienígenas, gnomos das cuecas, zumbis nazistas, um passeio
pelo ânus do Sr. Escravo e toda sorte de bizarrices que South Park sabe criar tão bem.
Esse é o primeiro grande acerto
do jogo, já que sua narrativa (escrita pelos próprios Trey Parker e Matt Stone)
capta muito bem toda ambientação do seriado com todas as piadas e humor
absurdo, bem como as personalidades dos personagens que habitam o lugar. A
própria cidade (pela primeira vez mapeada) é um grande atrativo, oferecendo
para nossa exploração todos os locais que já vimos na série, algo que sem
dúvida é um grande atrativo para fãs, já que podemos explorar livremente a
cidade e interagir com todos os personagens da série, algo que normalmente
resulta em muitas missões secundárias.
Essas missões costumam ser
inspiradas em episódios da série nos colocando para ajudar o ex-vice-presidente
Al Gore a encontrar o temível homem-urso-porco ou trabalhando para o Sr. Kim
para expulsar as hordas de mongóis que insistem em invadir seu restaurante.
Além da história e das missões secundárias temos também vários artigos
colecionáveis, como itens de customização e bonecos dos Chinpokomon. O nível de
cuidado e detalhamento é imenso, o jogo reproduz com exatidão e fidelidade o
visual tosco da animação e tudo remete a esse universo que acompanhamos há
anos, já que até os itens de recuperar energia ou aqueles que servem só para
serem vendidos são retirados da série como o salgadinho Queijitos (Cheesy
Poofs), o CD da banda gospel de Cartman (sim, isso aconteceu na série) Faith+1
ou os livros obscenos escritos por Butters.
Além de engraçado e fiel à série,
a jogabilidade também é competente. O jogo funciona de modo bastante semelhante
aos jogos da série Paper Mario e aos
tradicionais RPGs da era 16-bits com batalhas por turno no qual o jogador
escolhe as ações dos personagens cada vez que chega sua vez, ao final o jogador
recebe experiência e sobe nível, lhe permitindo melhorar suas habilidades e
equipar armas e armaduras melhores.
Entretanto as batalhas não
consistem apenas em navegar entre menus, é preciso prestar atenção para apertar
os botões certos na hora certa para atacar com mais efetividade ou bloquear
golpes inimigos. Assim sendo, para sobreviver é preciso ter atenção nos
combates, além de ser capaz de perceber as posições de contra-ataque (que
contém seus ataques corpo-a-corpo) e deflexão (que contem seus ataques à
distância) dos inimigos.
No jogo a equipe tem apenas dois
personagens, o protagonista e um companheiro que pode ser escolhido e alterado
livremente entre os personagens da série como Butters, Kenny e Cartman, cada um
com suas habilidades específicas. Já o jogador pode escolher entre quatro
classes, guerreiro, ladrão, mago e judeu (é sério), mas a verdade é que não há
muita diferença entre elas já que não há restrição de equipamentos, todas
aprendem as mesmas mágicas (peidos) e invocações (é possível chamar a ajuda de
personagens como Jesus e Sr. Hankey), mudando apenas a meia dúzia de
habilidades de classe.
Outro problema é que a tão
prometida customização limita-se somente à aparência do seu personagem, pois as
decisões tomadas ao longo do jogo, como o lado pelo qual lutar, não possuem
nenhum impacto ou provocam qualquer mudança no andamento do jogo. Além de ser
algo relativamente frustrante, também não estimulam o replay, já que o game é relativamente curto para um RPG, já que em
cerca de 15 horas é possível terminar o jogo com todas as missões secundárias e
colecionáveis.
Ainda assim, South Park: The Stick of Truth é um jogo extremamente engraçado e
divertido, indispensável para fãs da série ou qualquer um que goste de RPGs.
Nota: 9/10
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