Mal saíram os primeiros trailers
do novo Caça-Fantasmas e a internet
já tinha praticamente decidido que o filme seria um lixo que destruiria suas
infâncias, esquecendo que esse papel já tinha sido desempenhado pelo terrível Caça-Fantasmas 2 (1989). Claro que era
muito difícil superar o encantamento do primeiro filme, mas ainda assim esse
recomeço para a franquia consegue ser bastante divertido.
A trama acompanha as cientistas
Erin (Kristen Wiig), Abby (Melissa McCarthy) e Holtzmann (Kate McKinnon),
desacreditadas na comunidade acadêmica por crerem na existência de fantasmas. A
sorte delas muda quando assombrações começam a surgir verdadeiramente na cidade
e o conhecimento que elas possuem pode ser a chave para deter a ameaça. O trio
acaba recrutando a desbocada Patty (Leslie Jones) para completar a equipe e
juntas começam a investigar o que está causando o surgimento de tantos
fantasmas.
O quarteto de protagonistas
possui uma ótima química juntas e realmente convencem como um time. As
interações e piadas entre elas são as melhores coisas do filme e quando todas
realmente se unem para salvar o dia ao fim temos uma sensação de que a
construção da equipe da foi de fato bem desenvolvida e orgânica. A amizade
entre as personagens de McCarthy e Wiig está no centro da trama, já que é
justamente a reunião das duas que dá início a tudo, mas McKinnon e Jones também
tem espaço para brilhar. McKinnon abraça sem medo a persona de "cientista
louca" de Holtzmann, sempre parecendo se divertir e não se importar com os
riscos de seus inventos mirabolantes, criando várias cenas dignas de memes. Já Jones faz de Patty a típica
nova-iorquina que parece achar tudo bastante corriqueiro, de forma semelhante
ao Winston (Ernie Hudson) dos filmes originais.
Quem surpreende é Chris Hemsworth
(o Thor dos filmes da Marvel) como Kevin, o bem intencionado, mas burro como
uma porta, assistente das Caça-Fantasmas. Hemsworth embarca sem medo ou vergonha
na completa imbecilidade do personagem, dando a ele uma ingenuidade sincera,
quase que infantil, que evita torná-lo uma mera caricatura. O vilão, por
outro lado, é tão genérico em sua personalidade e vago em seus planos que nunca
consegue despertar interesse.
Se o elenco é ótimo, o mesmo não
pode ser dito do roteiro e da direção. Apesar do humor quase sempre funcionar,
o diretor Paul Feig parece nem sempre conseguir dosar a comédia e o
desenvolvimento dos personagens e muitos momentos que deveriam ter um certo
peso dramático são sabotados pela inserção de piadinhas inoportunas. A cena em
que Erin revela porque era chamada de "menina fantasma", por exemplo,
é um momento em que a personagem revela um trauma sério, mas seu peso dramático
se dilui quando a fala é imediatamente seguida por comentários engraçadinhos.
O contrário também ocorre e
quando o filme chega na metade (depois que elas pegam o primeiro fantasma)
parece esquecer que é uma comédia e exibe pressa em tocar a trama pra frente,
perdendo um pouco o fôlego. Só recupera o ritmo quando começa a desenhar seu clímax
(lá pela cena em que Patty faz um exorcismo a base de tapas na cara).
Outra coisa que incomoda é o
excesso de referências ao filme original. Evidentemente o uso de certos elementos da
iconografia como o símbolo do fantasma, o carro Ecto-1 ou mesmo uma aparição do
mascote Geleia seriam inevitáveis, mas o filme insiste em dar pequenas pontas a
praticamente todo o elenco original (exceto Rick Moranis). A maioria dessas
participações soa como um fan service
forçado e apenas os personagens de Bill Murray e Ernie Hudson aparecem de
maneira orgânica à trama, além de gerarem piadas realmente divertidas. O atual
filme mostra qualidades suficientes para se sustentar pelas próprias pernas,
mas acaba soando inseguro ao ficar recorrendo o tempo todo a essas referências.
Os efeitos especiais que criam os
fantasmas e feixes de energia dos personagens são bem realizados e bastante
críveis, servindo a cenas de ação bem divertidas e até mais movimentadas do que
nos filmes originais, já que as heroínas dispõem de vários equipamentos novos.
O design das criaturas também é
competente, trazendo aparições com uma aparência macabra, mas ainda conferindo
a elas um certo ar cartunesco. O 3D é usado de maneira inteligente, com muita
coisa escapando para fora da taxa de aspecto da tela e dando a impressão de que
podemos tocar na gosma ectoplásmica se estendermos nossas mãos.
No fim, Caça-Fantasmas pode até ter alguns problemas de ritmo, mas passa longe
de ser o desastre que os cães raivosos da internet antecipavam. O resultado é
uma aventura bem divertida e carismática que funciona principalmente pelo
entrosamento de seu elenco.
Obs: Há uma cena adicional após os créditos.
Nota: 7/10
Trailer:
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