terça-feira, 12 de julho de 2016

Crítica - Caça-Fantasmas



Mal saíram os primeiros trailers do novo Caça-Fantasmas e a internet já tinha praticamente decidido que o filme seria um lixo que destruiria suas infâncias, esquecendo que esse papel já tinha sido desempenhado pelo terrível Caça-Fantasmas 2 (1989). Claro que era muito difícil superar o encantamento do primeiro filme, mas ainda assim esse recomeço para a franquia consegue ser bastante divertido.

A trama acompanha as cientistas Erin (Kristen Wiig), Abby (Melissa McCarthy) e Holtzmann (Kate McKinnon), desacreditadas na comunidade acadêmica por crerem na existência de fantasmas. A sorte delas muda quando assombrações começam a surgir verdadeiramente na cidade e o conhecimento que elas possuem pode ser a chave para deter a ameaça. O trio acaba recrutando a desbocada Patty (Leslie Jones) para completar a equipe e juntas começam a investigar o que está causando o surgimento de tantos fantasmas.

O quarteto de protagonistas possui uma ótima química juntas e realmente convencem como um time. As interações e piadas entre elas são as melhores coisas do filme e quando todas realmente se unem para salvar o dia ao fim temos uma sensação de que a construção da equipe da foi de fato bem desenvolvida e orgânica. A amizade entre as personagens de McCarthy e Wiig está no centro da trama, já que é justamente a reunião das duas que dá início a tudo, mas McKinnon e Jones também tem espaço para brilhar. McKinnon abraça sem medo a persona de "cientista louca" de Holtzmann, sempre parecendo se divertir e não se importar com os riscos de seus inventos mirabolantes, criando várias cenas dignas de memes. Já Jones faz de Patty a típica nova-iorquina que parece achar tudo bastante corriqueiro, de forma semelhante ao Winston (Ernie Hudson) dos filmes originais.

Quem surpreende é Chris Hemsworth (o Thor dos filmes da Marvel) como Kevin, o bem intencionado, mas burro como uma porta, assistente das Caça-Fantasmas. Hemsworth embarca sem medo ou vergonha na completa imbecilidade do personagem, dando a ele uma ingenuidade sincera, quase que infantil, que evita torná-lo uma mera caricatura. O vilão, por outro lado, é tão genérico em sua personalidade e vago em seus planos que nunca consegue despertar interesse.

Se o elenco é ótimo, o mesmo não pode ser dito do roteiro e da direção. Apesar do humor quase sempre funcionar, o diretor Paul Feig parece nem sempre conseguir dosar a comédia e o desenvolvimento dos personagens e muitos momentos que deveriam ter um certo peso dramático são sabotados pela inserção de piadinhas inoportunas. A cena em que Erin revela porque era chamada de "menina fantasma", por exemplo, é um momento em que a personagem revela um trauma sério, mas seu peso dramático se dilui quando a fala é imediatamente seguida por comentários engraçadinhos.

O contrário também ocorre e quando o filme chega na metade (depois que elas pegam o primeiro fantasma) parece esquecer que é uma comédia e exibe pressa em tocar a trama pra frente, perdendo um pouco o fôlego. Só recupera o ritmo quando começa a desenhar seu clímax (lá pela cena em que Patty faz um exorcismo a base de tapas na cara).

Outra coisa que incomoda é o excesso de referências ao filme original. Evidentemente o uso de certos elementos da iconografia como o símbolo do fantasma, o carro Ecto-1 ou mesmo uma aparição do mascote Geleia seriam inevitáveis, mas o filme insiste em dar pequenas pontas a praticamente todo o elenco original (exceto Rick Moranis). A maioria dessas participações soa como um fan service forçado e apenas os personagens de Bill Murray e Ernie Hudson aparecem de maneira orgânica à trama, além de gerarem piadas realmente divertidas. O atual filme mostra qualidades suficientes para se sustentar pelas próprias pernas, mas acaba soando inseguro ao ficar recorrendo o tempo todo a essas referências.

Os efeitos especiais que criam os fantasmas e feixes de energia dos personagens são bem realizados e bastante críveis, servindo a cenas de ação bem divertidas e até mais movimentadas do que nos filmes originais, já que as heroínas dispõem de vários equipamentos novos. O design das criaturas também é competente, trazendo aparições com uma aparência macabra, mas ainda conferindo a elas um certo ar cartunesco. O 3D é usado de maneira inteligente, com muita coisa escapando para fora da taxa de aspecto da tela e dando a impressão de que podemos tocar na gosma ectoplásmica se estendermos nossas mãos.

No fim, Caça-Fantasmas pode até ter alguns problemas de ritmo, mas passa longe de ser o desastre que os cães raivosos da internet antecipavam. O resultado é uma aventura bem divertida e carismática que funciona principalmente pelo entrosamento de seu elenco.

Obs: Há uma cena adicional após os créditos.

Nota: 7/10


Trailer:

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