Quando escrevi sobre Terremoto: A Falha de San Andreas (2015)
disse que "filmes catástrofe são normalmente mais focados na criação do
espetáculo destrutivo do que em elaborar uma narrativa envolvente ou
personagens interessantes". Quando temos ainda um filme catástrofe baseado
em uma tragédia real, espera-se também uma certa medida de sentimentalismo em
relação às pessoas que lutaram pela sobrevivência. A mistura por vezes
funciona, como em O Impossível
(2012), mas pesar a mão no sentimentalismo pode descambar fácil para um
sensacionalismo apelativo e é isso que acontece neste Horizonte Profundo: Desastre no Golfo.
Baseado no incidente da
plataforma Deepwater Horizon, o maior vazamento de petróleo a acontecer na costa
dos Estados Unidos. O filme acompanha o engenheiro Mike (Mark Wahlberg) que vai
trabalhar na plataforma e percebe que os executivos da companhia, ansiosos com
os atrasos no cronograma, estão querendo pular as verificações de segurança.
Obviamente tudo dá muito errado e os operários precisam dar um jeito de evitar
um desastre maior e esvaziar a plataforma.
Os personagens não vão além de
clichês básicos como "o pai de família", "o veterano
experiente" e daí por diante. Se é possível aderir de algum modo a eles
isso é mais mérito do carisma de Mark Walhberg e Kurt Russell. O filme pesa a
mão na construção do executivo interpretado por John Malkovich, que só faltou
mergulhar em uma pilha de dinheiro ao estilo Tio Patinhas. Claro que imagino o
sujeito deve ser de fato um escroto sem escrúpulos, não sou tolo de defender o
contrário, mas o que é feito aqui pelo texto e pelo trabalho de Malkovich o faz
parecer um vilão de desenho animado. O filme ainda desperdiça Kate Hudson como
a esposa que não tem nada a fazer além de chorar pelo telefone.
Apesar de demasiadamente
maniqueísta, o filme constrói bem os eventos que levaram até o desastre,
mostrando como a plataforma estava em mau estado e os dirigentes pouco se importavam com isso
ou com o risco que as operações representavam. As cenas de destruição da
plataforma são competentes e ajudam a transmitir a sensação de perigo e
urgência da situação, nos deixando em suspense se os personagens irão ou não
sobreviver a esta situação. A música, porém, acaba soando demasiadamente
intrusiva, pesando a mão no sentimentalismo nos momentos mais dramáticos quase
que querendo nos obrigar a chorar.
O desfecho do filme soa
praticamente sensacionalista ao exibir as fotos dos indivíduos reais que
morreram no incidente, um expediente apelativo, manipulativo e desnecessário,
já que o fato de ser real não é o que define o engajamento de um espectador com
uma narrativa. Também pesa a mão no ufanismo com as longas tomadas da bandeira
americana tremulando acompanhada de uma música grandiloquente enquanto tudo
pega fogo. Uma maneira nem um pouco sutil de sugerir que a nação sobrevive a
qualquer tragédia, convenientemente esquecendo que apesar do esforço heroico
dos operários em salvar o maior número possível de pessoas, nem a empresa nem
seus executivos foram punidos por qualquer instância governamental pela
negligência criminosa que aconteceu aqui.
Horizonte Profundo: Desastre no Golfo consegue criar bons momentos
de tensão e perigo, mas desaba sob uma abordagem sensacionalista dos eventos
reais que inspiraram o filme.
Nota: 5/10
Trailer:
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