terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Crítica - Dirk Gently's Holistic Detective Agency: 1ª Temporada

Análise Dirk Gently's Holistic Detective Agency


Review Dirk Gently's Holistic Detective Agency
A narrativa policial é um gênero costumeiramente calcado na razão e na objetividade. Detetives como Sherlock Holmes ou Hercule Poirot usam seus conhecimentos e inteligência para desvendar os mais intricados mistérios, sempre conseguindo explicar de modo racional crimes que por vezes parecem até sobrenaturais. O romancista Douglas Adams (criador de O Guia do Mochileiro das Galáxias) resolveu ir na contramão disso ao escrever o romance Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently (e suas continuações). Adams, com seu típico humor seco, nonsense e uma pecha pelo absurdo, tecia uma trama policial na qual nada fazia o menor sentido, tudo acontecia por coincidência e o detetive protagonista resolvia tudo simplesmente por topar acidentalmente nas pistas ou fazendo palpites sortudos sem base em nenhum tipo de informação ou conhecimento. A série Dirk Gently's Holistic Detective Agency tenta trazer para a televisão esse universo absurdo criado por Adams e em geral é bem sucedida, ainda que não consiga chegar no nível de absurdo e nonsense do romancista britânico (para ser justo, praticamente ninguém conseguiria se igualar a Adams).

A trama começa quando o carregador de bagagens Todd (Elijah Wood) encontra um grupo de pessoas brutalmente assassinadas na cobertura do hotel no qual trabalha. A polícia não consegue encontrar nenhuma explicação para o ocorrido além da possibilidade de todos ali terem sido devorados por um tubarão-martelo e começam a suspeitar de Todd. Ele, por sua vez é visitado pelo esquisito e misterioso Dirk Gently (Samuel Barnett), que se apresenta como um "detetive holístico" e o chama para ser seu assistente e resolver o assassinato. A partir de então a dupla embarca em uma trama tresloucada pontuada por trocas de corpos, vampiros de emoções, viagens no tempo, experimentos da CIA e mais uma série de coisas que parecem não fazer sentido e se conectam por pura coincidência.

Samuel Barnett é ótimo ao trazer a natureza constantemente alegre e otimista de Dirkly, sempre nos deixando incertos se ele é extremamente ingênuo, um completo idiota ou um picareta altamente sagaz. Também é eficiente em mostrar que por baixo de toda essa atitude positiva há uma certa melancolia e solidão que aflige o personagem, alguém cuja vida é tão aleatória que anseia pela presença de uma constante. Essa constante acaba sendo o Todd de Elijah Wood e a trama é esperta ao dar mais camadas a ele do que torná-lo um mero assistente. Conforme sabemos o passado de Todd e das besteiras que ele fez, entendemos o que o mantêm próximo e lhe faz ter empatia por Dirkly, já que no fundo são dois sujeitos danificados buscando alguém que os entenda.

A jornada deles é espelhada pela de Bart (Fiona Dourif), que se denomina uma "assassina holística", e Ken (Mpho Koaho), a quem inicialmente toma como refém, mas acaba forjando uma amizade. Há uma cena em que ela conversa com Ken, que está sentado no teto do carro e logo em seguida vemos, em um enquadramento similar, Todd conversando com Dirk enquanto ele senta sobre o carro, colocando as duas duplas em clara oposição. Os assassinatos cometidos Bart são tão absurdos e exagerados quanto os mistérios investigados por Dirk e estão entre as cenas mais engraçadas da série, incluindo um momento em que ela mata um sujeito apenas ao acenar para ele na rua. Como tudo na série, os caminhos dela e de Dirk se cruzam por puro acaso (ela está andando quando ele literalmente grita o próprio nome no meio da rua) e tudo acaba se encaixando de uma maneira bastante bizarra.

Diferente da maioria das narrativas policiais tudo que acontece no caso investigado por Dirk não se dá por uma grande conspiração criminosa (apesar dos vilões tentarem) mas por puro acidente e uma série de coincidências irônicas que acaba juntando uma série de fatores e pessoas aparentemente desconexas entre si. A série brinca bastante com o fato de que praticamente ninguém (nem os protagonistas, nem os vilões, nem a polícia) parecem ter a menor ideia do que está acontecendo. Há uma cena bem divertida na qual Dirk e Todd são capturados pelos vilões e Dirk torce para que os antagonistas esclareçam seus planos, mas o vilão imediatamente enche os dois de perguntas a respeito do que está acontecendo, revelando estar tão perdido quanto os dois investigadores.

A subtrama envolvendo o passado de Dirk com a CIA acaba sendo o ponto menos interessante, já que a ideia de que o detetive possui algum tipo de "habilidade cósmica" que o permite ligar eventos aleatórios é o tipo de explicação que esse universo absurdo não precisa. Afinal, muito da graça deriva do fato de Dirk resolver tudo por puro acidente e sorte, rompendo com as construções lógicas típicas do gênero. Por outro lado, o sargento Friedkin (Dustin Milligan) acaba se revelando um personagem bastante divertido com sua postura exageradamente agressiva, sempre atirando primeiro e nunca se dando ao trabalho de sequer entender o contexto de suas ações.

Essa primeira temporada Dirk Gently's Holistic Detective Agency acerta na sua construção de um mistério no qual tudo é conectado da maneira mais absurda possível e consegue ser uma interpretação bastante digna de Douglas Adams ainda que não alcance a alta qualidade da prosa e do humor do romancista.


Nota: 8/10



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