sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Crítica - Rogue One: Uma História Star Wars

Crítica  Rogue One: Uma História Star Wars


Review  Rogue One: Uma História Star Wars
As histórias de Star Wars no cinema eram sempre baseadas em uma noção em simples de bem e mal, nas quais heróis e vilões eram claramente definidos. Este Rogue One: Uma História Star Wars tenta mostrar uma moral um pouco mais cinzenta, na qual o bem muitas vezes precisa se comprometer para chegar onde precisa. É algo que podia resultar em uma sisudez excessiva, mas acaba funcionando aqui pelo contexto que dá a este universo e como amplia nosso entendimento do que estava em jogo ao início da trilogia original.

A narrativa segue Jyn Erso (Felicity Jones), filha do cientista imperial Galen Erso (Madds Mikkelsen). Seu pai tentou fugir do Império quando viu a arma que planejavam construir, mas depois que sua esposa é morta, acaba cedendo à força do oficial Krennic (Ben Mendelsohn). Anos depois Jyn é chamada pela líder rebelde Mon Mothma (Genevieve O'Reilly) para que ela ajude a contatar o ex-rebelde e extremista Saw Gerrera (Forrest Whitaker), que aparentemente recebeu uma mensagem de Galen sobre as fragilidades da nova superarma imperial. Assim, Jyn parte para encontrar seu pai e as informações para derrotar o império com a ajuda do capitão Cassian Andor (Diego Luna) e o androide K-2SO (voz de Alan Tudyk).

O filme ajuda a compreender como era a situação da Galáxia durante o domínio imperial, mostrando os planetas e cidades como locais sujos, decadentes e opressivos nos quais stormtroopers estão em constante patrulha e prontos a rechaçar com violência qualquer tipo de conduta "subversiva". Ao mesmo tempo, também nos mostra o quanto a Aliança Rebelde se via acuada e com poucos recursos. Diante de um inimigo tão poderoso, não há para eles muitas escolhas em relação aos caminhos rumo à vitória, levando-os muitas vezes a fazer escolhas moralmente questionáveis, mas essenciais para seus esforços de guerra.

Isso é melhor personificado por Saw, um homem que já viveu mais do que devia neste confronto e fez tantas coisas horríveis que parece desejar a morte, e por Cassian, alguém que sempre coloca a missão em primeiro lugar, mas cujos comprometimentos morais começam a pesar na consciência. Além deles, há de se destacar o guerreiro cego Chirrut (Donnie Yen), que parece ser sensitivo à Força, e a extrema sinceridade de K-2SO, que rende os momentos mais engraçados do filme.

Em meio a tantos personagens interessantes, Jyn acaba se perdendo e se torna praticamente uma coadjuvante na própria história. Em parte porque falta carisma e presença a Felicity Jones, constantemente eclipsada em cena pelos outros atores, em parte porque o texto não consegue criar situações que estabeleçam com eficiência as facetas de liderança e inspiração que seriam essenciais para a personagem. Por conta disso, seu grande discurso para a Aliança Rebelde no início do terceiro ato soa forçado e pouco merecido, já que até então a protagonista não tinha feito nada que justificasse a inspiração e devoção que é confiada a ela. Do mesmo modo, quando um dos membros da equipe a chama de "irmãzinha" também não soa como algo merecido, já que eles mal se conhecem e não os vimos desenvolver esses laços de proximidade para que ele se referisse a ela dessa maneira.

Ben Mendelsohn, por sua vez, cria um vilão bem diferente com seu Krennic. Diferente de outros antagonistas da franquia, Krennic não é exatamente poderoso, inteligente ou um grande estrategista. Ele é um burocrata de médio escalão disposto a qualquer coisa para subir na hierarquia imperial e é essa ambição cega e desmedida que o torna tão perigoso, ainda que também possa levá-lo à perdição. Além dele, Darth Vader (voz de James Earl Jones) também dá as caras, embora eu creia que o vilão seria melhor aproveitado se sua presença fosse mais econômica. A cena dele dizimando os rebeldes ao fim do filme é excelente em convocar o quanto ele é poderoso e o temor que inspira em seus inimigos, mas o momento entre ele e Krennic no meio do filme parece puro fan-service e não serve para nada em termos de desenvolvimento da trama ou dos personagens.

O clímax com a invasão à instalação imperial que guarda os dados da Estrela da Morte é surpreendentemente tenso, principalmente se considerarmos que já entramos no cinema sabendo de antemão o seu resultado e o desfecho do grupo (Leia menciona isso em Star Wars: Uma Nova Esperança). Os efeitos especiais são competentes como se espera de uma produção desse nível, mas o que impressiona é o uso da "maquiagem digital" para reproduzir os rostos dos atores da trilogia original, como o do saudoso Peter Cushing como o Grand Moff Tarkin, que por um instante me deixou em dúvida se era uma recriação digital ou um sósia. O 3D, por outro lado, acaba sendo mais um incômodo, já que todo filme tem uma fotografia escura e com baixa saturação de cor e sob as lentes dos óculos as imagens ficam ainda mais escuras do que deveriam, atrapalhando a experiência.

Rogue One: Uma História Star Wars acaba sendo uma bem-vinda adição ao cânone de Star Wars, expandindo muitas ideias presentes nos outros filmes e mostrando como o Império era uma terrível ameaça e os sacrifícios (físicos e morais) feitos pelos rebeldes. É uma pena que a protagonista não seja tão interessante quanto deveria, mas os coadjuvantes carismáticos acabam compensando.


Nota: 8/10

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