O primeiro De Volta ao Jogo (2014) pegou todo mundo de surpresa com suas
excelentes cenas de ação e a criação de um universo bastante singular habitado
por assassinos profissionais. Com um padrão tão alto de comparação, era natural
duvidar de este John Wick: Um Novo Dia
Para Matar conseguiria ser tão bom quanto o antecessor, mas o resultado é
bastante satisfatório.
A trama começa um pouco depois do
fim do primeiro filme, com John (Keanu Reeves) perseguindo o resto dos mafiosos
russos em busca de seu carro. Ao recuperá-lo, ele poupa a vida do novo líder da
máfia russa e propõe uma trégua, que é aceita. Isso, no entanto, não significa
o fim dos dias de luta de John, já que ao saber de seu retorno, um antigo
conhecido de seus dias de profissional, Santino (Riccardo Scamarcio) aparece em
sua porta para cobrar uma antiga dívida de sangue. Segundo as regras da
sociedade de assassinos, John é obrigado a honrar a dívida, caso contrário será
considerado traidor e caçado sem perdão. Como de costume, o protagonista é
traído e resolve ir atrás daqueles que o prejudicaram, o que o coloca na mira
de vários assassinos.
O filme expande o criativo
submundo de matadores profissionais apresentado anteriormente, deixando mais
claro como ele funciona e as regras que o regem. Da informação de que há um
"conselho diretor" formado por representantes dos principais grupos
criminais do mundo, passando pela central telefônica no qual os contratos são
solicitados e divulgados. É o tipo de coisa que poderia entrar facilmente no
terreno do cartunesco, mas o diretor Chad Stahelski e o roteirista Derek
Kolstad conseguem imprimir um senso de realismo a todo esse exagero, tornando
esse universo bastante crível.
Somos apresentados a um grande
grupo de personagens bastante interessantes e exóticos, que conseguem ficar na memória
mesmo com pouco tempo de tela, já que o filme é direto e claro, ainda que
econômico, ao apresentar suas motivações, habilidades e conhecimentos.
Conhecemos o "Rei dos Mendigos" (Lawrence Fishbourne) e sua rede de
mendigos vigias/assassinos e pombos-correio, a assassina muda Ares (Ruby Rose,
a Stella de Orange is the New Black),
o pragmático Cassian (Common), que enfrenta John não por uma questão pessoal,
mas para restaurar a honra; ou o divertido Sommelier (Peter Serafinowicz). Isso
sem falar naqueles que retornam, como o "gerente" Winston (Ian
McShane) ou o mecânico Aurelio (John Leguizamo).
As cenas de ação continuam
excelentes, com poucos cortes, planos contínuos, que reforçam a unidade e
coesão dos embates. A presença constante de Keanu Reeves em cena fazendo boa
parte das façanhas do personagem contribui para a impressão de John Wick como
um sujeito extremamente letal e de inigualável vigor e força de vontade. Como
antes, o filme não economiza no sangue e na violência gráfica, nos deixando perceber
o impacto e a gravidade da brutalidade que Wick libera sobre seus oponentes,
incluindo um momento em que ele finalmente mostra como é possível matar duas
pessoas usando apenas um lápis, como muitos personagens comentam ao longo do
primeiro e deste filme. O diretor Chad Stahelski continua a criar momentos
memoráveis cheios de energia e intensidade, da perseguição de carros no início
ao embate final em uma galeria de espelhos que remete ao clímax de Operação Dragão (1973) com Bruce Lee.
Reeves faz de Wick um homem que
redescobre seu propósito para a violência, ainda que (como outros personagens
do filme) exiba uma certa medida de melancolia em relação à vida de matança que
levou. A morte da esposa e os eventos do primeiro filme ainda pendem sobre sua
cabeça. O luto, a dor e a falta de motivos para seguir em frente são, de alguma
forma, o que impelem John em sua jornada de vingança e reparação. Na mente dele
qualquer resultado é favorável: se vencer terá eliminado seus inimigos, se
perder finalmente poderá ter a paz que tanto deseja. Esse sentimento que não há
mais nada a perder ajuda a torná-lo ainda mais implacável.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar entrega o que toda boa
continuação deveria fazer, expandindo o universo, aprofundando seu escopo,
trazendo novos e interessantes personagens ao mesmo tempo que continua a
desenvolver o arco dramático de seu protagonista e realiza novas e
espetaculares cenas de ação.
Nota: 8/10
Trailer
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