Mais de uma vez ao longo de sua
duração Logan faz referências
(inclusive o exibe na televisão em uma cena) ao clássico western Os Brutos Também Amam
(1953). Um filme que, de certa forma, fala sobre como a violência, independente
para qual fim seja usada, acaba também afetando aquele que a comete. A mácula
da violência desumaniza, afasta do resto da humanidade literal e metaforicamente.
A jornada do Wolverine (Hugh Jackman) no filme é exatamente essa, um homem que
levou uma vida de violência e vive solitário, afastado do mundo, lamentando
tudo o que foi, tudo o que fez e imaginando se algum dia encontrará paz.
A trama do filme se passa no
futuro, com um Wolverine mais velho. Logicamente, a violência acaba
eventualmente retornando à vida do protagonista depois que ele encontra a
menina Laura (Dafne Keen), que está sendo caçada por um grupo de mercenários
liderados pelo sádico Pierce (Boyd Holbrook). Logan então tenta fugir da
perseguição, levando consigo a menina e um combalido professor Xavier (Patrick
Stewart), que está perdendo o controle de seus poderes por culpa de uma doença
degenerativa.
Hugh Jackman é preciso ao
construir Logan como um homem assombrado pelas coisas que fez e não suporta
mais a própria existência nem vê nela um propósito além de cuidar de Xavier e
manter seus poderes sob controle. O filme entende que alguém com uma vida tão
longeva e marcada por trauma e violência não tem como levar uma vida como a das
demais pessoas, ele está danificado demais. A novata Dafne Keen se sai muito
bem ao convocar a selvageria nata de Laura, alguém que não tem a menor ideia de
como o mundo funciona e pouco conhece além de violência. Mesmo sem falar nada
durante boa parte do filme, a garota consegue dizer muito com seu olhar e
linguagem corporal e é possível perceber que por trás de sua conduta bruta, ela
é em essência uma garotinha solitária em busca de afeto e conexão humana.
O diretor James Mangold, que
também dirigiu Wolverine: Imortal
(2013), conduz tudo de uma maneira mais contida do que a maioria dos filmes de
super-herói, sendo mais próximo de um road
movie de uma família que tenta se conectar (ainda que perseguidos por
mercenários implacáveis). Mangold vai aos poucos exibindo a aproximação de
Logan e a garota e como ele vê muito de si nela. Se no início ela lhe parece um
estorvo, conforme a trama a avança ela se torna sua redenção, a chance de
deixar algo melhor para o mundo e de impedir que alguém parecida com ele siga
pelo caminho que lhe trouxe somente dor e arrependimento.
Algumas das pessoas com quem
Logan se encontra no meio da estrada aparecem de maneira muito conveniente para
a trama, sempre surgindo alguém no meio do caminho que por coincidência tem a
oferecer exatamente o que os personagens precisam para desenvolverem suas
relações. Um exemplo é a família de fazendeiros, que não tem outro propósito
além de oferecer ao protagonista o vislumbre de uma "vida normal" ao
mesmo tempo que nos lembra os motivos disso não estar ao seu alcance. Não
chega, no entanto, a ser um grande problema, visto que há um senso real de
progressão e aprendizado por parte dos personagens e os eventos de fato
reverberam neles ao longo do filme.
Como este é um filme sobre duas
pessoas com garras afiadas e sobre as marcas da violência, evidentemente que os
personagens não ficam apenas na conversa e o filme tem sua boa dose de ação.
Mangold aproveita bem a alta classificação indicativa e não se furta a exibir
todo o sangue e mutilação que aconteceriam se alguém como o Wolverine ou outros
mutantes realmente existissem. Os embates dele e a Laura contra os mercenários
nos fazem sentir o peso e a violência de cada golpe de uma maneira que nenhum
outro longa-metragem do personagem conseguiu.
Ao fim, Logan é uma despedida bastante digna para o personagem. Cheia de
fúria e emoção, a trama entende muito bem quem ele é e o que o move, criando um
desfecho poderoso que provavelmente vai levar muitas pessoas às lágrimas.
Nota: 9/10
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