quarta-feira, 8 de março de 2017

Crítica - Kong: A Ilha da Caveira

Análise Kong: A Ilha da Caveira


Review Kong: A Ilha da Caveira
Misturar um filme de monstro como King Kong (que já teve várias versões, a mais recente conduzida por Peter Jackson em 2005) com filmes sobre a guerra do Vietnã e seu desencanto como Apocalypse Now (1979) e Platoon (1986) parecia uma ideia bizarra demais para dar certo. É, no entanto, exatamente isso que este Kong: A Ilha da Caveira faz e surpreendentemente bem, por sinal.

A trama se passa em 1973 quando um satélite dos Estados Unidos capta uma ilha até então desconhecida. Os pesquisadores Bill Randa (John Goodman) e Houston Brooks (Corey Hawkins) creem que a ilha pode guardar segredos intocados pelo homem e requisitam auxílio militar para sua expedição. A dupla recebe o pelotão liderado pelo coronel Packard (Samuel L. Jackson) e também contrata o ex-militar britânico James Conrad (Tom Hiddleston) por sua experiência em rastreamento e sobrevivência. Completa o time a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson), que viaja junto para descobrir os segredos que o lugar guarda. Os helicópteros do grupo são prontamente abatidos pelo gigantesco Kong assim que chegam na ilha e o coronel Packard fica obcecado em destruí-lo, mas o subsolo da ilha guarda ameaças ainda mais perigosas que o gorila.

O visual e o ritmo de trama remete aos tons saturados de laranja usados por Coppola em Apolypse Now para ressaltar o calor causticante do sol, bem como a intensidade das bombas e das chamas de napalm, assim como também reproduz os ambientes pantanosos e tomados por névoa retratados pelo diretor. Isso não significa, no entanto, que este filme se leve tão a sério quanto os citados acima. Ele tem sua parte de comentário político, usando a situação dos anos 70 para refletir a atual (justificando assim a escolha desse período histórico), incluindo um instante em que um personagem jocosamente diz que aquele é o pior momento da Casa Branca, ou um breve plano em que um boneco de Richard Nixon é enquadrado de cabeça para baixo conforme o helicóptero cai. A personificação disso fica por conta do personagem de Samuel L. Jackson, um militar que trata tudo que é diferente e não compreende como um inimigo a ser aniquilado, funcionando como uma metáfora para a mentalidade da era Nixon e também da atual era Trump.

O discurso não chega a ser exatamente explícito e fica mais numa camada subtextual, afinal ainda é um filme sobre monstros gigantes saindo na porrada e não decepciona nesse quesito. A anatomia do Kong remete mais ao visual do filme de 1933 de uma criatura mais forte e robusta do que a abordagem mais fotorrealista de Peter Jackson, que o concebia como uma versão maior de um gorila comum. O Kong desse filme é mais uma criatura do que um animal comum, inclusive resistindo sem muito esforço às metralhadoras dos helicópteros, e o filme consegue explorar muito bem seu poder, selvageria e brutalidade, em especial numa cena em que ele esmaga um polvo gigante ou no embate final contra o líder dos "lagartos caveira", cujo visual é bem macabro.

Os personagens humanos também tem seus bons momentos, em especial o sufocante tiroteio em meio ao cemitério dos Kongs e o ataque inicial à ilha. A questão é que a maioria deles não é lá muito interessante. O personagem do Tom Hiddleston, por exemplo, é apresentado como um homem bruto e direto quando o vemos em um bar pela primeira vez, mas tem pouco espaço para ser esse grande herói de ação no restante do filme. O mesmo pode ser dito da fotógrafa interpretada por Brie Larson, que tem muito pouco a fazer durante a trama e não fosse o carisma dela e de Hiddleston seus personagens seriam bem esquecíveis. Na verdade, os únicos dignos de nota são o tresloucado veterano da Segunda Guerra vivido por John C. Reilly, responsável pelos momentos mais divertidos do filme, e o coronel interpretado por Samuel L. Jackson. Sim, ele é de certa forma aquele clichê do militar belicista que é usado o tempo todo por esse tipo de filme, mas Jackson consegue dar intensidade e gravidade suficiente ao personagem para que ele escape da caricatura.

O filme ainda faz um bom uso do 3D, trabalhando a profundidade e proximidade de campo para ressaltar a vastidão dos ambientes e o tamanho das criaturas. Mesmo em cenas escuras a paleta de cores intensas evita que as lentes dos óculos atrapalhem aquilo que vemos. Parece algo simples, mas dada a quantidade de filmes que é exibida em 3D, mas não orienta sua fotografia para tal (como as recentes versões hollywoodianas de Godzilla ou Tarzan) isso é algo a ser elogiado.

Kong: A Ilha da Caveira funciona pelas ótimas cenas de ação, pelo carisma dos atores e o modo como usa a ambientação de época, mesmo que os personagens sejam pouco desenvolvidos e a trama seja o tradicional "homem mexe com forças que não entende e se dá mal por isso".

Nota: 7/10


Obs: Há uma cena pós créditos que faz menção a um certo réptil gigante

Trailer

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