O ator Adam Sandler já admitiu
mais de uma vez que a escolha dos projetos que faz na sua produtora Happy
Madison é muitas vezes motivada pelo lugar no qual ele queria passar férias com
sua família. Assistindo esse Sandy Wexler,
nova produção da parceria dele com a Netflix, fica a impressão de que seus
motivos para realizar chamar seus amigos de Hollywood para grandes festas e
mandar a conta para a empresa de streaming
sob a desculpa de que estava fazendo um filme.
A trama se passa nos anos 90 e
segue o personagem título Sandy Wexler (Adam Sandler), um agente de talentos de
quinta categoria que tenta se dar bem em Hollywood. Sua sorte parece mudar
quando seu caminho cruza com a cantora Courtney (Jennifer Hudson), sua primeira
cliente realmente talentosa e com potencial para se tornar uma grande estrela. Sandy
acaba se apaixonando por ela, mas percebe que ele talvez não seja o melhor
agente para torná-la famosa.
Sem ritmo, o filme demora a
engrenar, apresentando os vários clientes de Wexler em cenas descoladas da
narrativa principal do filme e que mais parecem esquetes soltas. Mesmo quando
ele e Courtney finalmente se encontram e percebemos que este será o fio
condutor do filme, ainda assim a narrativa insiste em longas interrupções no
fluxo da trama para mostrar esses mesmos clientes repetindo as mesmas situações
que já vimos antes (e que não eram tão engraçadas assim), inchando o filme em
uma longuíssima minutagem de mais de duas horas. Quando ele e Courtney se
separam, imaginamos que o foco irá mudar para o astro de luta livre (Terry
Crews) que ele agencia, mas a cantora volta à sua vida em um completo deus ex machina e mais uma vez vai
embora de modo totalmente gratuito. Aqui e ali o filme nos mostra várias
celebridades em uma grande festa narrando o que acontece com Sandy, na maioria
dos casos as narrações são completamente redundantes, dizendo o que as imagens
já estão nos mostrando, e cuja graça é simplesmente apontar e dizer "olha,
é celebridade x".
Sandler interpreta Sandy com a
mesma voz fanha e boca torta que interpretou os protagonistas de filmes como Little Nicky: Um Diabo Diferente (2000),
O Rei da Água (1998) e tantos outros.
Na verdade, nas comédias que produz Sandler sempre costuma fazer o mesmo de
dois personagens: ou é esse tipo fanho de boca torta ou é o sujeito
"bonzão e infalível" como em Zerando a Vida (2016), Ridiculous 6(2015) ou Zohan: O Agente Bom de Corte
(2008). Para além da composição preguiçosa de Sandler, o personagem é
prejudicado pela inconstância do roteiro em como concebê-lo. Em uma cena ele é
completamente estúpido e incapaz de resolver os problemas dos clientes, em
outra ele age com extrema engenhosidade para salvar a carreira de outro. Em um
momento sua conduta demonstra que ele não presta atenção nos seus clientes,
para que logo a seguir alguém lhe diga o quanto ele se importa, apenas para
logo depois ele volte a agir como se não se importasse.
O humor, ou melhor, o
"humor", consiste muitas vezes de gags
que exploram as inaptidões de Sandy em seus clientes. Em uma cena a graça
consiste nele se esbarrar no interruptor de luz do estúdio, já em outra a piada é que o engenheiro de som de um
estúdio esquece de gravar o canto de Courtney, isso sem mencionar a repetição
de cenas com ele sendo perseguido pelos cachorros na casa da qual é inquilino.
Nenhuma dessas situações é particularmente engraçada e ainda por cima são
esvaziadas de humor pela insistência do filme em estendê-las mais do que
necessário. Igualmente cansativas são as cenas envolvendo outros clientes de
Wexler, como o trapezista que sempre cai e se machuca ou o lutador cujo grande
oponente é um homem gordo que tenta sentar em sua cabeça. O momento em que o
ventríloquo controla Wexler durante uma negociação depois que ele desmaia é
meramente um plágio exagerado de Um Morto
Muito Louco (1989). O filme ainda desperdiça o potencial cômico da época em
que se passa, se limitando a mostrar tecnologias obsoletas, como um bipe e um
celular "tijolão", como se apenas ver isso fosse inerentemente
engraçado, ou então comentando a respeito de algo que pode fazer ou não sucesso
no futuro quando o resultado hoje é o oposto do que os personagens dizem, a
exemplo de quando Sandy fala que o Starbucks nunca daria certo.
Esse Sandy Wexler pode não ser tão desprezível quanto os filmes
anteriores de Sandler, mas ainda assim é uma narrativa sem ritmo e sem graça
encabeçada por um protagonista que trabalha no piloto automático. Poderia
render uma divertida farsa sobre os bastidores do mundo do entretenimento, mas
prefere se contentar com um humor físico raso e pouco criativo.
Nota: 2/10
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