A temporada de estreia de Master of None inicialmente não tinha me
atraído. Não era lá grande fã do comediante Aziz Ansari e o primeiro episódio
não me deixou uma boa impressão, parecia mais uma daquelas séries "quero
ser Seinfeld", falando sobre
adultos imaturos e despreparados fazendo "nada" por Nova Iorque.
Então, não me lembro exatamente o motivo, assisti ao segundo e a série
imediatamente me ganhou na gag em que
Dev (Aziz Ansari) recusava ajudar o pai com seu iPad e mostrava um rápido flashback dos perrengues que o pai dele
passou desde a infância até se estabelecer nos Estados Unidos, contrapondo-os
com a infância fácil do personagem. Essa mistura entre trágico e cômico, bem
como sua capacidade de confrontar seus personagens por seu comportamento
imaturo, acabou funcionando muito bem e criando uma jornada coesa sobre um
sujeito que tenta se descobrir apesar de não saber exatamente o que quer.
Essa segunda temporada começa
mais ou menos onde a primeira terminou, com Dev na Itália estudando culinária.
A partir daí acompanhamos as andanças do personagem em busca de propósito e
realização tanto na Itália quanto nos Estados Unidos, quando eventualmente
retorna para o país.
A série se constrói sob essa
sensação de errância, de um sujeito à deriva em busca de significado,
relacionamentos e comidas gostosas, conseguindo ser competente em criar essa
sensação de naturalismo, como se realmente estivéssemos vendo a vida de alguém,
com toda a sua falta de planejamento e suscetibilidade ao acaso se desenrolar
diante de nossos olhos. Dessa vez, no entanto, Ansari e o co-criador Alan Yang
se mostram mais confortáveis em experimentar com a linguagem e a maneira como
retratam o vaguear do personagem e os modos como os pequenos momentos do
cotidiano formam sua personalidade.
O começo da temporada, por
exemplo, todo filmado em preto e branco remete a filmes europeus (italianos em
especial) que Dev parece tanto gostar, como se para ele sua vivência na Itália
fosse como estar em um filme do neorrealismo. Em outro episódio, a trama começa a
acompanhar figuras aparentemente desconectadas em Nova Iorque, incluindo uma
garota surda cujo segmento é todo sem som, ilustrando a maneira como a
personagem experimenta o mundo. Um episódio é estruturado a partir dos vários
encontros de Dev através da montagem alternada, passando de um para outro
durante as diferentes etapas do passeio (ele as leva para o mesmo lugar) para
mostrar como cada uma de suas parceiras reage a ele.
O melhor episódio da temporada é
talvez aquele que mostra a relação dele com sua amiga Denise (Lena Waithe) e se
estrutura ao redor dos vários almoços de Ação de Graças que Dev teve com a
família de Denise desde a infância. Ao longo desses vários almoços vemos não
apenas a amizade entre Dev e Denise, mas o modo como a família dela lida com o
fato dela sair do armário. Angela Bassett faz uma ponta como a mãe de Denise e
as cenas entre as duas são carregadas de sentimento e sensibilidade, conforme
ela se esforça para entender a filha.
Além de Bassett a temporada conta
com algumas outras participações especiais como Bobby Cannavale como um chef bonachão com um comportamento
bastante inapropriado ou H. Jon Benjamin (a voz do Archer) como um ator amigo de Dev. O que sustenta essa narrativa,
no entanto, é Aziz Ansari. Tudo bem que essa coisa do "adorável
perdedor" já foi explorada à rodo pela comédia (além de Seinfeld a igualmente novaiorquina Louie também investia nessa seara), mas
Ansari traz uma doçura e honestidade ao personagem, que é difícil não se deixar
levar por suas andanças em busca de autorrealização ou de bons lugares para
comer. Ele também tem uma ótima química com o resto do elenco, incluindo Alessandra
Mastronardi com quem constrói uma relação encantadora.
Assim sendo, essa segunda
temporada de Master of None funciona
como um agridoce passeio pela vida de seu protagonismo. Tal qual a vida não tem
exatamente um arco bem delineado ou um ponto central, mas é eficiente em
construir o naturalismo do vaguear de seus personagens, que sempre os leva (e a
nós) para lugares ou estruturas narrativas inesperadas.
Nota: 8/10
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