Levemente baseada no programa de
televisão oitentista de mesmo nome, a primeira temporada da série GLOW tenta imaginar como seriam os
bastidores dessa produção e como era a vida das artistas e lutadoras que
trabalhavam nela, visto que era um período com poucos papéis de protagonistas
femininas.
A narrativa acompanha Ruth
(Alison Brie) uma atriz desempregada e sem dinheiro que aceita participar de um
teste de elenco que pede garotas exóticas. Chegando no teste ela encontra o
diretor Sam Sylvia (Marc Maron) e descobre que ele está selecionando lutadoras
para um programa de luta-livre (ou wrestling)
todo protagonizado por mulheres (GLOW é uma sigla para"Gorgeous Ladies Of Wrestling", algo como "belas mulheres do wrestling" em português). Como não tem outra opção, ela aceita o
trabalho e aos poucos vai passando a gostar do ofício. As coisas se complicam
quando uma antiga amiga de Ruth, Debbie (Betty Gilpin), se junta como estrela
do show, já que Ruth dormiu com o marido de Debbie.
A série, produzida por Jenji
Kohan (criadora de Orange is the New Black) usa da história das lutadoras para falar, com uma boa dose de humor,
de temas como o protagonismo feminino, o machismo no ramo do entretenimento e
também sobre os problemas causados por representações estereotipadas na ficção.
No episódio final, por exemplo, Arthie (Sunita Mani) entra para lutar vestida
de terrorista, provocando a ira do público que joga latas no ringue, ferindo
ela e outras lutadoras. A ideia é mostrar como o reforço através da mídia de
certas impressões sobre uma determinada população pode indiretamente estimular
o ódio e a agressividade contra essas minorias. O roteiro também é esperto ao
perceber como as narrativas criadas por esses programas de luta livre, seus
mocinhos e vilões, se assemelham muito às tramas de melodramas folhetinesco ou
telenovelas, apenas usando o formato de luta para vender essas tramas a um
público masculino.
A recriação da época oitentista é
extremamente competente, não só nos figurinos coloridos, cabelos extravagantes
e luzes neon, como também no constante uso de músicas cheias de sintetizadores
e sucessos de glam rock (ou glam metal) da época para construir o
clima do período. Os eventos da época também são usados na trama, a onda conservadora do governo Reagan e seu impacto na sociedade dos EUA é algo constantemente explorado ao longo da temporada. Do mesmo modo, alguns acontecimentos são usados para fins cômicos, como o
lançamento de De Volta Para o Futuro (1985),
que acaba sendo similar a um filme que Sam planejava fazer, frustrando os
planos do diretor.
O elenco, principalmente as
lutadoras, tem uma boa química entre si e convencem na construção dos laços de companheirismo
entre elas, que se aproximam conforme vão se conhecendo e aprendem a contar
umas com as outras. Alison Brie traz energia e carisma à Ruth, uma mulher que
não aceita não como resposta e parece ter sempre uma reposta mordaz na ponta
língua. Os diálogos, por sinal, divertem pelas boas sacadas ou mesmo pelo puro nonsense de frases como "um chute é
como um soco, com os pés".
Assim sendo, com seu elenco
entrosado, texto afiado e um aproveitamento inteligente do período oitentista,
a primeira temporada de GLOW acaba
sendo bem divertida.
Nota: 8/10
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