A quarta temporada de Orange is the New Black terminou com
gancho que tornou longa a espera por uma próxima temporada, já que a promessa
de uma rebelião das detentas prometia ainda mais tensão e novas oportunidades
para discutir os problemas do sistema prisional dos Estados Unidos, algo que a
temporada anterior começava a fazer. A decisão de manter todos os 13 episódios
contidos nos poucos dias de rebelião, porém, nem sempre consegue manter o
ritmo. A partir deste ponto, alguns SPOILERS são inevitáveis.
A trama começa exatamente onde a
temporada anterior começou com a arma que o guarda Humphrey (Michael Torpey)
trouxe ilegalmente para dentro da prisão caindo nas mãos de Daya (Dascha
Polanco), que rende os guardas e dá início à rebelião. A partir daí
acompanhamos as tensões entre os vários grupos de presidiárias, os reféns
tomados por elas e também com as autoridades que tentam retomar o controle do
presídio. Entre as líderes está Taystee (Danielle Brooks), que exige a prisão
do guarda responsável pela morte de Poussey (Samira Wiley) e melhorias para a
prisão.
A temporada trata de temas
delicados como o tratamento dos indivíduos dentro do sistema prisional,
desigualdades sociais e a necessidade de grupos marginalizados falarem por si.
Como de costume na série, tudo isso é tratado com maturidade, sem soluções
fáceis e muitas vezes evitando maniqueísmos. Os flashbacks ajudam a compreender melhor como alguns personagens se tornaram
daquela, muitas vezes lançando novas perspectivas sobre eles e adicionando-lhes
camadas de complexidade. É possível, por exemplo, entender como Piscatella
(Brad William Henke) se tornou daquele jeito e, embora isso não justifique
completamente seu sadismo e brutalidade, nos faz ver nele uma humanidade e
vulnerabilidade que até então nunca tínhamos visto.
O mesmo pode ser dito da
executiva Linda (Beth Dover), que fica dentro do presídio depois que a rebelião
começa e acaba se fingindo de detenta para não virar refém. Não só descobrimos
seus erros do passado, fazendo-a ir além do clichê da engravatada sem
escrúpulo, como seu tempo na prisão lhe serve como um exercício de alteridade,
fazendo-lhe experimentar em primeira mão as consequências de suas decisões
corporativas e como estas impactam negativamente as presas.
Essa temporada, no entanto, acaba
pertencendo mesmo a Danielle Brooks e seu percurso em lidar com a morte de sua
melhor amiga na prisão. Movida pela dor e raiva de ver o assassino de Poussey
sair livre, ela toma as rédeas da rebelião e tenta negociar com o governo.
Mesmo quando tenta parecer compenetrada e séria, Brooks permite que vejamos
sempre a dor que Taystee tenta conter e a impele a agir, muitas vezes tomando
decisões pouco objetivas. O momento em ela dá vazão aos seus sentimentos em uma
das últimas cenas da temporada é simplesmente devastador conforme a fachada
durona que ela vestiu ao longo da temporada se desfaz e a vemos ser tomada por
uma dor imensurável.
A rebelião, no entanto, também
acha espaço para momentos cômicos. De Flaca (Jackie Cruz) e Maritza (Diane
Guerrero), ou Flaritza para os shippers,
se tornando webcelebridades ao arco de Red (Kate Mulgrew) louca de drogas (e
sem saber que as estava tomando) enquanto busca provas contra Piscatella.
A decisão de conter toda
temporada no espaço de pouquíssimo tempo por vezes prejudica o ritmo, já que
alguns episódios acabam soando como meros fillers.
Aquele focado em Leanne (Emma Myles) e Angie (Julie Lake) obrigando os reféns a
participar de um show de talentos é bastante dispensável. O mesmo pode ser dito
do que parodia filmes de terror ao colocar Piscatella dentro da prisão
capturando as detentas uma a uma. Embora a brincadeira com as convenções de
filmes como Sexta Feira 13 ou Halloween rendam alguns momentos
divertidos e outros tensos, o episódio acrescenta pouco à trama, já que a
revelação de seus planos e o confronto com ele é empurrado para o episódio
seguinte.
A despeito de alguns problemas no
fluxo narrativo, essa quinta temporada de Orange
is the New Black continua produzindo uma afiada e madura crítica social,
personagens complexos e equilibrando tudo isso com um farsesco senso de humor.
O gancho que encerra essa temporada certamente tornará difícil esperar por um
ano até a chegada da sexta.
Nota: 8/10
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