A boneca Annabelle chamou atenção
em sua breve, mas marcante presença em Invocação
do Mal (2013) e logo recebeu seu filme derivado no decepcionante Annabelle (2014). O anúncio de uma
sequência que funcionaria como prelúdio não foi muito animador, uma vez que o
primeiro tinha sido tão fraquinho e o diretor David F. Sandberg já tinha
desapontado no fraco Quando as Luzes se Apagam (2016). A verdade, no entanto, é que Annabelle 2: A Criação do Mal acerta em tudo que o anterior não
conseguiu, ainda que não sai do traçado já estabelecido pelo primeiro e segundo Invocação do Mal.
Na trama, um fabricante de
bonecas, Samuel (Anthony LaPaglia), e sua esposa, Esther (Miranda Otto), perdem
a filha pequena em um trágico acidente. Doze anos depois, Esther está doente
demais para sair da cama e Samuel decide ceder a casa para que um orfanato de
meninas liderado pela freira Charlotte (Stephanie Sigman). Brincando pela casa
as crianças encontram uma misteriosa boneca e coisas sinistras começam a
acontecer.
Assim como os dois Invocação do Mal, o filme entende que
muito do terror está no desconhecido, no não visto. Durante boa parte da
narrativa, o filme esconde sob sombras, lençóis ou deixa fora de quadro as
criaturas e espíritos que vagam pela casa. A ameaça pode estar em qualquer
canto, sob qualquer móvel e isso cria uma sensação real de tensão. Ao mostrar
somente as mãos sombrias da entidade que se apossa da boneca, o filme nos faz deixa
intrigados e temerosos pelo que aquela criatura pode ser ou qual a sua
aparência. De maneira semelhante, a imagem desfocada de algo se movendo atrás
de uma das meninas é igualmente eficiente em despertar tensão.
O trabalho de câmera dá um senso
de coesão espacial. Na primeira vez que as garotas entram na casa, a câmera as
acompanha em um plano contínuo que serve não apenas para dar ao público a
sensação de que aquele é um espaço real (e não um conjunto de cenários
desconectados uns dos outros), como também compreender a lógica daquele espaço,
que sala ou quarto se liga ao quê. Isso é importante quando as ameaças se
agravam e as personagens correm para sobreviver, pois sabemos quais tipos de
obstáculos as aguardam e tememos por elas. Por outro lado, ocasionalmente se entrega
a sustos súbitos óbvios. Toda vez que a câmera fica parada por tempo demais ou
se move muito lentamente em zoom nos
rostos dos personagens fica evidente que algo vai saltar em cima deles. Uma vez
que já sabemos exatamente quando a ameaça vem, parte do suspense e do temor se
esvai.
Não há muito tempo dedicado a
desenvolver as personalidades das crianças do orfanato e o filme claramente as
usa como uma muleta afetiva. Afinal de contas, ninguém (ou a maioria das
pessoas, imagino) quer ver crianças serem dilaceradas por monstros sombrios,
então o público automaticamente torce por elas, mas afora esse mínimo de
empatia não há nada muito interessante nelas. Anthony LaPaglia, por sua vez,
traz certa ambiguidade a Samuel, deixando em dúvida inicialmente se ele é
simplesmente um pai devastado pelo luto ou se é
um homem sinistro que atraiu deliberadamente as órfãs para uma ameaça
macabra.
Deixando alguns ganchos para
outros derivados e amarrando as pontas soltas entre esse e o primeiro filme, Annabelle 2: A Criação do Mal consegue
oferecer uma experiência eficiente de terror, ainda que não muito diferente do
que já foi feito no universo iniciado em Invocação
do Mal.
Nota: 7/10
Obs: Há duas cenas adicionais durante os créditos
Trailer
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