Apesar do pano de fundo histórico
e uma trama que remete a antigas tramas de espionagem, este Atômica é muito mais um filme de ação do
que um suspense histórico. Isso, claro, não é um problema e o resultado é bem
enérgico e divertido, ainda que não reinvente a roda.
A trama se passa em 1989, meses
antes da queda do muro de Berlim. A espiã britânica Lorraine Broughton
(Charlize Theron) é enviada à capital alemã para recuperar uma lista contendo
os nomes e operações de todos os agentes britânicos e soviéticos e descobrir
quem é o agente duplo britânico que está vendendo informações para os inimigos.
É uma premissa simples e
funcional, mas que o filme insiste em complicar mais do que deveria enchendo a
narrativa de traições em cima de traições e constantes reviravoltas ao ponto em
que tudo fica um pouco enfadonho e confuso. Eu sei que personagens tentando enganar
uns aos outros faz parte da estrutura de filmes de espionagem, mas não é
preciso apresentar uma reviravolta em cada cena. Afinal, se a todo momento o
público tem o tapete puxado sob seus pés, não há razão para ficarmos tensos ou
em suspense, pois não importa o que aconteça, a cena seguinte sempre tentará
ser ainda mais surpreendente ao ponto em que o impacto das reviravoltas acaba
esvaziado.
O contexto oitentista
praticamente só é explorado no uso da música. Trazendo faixas como Cat People de David Bowie (que Tarantino
já tinha usado em Bastardos Inglórios),
Father Figure de George Michael ou Fight The Power do Public Enemy, a
música contribui para a imersão na atmosfera cultural da época.
Mesmo quando a trama deixa de ser
interessante, Charlize Theron é marcante e poderosa o suficiente para nos
manter engajados. Sua espiã é envolta por uma aura de mistério e uma expressão
impassível que sempre nos deixa intrigados quanto as suas motivações e se ela
realmente está falando a verdade. A atriz também é eficiente ao trazer a faceta
implacável de sua personagem, que elimina seus inimigos com a mesma intensidade
que Keanu Reeves nos filmes de John Wick.
James McAvoy, por sua vez,
diverte como um hiperativo agente britânico que serve de contato para Lorraine.
Sempre parecendo estar bêbado ou sob efeito de drogas, McAvoy traz ao agente
Percival a mesma energia insana e imprevisível que deu ao seu protagonista em Filth (2013). Sofia Boutella, que
recentemente viveu a criatura-título de AMúmia), entretanto, tem pouco a fazer além de servir de interesse romântico
para a protagonista.
Se há uma coisa na qual o filme é
bem sucedido, além do trabalho de Theron, é nas cenas de ação. Intensas,
brutais e sem economizar na violência, elas criam uma sensação palpável de
urgência e perigo. O filme dá tempo para mostrar Lorraine sentindo o impacto de
cada pancada e ferimento recebido e seus adversários se mostram igualmente
hábeis ao invés de serem facilmente despachados. O diretor David Leith, que
co-dirigiu o primeiro filme do John Wick ao lado de Chad Stahelski, pinta a
ação com os mesmos tons de neon usados na película do assassino vivido por
Keanu Reeves. A pancadaria ainda é beneficiada pela entrega de Charlize Theron
em fazer suas cenas de ação, conferindo mais credibilidade e força aos
combates. A presença da atriz em cena é ressaltada pela opção de usar poucos
cortes e ocasionalmente utilizando planos-sequência (ou criando a ilusão de que
não há cortes) como na brutal luta na escadaria.
Deste modo, Atômica se eleva acima do banal graças à força de Charlize Theron e
ótimas cenas de ação.
Nota: 7/10
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