sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Crítica - Death Note

Análise Death Note


Review Death Note
Confesso que me aproximei deste Death Note sem conhecer muito do anime ou do mangá que o inspirou. Não tenho, portanto, como falar sobre o quanto é fiel ou deixa de ser ao material original, mas mesmo para alguém que conhece pouco da obra que inspirou essa produção original da Netflix o resultado não foi muito positivo.

A trama se passa nos Estados Unidos, na cidade de Seattle, e acompanha o jovem Light Turner (Nat Wolff) que acaba ficando em posse de um caderno místico chamado Death Note. O caderno pode matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito em suas páginas, desde que o usuário também conheça o rosto da pessoa. Light decide usar o caderno para matar criminosos e acaba recrutando a colega Mia (Margaret Qualley) para ajudá-lo. Para que as mortes não sejam ligadas a ele, Light decide adotar o codinome Kira, que logo passa a ser celebrado e temido ao redor do mundo. Os crimes de Kira chamam a atenção do genial detetive L (Lakeith Stanfield) que decide parar seus crimes. Light decide parar um pouco de usar o caderno para não chamar tanta atenção, mas Ryuk (Willem Dafoe), a criatura sobrenatural responsável pelo caderno, o pressiona a continuar.

A narrativa claramente sofre com o fato de ter que condensar dezenas de episódios em 100 minutos e corre para alcançar os pontos principais da trama. Nem bem chegou à meia hora de projeção e o nome Kira já é celebrado e temido no mundo inteiro. Não há tempo de repercutir as ações dos personagens e fazer o público sentir o peso e o significado das ações deles. As questões morais sobre justiça, vigilantismo e vingança também são passadas rapidamente através de poucos diálogos que mal arranham a superfície da questão. Em um dado momento Light chega a questionar Mia de que talvez os fugitivos que veem na internet possam ser inocentes, um questionamento interessante que abre uma ampla discussão moral, mas que o filme imediatamente deixa de lado e não toca mais. Na verdade, o foco fica mais na disputa de gato e rato entre Light e L, mas como L rapidamente conclui que Light é Kira, não há muita tensão a ser encontrada nisso.

Inicialmente Light é concebido como um jovem brilhante e cheio de raiva reprimida, funcionando como uma motivação para que ele use o caderno. A questão é que a partir do momento em que ele de fato começa a usar o caderno, essa aparente inteligência inicial se perde e a impressão que fica é que Light é um tolo que não tem a menor ideia do que está fazendo e só no clímax do filme ele parece estar usando sua inteligência para antecipar os adversários. Mia, por outro lado, é tão mal desenvolvida que soa como uma mera sociopata sádica dada a facilidade e rapidez com a qual ela acredita em Light e escolhe acompanhá-lo. O romance entre eles parece acontecer por pura necessidade de roteiro, já que o texto nunca chega a explorar o que ela vê nele ou vice-versa e assim o público não tem lastro para se importar com o relacionamento entre os dois.

O elo mais fraco do trio de protagonistas, no entanto, acaba sendo L. A culpa é menos do ator Lakeith Stanfield (do excelente Corra!) e mais do material que ele tinha em mãos. Eu entendo que os trejeitos exagerados e postura misteriosa e "trevosa" faziam parte da persona de L no anime e mangá, mas nem tudo que é bacana nessas mídias funciona quando transcritos para pessoas reais de carne e osso. Toda aquela linguagem corporal cartunesca, os montes de doces que ele consome e sua coleção de tiques o fazem mais ridículo do que intrigante. O filme é bem realista em sua abordagem estética (no sentido de que parece algo que acontece no nosso mundo) e a esquisitice de L acaba destoando de um modo negativo e o detetive parece pertencer a uma obra completamente diferente. Ver um homem adulto sentar de cócoras em cima de uma cadeira é uma imagem risível ao invés de uma postura estilosa, diferenciada e "não conformista". Algumas cenas do personagem inclusive soam diretamente inverossímeis, como o primeiro encontro entre ele e Kira. É difícil aceitar que um homem mascarado entre em uma lanchonete de uma grande cidade como Seattle e comece a gritar com um dos clientes e jogar coisas pra cima sem que as pessoas ao redor se assustem, corram ou chamem a polícia.

Se tem uma coisa que o filme acerta é na escalação de Willem Dafoe para dar voz ao shinigami Ryuk. O ator faz bom uso de sua voz áspera na composição de uma fala que soa carregada de um tom de malícia jocosa que torna o personagem igualmente divertido e ameaçador, fazendo suas cenas ficarem entre as mais marcantes do longa. As mortes sangrentas e gráficas resultante do uso do caderno também rendem alguns momentos impactantes, em especial quando Light pede a decapitação de colega.

No fim Death Note se revela uma adaptação decepcionante. O diretor Adam Wingard, do fraco Bruxa de Blair (2016), tinha um material promissor em mãos, mas ele é desperdiçado em uma trama rasa e apressada permeada por personagens pouco interessantes.


Nota: 4/10

Trailer

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