Desde que o projeto conjunto
entre Marvel e Netflix foi anunciado, com séries individuais de super heróis
"urbanos" eventualmente culminando em uma série conjunta de todos,
esta primeira temporada de Os Defensores,
havia a expectativa de que essa reunião resultasse em algo tão bacana quanto o
primeiro filme dos Vingadores. Os
Defensores não chega a ser tão bacana ou divertido quanto o primeiro
encontro dos heróis cinematográficos da Marvel, mas tem sua parcela de qualidades.
Aviso que a partir desse ponto o texto pode conter SPOILERS.
A trama demora um pouco a
engrenar e o primeiro episódio passa tempo demais contextualizando cada um dos quatro
protagonistas até começar a colocá-los para convergir no segundo. Mesmo o
segundo episódio ainda não delineia com clareza o arco geral da temporada, que
envolve a misteriosa Alexandra (Sigourney Weaver) querendo capturar Danny Rand
(Finn Jones) para usar seu poder para abrir algo oculto no subterrâneo de Nova
Iorque e consolidar o poder do clã ninja Tentáculo. Aos poucos, Matt Murdock
(Charlie Cox), Luke Cage (Mike Colter) e Jessica Jones (Krysten Ritter) também
vão se envolvendo com o Tentáculo, até que no terceiro episódio a série
finalmente encontra seu ritmo.
O principal atrativo é no
encontro entre os quatro protagonistas e nisso a série não decepciona. Ao longo
dos seriados individuais acompanhamos as personalidades complicadas desses
sujeitos e como eles são heróis falhos, dotados de virtudes, mas também com
seus traumas e receios. Essas personalidades colidem de maneira intrigante, já que cada um deles consegue
enxergar algo de valor no outro, mas são tão danificados por seus próprios
problemas que resistem a se aproximarem demais. O elenco tem uma ótima química
em conjunto e nos faz acreditar no laço de confiança e camaradagem que vai se
formando entre eles ao longo da trama.
Se os heróis empolgam, os vilões,
por outro lado, decepcionam. Sigourney Weaver começa promissora como Alexandra.
Na sua primeira cena a vemos receber péssimas notícias de seus médicos,
apresentando-a para nós em um momento de vulnerabilidade que não só a humaniza
como dá mais contexto à sua personalidade implacável. Afinal ela está correndo
contra o tempo e isso a torna ainda mais perigosa.
O problema é que a despeito de
Weaver ser eficiente em evocar uma aura de ameaça, conforme a trama avança a
personagem vai ficando menos interessante. Sua motivação, além de tentar obter
imortalidade, é destruir Nova Iorque. Porque ela quer destruir Nova Iorque? Bem
porque ela é a líder de uma organização internacional do mal e aparentemente é
isso que um grupo desse tipo faz. Para piorar, a personagem é eliminada de
maneira bastante anticlimática, nunca tendo tempo para demonstrar como ela é
tão poderosa ao ponto de intimidar os demais líderes do Tentáculo. Na verdade,
desde que apareceu como ameaça já na segunda temporada de Demolidor o Tentáculo já falhava em convencer como uma força
antagônica interessante, nunca indo além de ser uma mega organização maligna
genérica.
Não ajuda que os demais líderes
do Tentáculo são igualmente desinteressantes, incluindo aqueles que já tínhamos
conhecido antes. Bakuto (Ramon Rodriguez) já era um vilão entediante na
primeira temporada de Punho de Ferro
e não havia nenhum motivo para trazê-lo de volta aqui, já que ele continua
vazio e aborrecido. O mesmo pode ser dito de Madame Gao (Wai Ching Ho), que há
tempos já tinha passado do ponto no clichê da "velha oriental
misteriosa". A personagem vem aparecendo desde a primeira temporada de Demolidor e apesar do tempo de tela que teve não conseguiu ir além desse clichê. Elektra (Elodie Yung) também não parece ter outra motivação
além de ser uma sociopata que gosta de matar e a complicada relação entre ela e
o Demolidor acaba sendo mal aproveitada.
As cenas de ação variam em
qualidade. A maioria é ótima, como a luta no corredor no terceiro episódio, a
luta entre o Demolidor e o Punho de Ferro e também o confronto na caverna no
episódio final. São cenas em que mesmo em meio ao caos de muitos combates e
muita coisa acontecendo simultaneamente, nunca perdem o senso de escala e
coesão espacial, com poucos cortes e permitindo que a câmera acompanhe com
organicidade os pontos focais da ação. Por outro lado, muitas apresentam a
mesma montagem picotada e câmera tremida que tornam tudo uma bagunça
incompreensível como as lutas na série do Punho
de Ferro, tal qual acontece na primeira luta do primeiro episódio ou o
confronto no estacionamento no penúltimo. Os efeitos visuais ocasionalmente
também apresentam problemas, como o horrendo chorma key na cena do elevador no último episódio, que fica mais
artificial do que deveria.
A primeira temporada de Os Defensores vale a pena pela dinâmica entre seus protagonistas e os bons momentos de ação, mas deixa a
impressão de que poderia ter sido bem melhor.
Nota: 7/10
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