A última vez que o diretor Luc
Besson realizou uma aventura espacial foi em O Quinto Elemento (1997), uma aventura divertida e visualmente
exuberante. Sim, seu filme anterior, Lucy
(2014), flertava com a ficção científica, mas é neste Valerian e a Cidade dos Mil Planetas que Besson retorna a esse tipo
de aventura espacial retrô. Era de se imaginar que o filme seria capaz de ser
tão bacana quanto O Quinto Elemento,
mas infelizmente não chega nem perto disso.
O agente espacial Valerian (Dane
DeHaan) e sua parceira Laureline (Cara Delevingne) são encarregados de
recuperarem e protegerem um raro espécime alienígena, capaz de reproduzir
qualquer material que devore. A missão os leva à estação espacial Alpha, que
abriga milhares de espécies de todo o universo, e a um perigo que pode destruir
toda a estação.
Dane DeHaan está terrivelmente
mal escalado como Valerian, um policial espacial de espírito aventureiro e
galanteador. DeHaan é sério e sisudo demais, faltando-lhe o charme cafajeste de
um Harrison Ford ou Chris Pratt que seria necessário para fazer o personagem
funcionar. Cara Delevingne, por sua vez, não faz muito além de frisar as
sobrancelhas e parecer entediada durante boa parte do tempo. Não ajuda que a
química entre os dois seja praticamente nula, falhando em nos fazer investir ou
torcer pela relação do casal, já que tudo soa tão mecânico e artificial.
A narrativa por vezes se perde em
subtramas que não levam a lugar nenhum e não fazem muita diferença para a trama
principal. Todo o segmento envolvendo a captura e o resgate de Laureline, por
exemplo, poderia ser completamente suprimido sem grande perdas e provavelmente
faria o filme parecer menos arrastado. No meio dessa bagunça a cantora Rihanna
acaba desperdiçada em uma ponta inútil que só serve para apontar e dizer
"olha só pessoal, a Rihanna está no filme". Além disso, muitas
decisões tomadas pelos personagens parecem não fazer muito sentido. Em um dado
momento o superior da dupla de protagonistas ordena que Laureline seja mandada
para a prisão da estação espacial, para que na cena seguinte, sem que nada
tenha mudado, ordena que ela seja trazida de volta. A situação do que está
escondido no interior de Alpha também não é muito bem explicada.
Se o militar interpretado por
Clive Owen sabia quem era a raça desconhecida e queria eliminá-los, porque não
mandar logo a tropa de robôs assassinos ao seu dispor? O que aconteceu com a
primeira onda de soldados que foi mandada para o local? O filme estabelece que
os Pearls não matam e os soldados não foram tomados como reféns, então o que de
fato aconteceu com eles? O vilão, por sinal, parece determinado a fracassar, já
que seu plano tem mais furos do que um queijo suíço e não tem outra motivação
além do clichê do militar sem escrúpulos.
O visual acaba sendo o que o
filme tem de mais interessante, ao criar dezenas de criaturas verdadeiramente
esquisitas e exóticas, concebendo ecossistemas complexos nos quais todas essas
formas de vida interagem. A variedade de criaturas convivendo em um mesmo
espaço evoca os ideais progressistas de outras obras de ficção científica que
tinha uma visão otimista do futuro, na qual é possível colocar as diferenças de
lado e conviver pacificamente em prol do desenvolvimento mútuo. Do mesmo modo,
os planetas são dotados da mesma criatividade, como o gigantesco mercado que
existe simultaneamente em várias dimensões e muitos outros ambientes que
conferem um caráter psicodélico. O filme ainda faz um bom uso do 3D, construindo
a sensação de profundidade e imensidão que nos faz realmente crer que estamos
em uma imensa e superpovoada estação espacial. Apesar de toda essa
inventividade no design de produção,
as cenas de ação carecem de energia ou urgência (nunca sentimos que Valerian ou
Laureline estão realmente em perigo) e desperdiçam as oportunidades criativas
dos inúmeros gadgets e equipamentos
dos personagens em prol de tiroteios bem burocráticos.
Nesse sentido, é lamentável que
os ótimos atributos visuais de Valerian e
a Cidade dos Mil Planetas se percam em uma trama problemática, personagens
sem carisma e ação que não empolga.
Nota: 4/10
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