Quando joguei o primeiro Dragon Quest Heroes, uma mistura entre a
jogabilidade de Dynasty Warriors e o
universo da franquia Dragon Quest,
não esperava que o resultado fosse ser tão divertido e que conseguisse mesclar
tão bem os elementos basilares das duas franquias. Este Dragon Quest 2 segue o que tinha funcionado bem antes, tentando
corrigir alguns problemas e adicionar novos elementos, embora as novidades nem
sempre funcionem.
A trama é melhor elaborada em
relação à narrativa simplória do primeiro. Aqui acompanhamos as tensões entre
dois reinos vizinhos que são manipulados ao confronto por uma força sombria. É
uma premissa bem típica de RPGs japoneses, mas é bem executada o suficiente
para gerar uma interessante intriga palaciana e reviravoltas. Os novatos não
precisam se preocupar, já que não é preciso ter jogado o primeiro para entender
o que acontece aqui.
Assim como no anterior a trama
também tem sua dose de senso de humor, em especial pelas interações divertidas
entre os personagens de diferentes jogos da franquia Dragon Quest ou mesmo entre os dois protagonistas criados para este
jogo. A dublagem é competente e ajuda a dar carisma e vivacidade a esses
personagens. O mesmo pode ser dito do inconfundível visual concebido pelo
venerável Akira Toriyama (o criador de Dragon Ball), que enche de personalidade
os heróis, vilões e monstros que encontramos pelo caminho.
Diferente do primeiro game no
qual a aeronave dos protagonistas funcionava como uma HUB na qual eram
selecionadas as missões, aqui temos uma estrutura mais parecida com um mundo
aberto, com várias áreas conectadas entre si que o jogador precisa explorar.
Essas áreas são vastas e cheias de monstros para enfrentar além de alguns
objetivos aleatórios que surgem de tempos em tempos como salvar alguém atacado
por monstros ou eliminar alguma criatura poderosa. Entre uma área e outra estão
as chamadas "zonas de guerra" (war zones) nas quais ocorrem as
missões da história e são mais parecidas com os mapas lineares do primeiro jogo
e a alternância entre espaços ajuda a tornar as coisas menos repetitivas. Além
disso, as zonas de guerra oferecem mais possibilidades de interação com o cenário,
com poças de óleo que podem ser incendiadas com magias de fogo ou cogumelos que
podem ser destruídos para liberar uma nuvem de esporos soníferos.
As missões também são mais
variadas em sua natureza. Se antes elas alternavam apenas entre os objetivos de
matar todos os inimigos e proteger alguém ou alguma coisa, aqui os personagens
tem mais o que fazer. De procurar uma criatura transmorfa escondida em uma
cidade a fugir furtivamente de uma prisão, as missões principais conseguem
encontrar meios de não tornar tudo maçante. Há algumas missões secundárias, mas
essas são típicas fetch quests,
normalmente pedindo para matar uma determinada quantidade de um monstro
específico ou coletar determinados itens, mas servem como meio para evoluir
seus personagens.
O jogo mantêm as mecânicas de RPG
do anterior, com os personagens subindo de nível, pontos de habilidade a serem
distribuídos e equipamentos a serem adquiridos. Uma nova mecânica é a da
proficiência com armas. Quanto mais dano um personagem causa usando um determinado
tipo de arma, mais ele ganha proficiência com ela e assim obtêm novas
habilidades e alguns bônus de atributo para si e para o restante do grupo. Outra
adição é a possibilidade de trocar a classe dos dois protagonistas, alterando
suas habilidades de combate e as armas que eles podem equipar, mas o jogo nunca
te dá motivos reais para explorar as várias classes e não há muita recompensa
em ser multiclasse exceto por alguns pequenos bônus de atributo que não
justificam o tempo necessário para obtê-los.
O elenco do jogo é amplo e traz
alguns personagens do game anterior, como Kiryl e Terry, além de alguns novos
como Desdemona e Torneko. Como em um típico RPG é importante saber equilibrar a
formação do grupo que você leva para as missões, trazendo personagens capazes
de desempenhar funções diferentes no combates. As lutas continuam ágeis e
espalhafatosas, com os personagens enfrentando centenas de inimigos e usando
ataques especiais exagerados que eliminam dezenas de criaturas com um golpe só.
A sensação de poder e grandiloquência experimentada ao correr por um campo de
batalha exterminando exércitos inteiros é inegável e a variedade de personagens
dá ao jogador diferentes ferramentas para caçar monstros. Isso sem mencionar a
possibilidade de jogar online com até três outros jogadores e cooperar com os
amigos para dizimar monstros e superar algumas dungeons opcionais voltadas para o multiplayer é bem divertido.
As monster medals que permitem
invocar temporariamente criaturas derrotadas retornam do primeiro jogo com
algumas novidades, mas elas soam como um passo para trás ao invés de para
frente. Antes tínhamos praticamente duas "classes" de monstro, uma
que ficava no mapa ajudando o jogador a enfrentar os inimigos e outros que
faziam uma ação (ataque, cura, buff ou debuff) e desapareciam. Agora temos um
novo tipo de monster medal que permite ao jogador se transformar
temporariamente em monstros derrotados. Boa parte dos monstros mais poderosos,
que antes funcionavam como bons companheiros de combate, como o Golem agora se
tornam transformações e isso os torna bem menos úteis. Eles se movem mais
devagar e seus ataques são lentos e não causam um dano muito mais dano em
relação ao que fazem seus personagens e assim a maioria dessas transformações
acaba sendo um desperdício de tempo.
Mesmo com alguns defeitos, Dragon Quest Heroes 2 é uma continuação
competente que conquista pelo seu espalhafatoso combate, exploração e personagens carismáticos.
Nota: 8/10
Obs: O jogo está disponível para PS4 e PC
Obs: O jogo está disponível para PS4 e PC
Trailer
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