Histórias sobre o narcotráfico e
a figura de Pablo Escobar estão em alta recentemente em Hollywood. De filmes
como Conexão Escobar (2016), Escobar: Paraíso Perdido (2014),
passando pela série Narcos, a
sensação é que o mercado deste tipo de história já está ficando inchado. O que
consegue diferenciar este Feito na
América dos demais é sua abordagem cínica e bem humorada em relação a todo
o contexto da guerra contra o narcotráfico.
A trama é baseada na história
real de Bryan Seal (Tom Cruise), um piloto que foi recrutado pela CIA na década
de oitenta para servir de fachada para suas operações na América Central e
Latina, conduzindo operações de reconhecimento com aviões espiões, recolhendo
informações e traficando armas para facções aliadas aos EUA. Ao curso do seu
trabalho, Bryan acaba sendo abordado por Pablo Escobar (Maurício Mejia) que
quer seus serviços para transportar drogas para os Estados Unidos. Interessado
no dinheiro extra, Bryan aceita, mas isso começa a lhe causar problemas.
A vida de excessos de Bryan e as
operações de espionagem da CIA são sempre abordadas por um viés crítico de
cinismo, sempre reconhecendo o quanto aquelas situações são absurdas, como a
cena em que Bryan leva armas para os contras e eles só querem as roupas e itens
pessoais dos pilotos, pouco eficiente e fundamentalmente feitas para darem
errado. Toda a política intervencionista estadunidense é abordado como uma
bagunça cara e extravagante na qual ninguém tem certeza do que está fazendo ou
quais são exatamente as implicações daquelas ações. Filmes como O Senhor das Armas (2005) e Cães de Guerra (2016), já abordaram os
exageros e absurdos do comércio (ou tráfico) internacional, mas Feito na América consegue achar tantas situações
insólitas na jornada de Bryan que evita parecer uma mera reciclagem de coisas
que já vimos antes.
Bryan, por sua vez, é um sujeito
esperto que sempre tenta usar as circunstâncias ao seu favor e parece gostar da
adrenalina, algo evidenciado já em sua primeira cena quando ele baixa
rapidamente o avião para assustar os passageiros. Ele claramente está metido em
algo além da sua capacidade e que não compreende plenamente, isso gera muitas
reações incrédulas da parte dele toda vez que ele se livra de prisões sem
qualquer consequência.
É um personagem um pouco
diferente dos heróis de ação (Bryan está mais para um anti-herói) que Tom Cruise vinha fazendo nos últimos anos nos
filmes de Missão Impossível e Jack Reacher, mas o ator usa
praticamente os mesmos trejeitos e maneirismos que são típicos de sua persona cinematográfica e nesse sentido
ele acaba sendo mais Tom Cruise do Bryan. Ocasionalmente o ator até tenta fazer
um sotaque sulista, que seria compatível com seu personagem, mas o desempenho é
bem inconstante e na maioria das vezes sua dicção passa longe do sotaque
pretendido. Cruise, entretanto, tem presença e carisma suficientes para fazer o
personagem funcionar mesmo quando suas escolhas de composição não alcançam o
resultado desejado.
Esteticamente falando, há uma reconstrução
competente da atmosfera oitentista, algo transmitido não só pelos cenários e
figurinos, mas também pela fotografia que opta por efeitos de granulação e
iluminação que remetem a uma película antiga. O clima da época também é
retratado pelas inúmeras imagens de arquivo, em especial do então presidente
Ronald Reagan, que abordam o zeitgeist
da paranoia anticomunista e da construção da retórica de combate às drogas.
Essas imagens de arquivo, por sinal, muitas vezes são usadas para efeitos
cômicos, quando a montagem contrapõe os discursos de Reagan com as atividades
de Bryan.
É justamente por esse senso de
humor cínico e pelo carisma do protagonista que Feito na América acaba valendo a pena.
Nota: 7/10
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