O escândalo Watergate já foi
bastante explorado pelo cinema hollywoodiano. O mais lembrado desses filmes é Todos Os Homens do Presidente (1976),
que mostrava a investigação dos repórteres do Washington Post que expuseram o
acobertamento cometido pelo governo com a ajuda de um informante de dentro do
FBI. Este Mark Felt: O Homem Que Derrubou
a Casa Branca acaba sendo um Todos Os
Homens do Presidente sob a perspectiva do informante, o vice-diretor do FBI
Mark Felt que acabou sendo apelidado como Garganta Profunda.
Ao reverter o ponto de vista em
relação a uma história já conhecida era de se imaginar que a narrativa fosse se
deter mais sobre a figura de Felt, seus conflitos e motivações, do que os
eventos em si, que já foram exaustivamente explorados, mas o diretor e
roteirista Peter Landesman (responsável pelo igualmente decepcionante Um Homem Entre Gigantes) parece mais
interessado em recontar uma história já conhecida do que acrescentar algo a
ela. A impressão é que em tempos de governo Trump, suspeita de conspiração com
a Rússia e a demissão de um diretor do FBI por investigá-lo, a indústria
cinematográfica queria lançar algo para lembrar ao público da importância de resistir
aos desmandos de um presidente autoritário que não respeita a separação entre
os poderes. Como não tinham nenhuma outra história do tipo, resolveram reciclar
os eventos de Watergate e usá-los como metáfora para os tempos atuais.
O começo até dá a impressão que o
filme irá ser mais um exame sobre Felt (Liam Neeson) do que dos pormenores já
conhecidos do escândalo Watergate. O público é apresentado a Felt como um homem
diligente, com forte senso de dever e que pensa trabalhar pelo bem estar da
população e não da Casa Branca. Ao se ver preterido no cargo de diretor do FBI
depois da morte de J. Edgar Hoover, Felt suspeita que há algo errado quando o
novo diretor é alguém bastante próximo de Richard Nixon e sem qualquer experiência
com o cotidiano operacional do FBI. As suspeitas do protagonista aumentam
quando começam as investigações sobre o incidente no prédio Watergate e o novo
diretor insiste em reportar tudo à Casa Branca, praticamente colocando o
presidente Nixon, um suspeito, no controle da investigação.
O que começa promissor acaba se
perdendo em uma série de cenas de reunião com diálogos meramente explicativos
que informam ao público os (já conhecidos) detalhes sobre os bastidores da
investigação Watergate, mas fazem pouco para desenvolver seus personagens. A
relação complicada entre Felt e sua esposa (Diane Lane) ou sua filha ausente
(Maika Monroe) é explorada de maneira tão superficial que quando o protagonista
finalmente reencontra a filha ao fim do filme isso acaba não tendo qualquer
peso dramático. Como o filme não deu tempo para que compreendêssemos a fuga da
filha ou sentíssemos seu impacto (os diálogos meramente informam o que esse
evento significou), fica difícil se importar com esse reencontro. Se o interesse
do filme era mais nos fatos do que nos sujeitos talvez tivesse sido melhor
realizar um documentário do que um filme de ficção.
Mesmo quando o texto não sai da
superfície conseguimos aderir a Felt graças ao trabalho de Liam Neeson. O ator
traz uma presença imponente, cheia de autoridade e gravidade que torna crível o
modo como Felt conseguiu vazar tudo sem ser descoberto. A fotografia preza por
sombras, tons cinzentos e planos de portas entreabertas, construindo os
escritórios do FBI e da Casa Branca como um verdadeiro covil de feras nos quais
predadores espreitam em qualquer canto e um movimento em falso pode custar tudo
ao protagonista, imergindo o público na sensação de tensão e paranoia
vivenciada por Felt.
Apesar de bem intencionado em seu
lembrete sobre a importância de enfrentar um governo corrupto, Mark Felt: O Homem Que Derrubou a Casa
Branca acaba fazendo pouco para ir além de uma mera reciclagem de uma
história que já foi amplamente conhecida.
Nota: 5/10
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