segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Crítica - South Park: A Fenda Que Abunda Força

Análise South Park: A Fenda Que Abunda Força


Review South Park: The Fractured But Whole
Eu não esperava que South Park: The Stick of Truth fosse tão legal quanto acabou se revelando. Além de manter o espírito e senso de humor anárquico e crítico da série animada, era também um competente RPG que pegava elementos da série Paper Mario. Com isso a expectativa para esta continuação, South Park: A Fenda Que Abunda Força (The Fractured But Whole em inglês), estava bem alta e é muito bom constatar que ele não decepciona.

A trama começa com Cartman desistindo da brincadeira de fantasia medieval do jogo anterior e decidindo começar uma brincadeira de super-heróis com o intuito de transformar seus personagens em uma grande franquia cinematográfica tal qual os filmes da Marvel e da DC. Os garotos acabam brigando entre si pela criação desse universo compartilhado e se dividem entre duas facções. Cartman, que se tornou o herói Guaxinim, lidera o grupo Guaxinim e Amigos e recruta o "Garoto Novato" (o personagem do jogador) para seu grupo. Logicamente o que começa como uma brincadeira acaba saindo do controle e gera consequências absurdas com os garotos esbarrando em um esquema de drogas e tudo progredindo para tramas ainda mais sem noção, incluindo a revelação de quem estava por trás de tudo.


Se o jogo anterior se concentrava em fazer graça com as convenções de jogos de videogame e RPGs, esse foca seus esforços em zoar a saturação dos super-heróis nos cinemas e seus universos compartilhados cada vez mais inchados e complicados. Provavelmente eu ri mais no primeiro, mas este ainda foi bastante eficiente em divertir e me fazer rir. Dos tutoriais narrados por Morgan Freeman (na verdade uma imitação ruim de sua voz) à incursão dos garotos em um clube de Strip, passando pelas conversas com o Sr. Mackey sobre gênero e sexualidade, tudo me manteve engajado e com um constante sorriso no rosto.

O combate é um pouco diferente do jogo anterior. As batalhas ainda são por turnos e o jogador precisa apertar os botões no momento certo para causar mais danos com seus ataques, ganham um componente de estratégia. Os personagens se movimentam em uma grade, tal qual Final Fantasy Tactics ou Xcom. Posicionamento torna-se importante, pois cada ataque afeta uma área ou direção específica e alguns até são atraem ou empurram inimigos, tornando possível fazê-los se chocar contra obstáculos ou outros personagens no campo de batalha para dano extra. Assim, o combate se torna mais complexo e ganha mais profundidade para o jogador experimentar com a dúzia de personagens aliados que o jogo te dá.

O sistema de classes ou progressão também foi melhorado. No início é possível escolher uma entre três classes de herói e ao longo do jogo mais classes são disponibilizadas, sendo possível ter até quatro ao mesmo tempo. Também é possível mudar suas classes a qualquer momento (basta conversar com Cartman no covil do Guaxinim), o que dá mais espaço para testar combinações entre os poderes das diferentes classes.

Uma das reclamações do primeiro jogo era o baixo level cap. Se o jogador cumprisse todas as missões secundárias era fácil atingir o nível máximo por volta da metade da narrativa, o que tirava o estímulo do combate por não haver mais progressão. Agora isso não acontece. Subir de nível habilita novos slots para equipar artefatos e são estes artefatos os responsáveis pela progressão do personagem. Cada artefato possui um valor de "poder" que determina o quanto ele aumenta os atributos e oferecem diferentes bônus. Assim, com uma constante oferta de novas classes, poderes e formas de evoluir seu personagem, o combate consegue manter o frescor ao longo de toda campanha. A constante adição de novas mecânicas é outra coisa que mantêm o combate envolvente, da possibilidade de contra-atacar as "microagressões" dos inimigos aos diferentes "peidos de manipulação temporal". Algumas batalhas contra chefes são bem desafiadoras e ocasionalmente o jogo impõe objetivos diferenciados nelas para além de "derrotar os inimigos". Um exemplo é a luta contra Toalinha na qual o jogador precisa acender as pilhas de maconha espalhadas pelo campo de batalha para que o inimigo se "acalme".

O jogo apresenta um sistema robusto de criação itens, permitindo a construção de novos equipamentos, roupas e itens. A economia de distribuição desses ingredientes, no entanto, é um pouco desequilibrada. Alguns itens, como a sucata ou objetos tecnológicos, são extremamente abundantes, mas outros como as tortilhas ou garrafas vazias, essenciais para a criação de itens de cura, são raríssimos e eu precisava constantemente ter que comprá-los em vendedores (e olha que sou bastante econômico no uso desses itens) ou comprar diretamente itens de cura. Desta maneira, a criação de itens ocasionalmente soava como um mero intermediário da compra de itens ao invés de um sistema próprio.

Os visuais são extremamente fiéis aos da animação, dando impressão que estamos realmente controlando um episódio da série. A cidade tem muito o que explorar e interagir com seus habitantes e todos os ambientes são cheios de referências a episódios conhecidos. Cada canto, cada casa é cheia de personalidade e contribuem para a coesão deste universo. Explorar South Park muitas vezes envolvem resolver puzzles ambientais que, embora não sejam de arrancar os cabelos em termos de dificuldade, são bem concebidos o suficiente para nos darem um senso de satisfação quando os superamos.

Boa parte da resolução desses quebra-cabeças envolvem o uso da flatulência do protagonista, seja ele trabalhando sozinho ou em conjunto com outros heróis, seja se aliando ao Pipa Humana para voar com usando seus puns ou peidando na cara do Capitão Diabetes para motivar sua fúria. Os mais divertidos são aqueles envolvendo o uso das privadas que exploram ao limite a mecânica de "controle anal total" (sim, parece título de pornô) proposta pelo jogo ao fazer o jogador usar as duas alavancas direcionais para controlar as nádegas do protagonista em movimentos ritmados para, bem, chapiscar a cerâmica.

Há também uma série de colecionáveis diretamente ligados à trama ou a elementos conhecidos da série como coletar Memberberries, os yaoi eróticos de Tweek e Craig ou tirar selfies com os habitantes da cidade para ganhar seguidores em redes sociais e promover seu time de herói. Conseguir selfies com alguns membros da cidade muitas vezes envolve fazer alguma tarefa para eles, cumprir algum objetivo ou usar roupas e classes específicas. A quantidade considerável de atividades, com todas mantendo o mesmo senso de humor sem noção, fornecem por volta de 20 horas de gameplay.

Nesse tempo, no entanto, acabei encontrando alguns problemas de performance (ao menos no Playstation 4) que atrapalhavam a experiência. Um deles são as constantes telas de loading na passagem entre um cenário e outro. Mesmo quando são espaços pequenos o jogo leva alguns bons segundos carregando, o que é bem incômodo considerando quão pouco sofisticados o jogo e sua física são. Do mesmo encontrei alguns momentos em que o jogo travou e me obrigou a recarregar meu último salvamento, inclusive tendo que recomeçar algumas batalhas bem difíceis contra chefões.

Assim sendo, South Park: A Fenda Que Abunda Força mantém o nível dos jogos baseados na série animada, oferecendo mais um divertido RPG que melhora muita coisa em relação ao anterior ainda que tenha alguns problemas de performance.



Nota: 8/10

Obs: O jogo está disponível para PS4, Xbox One e PC.

Trailer

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