Faz um bom tempo que o ator Gerard Butler não faz um filme realmente bom. Também faz algum tempo que o ator Ed Harris não faz um filme realmente ruim. Com trajetórias opostas os dois se encontram neste Tempestade: Planeta em Fúria. O resultado? Bem, vamos dizer que Ed Harris saiu prejudicado nessa.
Na trama, a humanidade é capaz de
controlar e dissipar desastres naturais graças a uma rede de satélites que é
capaz de deter tornados, terremotos, tsunamis e outras ocorrências. O aparato,
no entanto, começa a apresentar falhas, causando desastres naturais ao redor do
mundo. A recorrência desses problemas faz os responsáveis pelo sistema
considerarem que alguém está deliberadamente interferindo no funcionamento do
aparato. Agora cabe ao astronauta Jake (Gerard Butler) desativar os satélites,
mas para isso será necessário que seus aliados em Terra localizem o presidente
Andrew (Andy Garcia), o único que tem os códigos de desativação dos satélites.
Os personagens são unidimensionais
e suas personalidades são uma coleção de clichês, sendo difícil nutrir simpatia
ou torcer pela sua sobrevivência. O roteiro demora a engrenar e ainda está
apresentando novos personagens mesmo quando já passaram cerca de cinquenta
minutos de duração. Há uma tentativa de injetar humor ao dar aos personagens
frases de efeito engraçadinhas mas a maioria delas é digna daquele seu tio que
sempre faz a piada do pavê nos almoços de domingo e servem mais para constranger
do que para fazer rir. Igualmente constrangedoras são as cenas românticas
envolvendo Max (Jim Sturgess) e Sarah (Abbie Cornish) que deveriam ser
engraçadinhas, mas não funcionam.
Falando em roteiro, a identidade
do culpado é tão óbvia que eu já tinha deduzido desde o trailer. Como um dos principais
nomes do elenco sequer era mostrado no trailer, era fácil supor que ele estava
sendo ocultado por ser a principal reviravolta da história. A trama, por sinal, tem mais buracos que a camada de ozônio. Se o vilão usou os satélites para
matar o presidente e todo seu gabinete para tomar o poder, porque ele
acompanhou o presidente no comício? Imagino que uma atitude mais inteligente
era inventar uma desculpa qualquer para evitar ser morto durante a tempestade
que varreria o local. Se pensarmos bem, o plano dele daria muito certo se o
sujeito não tivesse ido, já que Max não o confrontaria e ele não seria obrigado
a improvisar.
A ideia que a desativação dos
satélites depende somente da biometria do presidente dos EUA é uma medida de
segurança extremamente estúpida, bastava matar o presidente (se ele tivesse
morrido no ataque do vilão, por exemplo) que seria impossível desativar os
satélites. Analogamente, qualquer um que quisesse desativar a estação
precisaria apenas sequestrar o presidente, nem seria necessário torturá-lo ou
interrogá-lo para que ele entregasse senhas ou códigos. O texto também tem uma quantidade enorme de diálogos meramente expositivos que muitas vezes são apresentados de maneira inorgânica. Eu entendo, por exemplo, que a narrativa precise explicar como os satélites funcionam, mas não tem nexo que Jake dê essa explicação justamente para a equipe que esteve lá nos anos de sua ausência e já está habituada a manejar todo aquele aparato.
As cenas de destruição são um
borrão genérico de computação gráfica artificial desprovido de qualquer peso
dramático ou sentimento de urgência, além de não oferecerem nada que outras
produções similares já fizeram. Seria possível substituir as imagens de
destruição daqui pelas de outros filmes catástrofe como O Dia Depois de Amanhã (2004), 2012
(2009), No Olho do Tornado (2014) ou Terremoto: A Falha de San Andreas (2015)
que não faria qualquer diferença e suspeito que boa parte do público sequer
seria capaz de perceber a reciclagem de imagens. A mensagem sobre a importância
de combater o aquecimento global acaba servindo meramente como desculpa para
motivar a destruição causada, mas é explorada apenas superficialmente. O filme
também tenta promover a importância da cooperação e da diversidade, mas esse
discurso cai por terra quando, no fim das contas, são os personagens dos
Estados Unidos que salvam tudo, da mesma maneira que aconteceu no terrível Independence Day: O Ressurgimento
(2016).
Com personagens desinteressantes
e ação que não empolga, há muito pouco o que aproveitar em Tempestade: Planeta em Fúria.
Nota: 2/10
Trailer
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