O recente Mulher Maravilha mostrou que a Warner/DC podia aprender com os
erros dos filmes anteriores. Já este Liga
do Justiça, embora tenha sua parcela de problemas, continua a colocar o
universo cinematográfico da DC nos eixos ao introduzir novos heróis e apostar
na dinâmica entre eles.
A trama começa quando o Batman
(Ben Affleck) começa a detectar aparições de criaturas alienígenas ao redor do
mundo e suspeita que um ataque ao planeta está à caminho. Ao mesmo tempo a ilha
das amazonas é atacada pelo Lobo das Estepes (voz de Ciaran Hinds), um
guerreiro alienígena que veio à Terra para recuperar três Caixas Maternas,
artefatos de grande poder escondidos em nosso planeta desde tempos imemoriais.
A rainha Hipólita (Connie Nielsen) avisa Diana (Gal Gadot) da ameaça iminente e
ela e Bruce tentam reunir outros seres especiais para combater a ameaça.
O começo do filme é bem acelerado
e bagunçado conforme a trama tenta dar conta de introduzir ao menos três novos
personagens e seus núcleos de coadjuvantes nas menos de duas horas de projeção.
A narrativa corre para colocar todas as suas peças no tabuleiro, engatando uma
cena cheia de diálogos explicativos depois da outra no qual muito é dito, mas
pouco é sentido em relação aos dilemas de cada herói, já que é tudo muito
rápido.
A trama acerta, no entanto, nas
personalidades de cada um dos seus heróis, em especial no senso de humor,
hiperatividade e falta de traquejo social do Barry Allen/Flash (Ezra Miller) ou
no jeito bruto e bonachão de Arthur/Aquaman (Jason Momoa). O elenco funciona
tanto isoladamente quanto em conjunto dando a eles vários momentos para se
conectar uns com os outros. Os melhores são o vínculo formado entre o Flash e o
Ciborgue (Ray Fisher) pelo fato de ambos terem adquirido suas habilidades por
acidente, assim como boa parte dos diálogos entre Bruce Wayne e o resto dos
personagens. As interações são coerentes com as personalidades de cada um e o
filme consegue criar um senso de união ao mostrar como eles se complementam não
só em nível de habilidades mas no modo como lidam com as coisas, o pragmatismo e engenhosidade do Batman
complementa a copassividade e senso de correção moral da Mulher Maravilha,
assim como a ingenuidade e calor humano de Barry complementa a frieza do Ciborgue.
Diferente do excesso de sisudez
dos outros dois filmes neste universo dirigidos por Zack Snyder, este consegue
equilibrar melhor o senso de grandiosidade, fotografia que tende ao realismo
com um clima mais leve e aventuresco, com momentos de humor sem esquecer do
desenvolvimento de seus personagens, tal qual acontecia com Mulher Maravilha. As cenas de ação sabem
aproveitar as habilidades de cada um deles e o filme é mais comedido com seu
uso da câmera lenta, sabendo usá-la a favor da ação ao invés de contra ela,
exceto talvez pela inútil tomada da cápsula de munição do Batmóvel quicando em
câmera lenta no asfalto.
A narrativa, no entanto, não
consegue escapar do clichê de fazer um personagem ficar momentaneamente louco e
raivoso obrigando os demais a contê-lo, o que é piorado pelo conveniente mal
funcionamento do Ciborgue ao atacar um possível aliado, tudo convergindo em uma
tentativa de forçar um confronto entre os heróis. Essa série de lugares-comuns,
porém acaba sendo menos incômoda do que deveria por resultar em um dos momentos
mais legais do filme que é uma luta em supervelocidade envolvendo o Flash e
outro personagem.
Se os heróis são envolventes, o
vilão, por outro lado, é uma nulidade. O Lobo das Estepes nunca recebe nenhuma
motivação além de um objetivo vago de coletar as Caixas e retornar ao seu mundo
(que deve ser Apokolips). Como há apenas uma menção tímida a Darkseid, o Lobo
das Estepes sequer consegue funcionar como uma espécie de "etapa
inicial" para uma ameaça maior. O personagem ainda é prejudicado pela
escolha de fazê-lo todo como um gigante de computação gráfica artificial que
mais parece um design rejeitado para
chefão de jogo de RPG online. Ciaran Hinds tenta o máximo para lhe conferir
alguma gravidade com sua voz áspera, mas o bonecão digital não convence e
jamais soa como um perigo real para os heróis. Teria sido melhor colocar um
ator em uma armadura, como o Ares de Mulher
Maravilha, do que criar algo completamente computadorizado.
Aliás, o filme tem alguns
problemas em relação ao seu uso de efeitos especiais, algo que uma produção de
mais de 200 milhões de dólares não tem o direito de errar. O corpo do Ciborgue,
feito todo digitalmente, não convence, deixando claro boa parte do tempo que é
um decalque feito por cima da silhueta do Ray Fisher do que algo que é parte
dele, sendo o rosto dele a única coisa convincente na maior parte do tempo. Parece
que a Warner não aprendeu nada com o fiasco do uniforme digital de Lanterna Verde (2011) e teria sido
melhor misturar próteses e peças reais de figurino com efeitos digitais (como a
Marvel faz com o Homem e Ferro), inclusive porque assim a equipe de
pós-produção teria um referencial real de como a superfície metálica reage com
as variações de luz e partícula dos diferentes ambientes. Do mesmo modo os
retoques digitais feitos para apagar o bigode do Henry Cavill (vocês perceberão
quando verem) fazem o rosto do ator ficar incrivelmente esquisito.
Mesmo com alguns problemas de
estrutura e um vilão inócuo, Liga da
Justiça é uma aventura bem divertida que funciona por entender seus
personagens e saber desenvolver as relações entre eles.
Nota: 6/10
Obs: O filme tem duas cenas adicionais durante os créditos
Obs: O filme tem duas cenas adicionais durante os créditos
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