Depois de sua ótima aparição da
segunda temporada de Demolidor era
apenas uma questão de tempo que o Justiceiro ganhasse sua própria série e isso
finalmente aconteceu nesta competente primeira temporada de O Justiceiro.
A trama começa com Frank (Jon
Bernthal) eliminando os últimos alvos de sua vingança contra os responsáveis
por terem matado sua família. Crendo que seu trabalho estava encerrado, o
Justiceiro passa a viver sob uma identidade falsa e trabalhando em um emprego
de construção. Sua paz, no entanto, dura pouco quando seu passado de soldado
volta para atormentá-lo na investigação comandada pela agente Madani (Amber
Rose Revah), que suspeita que a unidade de Frank estava envolvida em crimes de
guerra e atividades ilegais. Frank, por sua vez, é abordado pelo misterioso
Micro (Ebon Moss-Bachrach), que tem provas que o alto comando militar e da CIA
estavam por trás do esquema de drogas que Frank creditava apenas ao general
responsável por sua unidade e desta maneira o Justiceiro recomeça sua jornada
de vingança.
Jon Bernthal continua excelente
como Frank Castle, evocando sua natureza perturbada e traumatizada, assim como
a naturalidade com a qual ele mata e tortura seus inimigos da maneira mais
cruel possível, urrando e grunhindo como um animal selvagem. Durante boa parte
do tempo Frank parece um espectro, um morto-vivo, alguém perdido e à deriva,
mas quando está em ação, Frank ganha um brilho insano nos olhos, uma
vivacidade, como se ele ali se sentisse em casa, como alguém cumprindo o
propósito para o qual foi criado.
Frank, no entanto, não é apenas
uma máquina de matar sem sentimentos e suas interações com a família de Micro
permitem perceber uma humanidade oculta sob suas camadas de dor e brutalidade. Por
mais que ele tenha sofrido (e ainda esteja) nos momentos em que visita a
família do amigo é possível notar lampejos de normalidade no modo como ele se
relaciona com as outras pessoas. Isso ajuda a dar complexidade ao personagem e
nos permite vê-lo como algo além de um mero homicida sádico, o que
eventualmente se tornaria cansativo.
Essa humanidade oculta sob a
brutalidade é contraposta em Billy Russo (Ben Barnes), um homem que usa de sua
boa aparência e maneirismos simpáticos e elegantes para esconder sua crueldade
e falta de escrúpulos. Do mesmo modo o figurão da CIA, Rawlins (Paul Schulze),
também usa sua posição de poder e sua riqueza como uma cortina de fumaça para
sua falta de humanidade e ganância sem limites.
Além de tratar da corrupção e
excessos cometidos pelo exército dos Estados Unidos, também aborda o descaso no
tratamento dos veteranos de guerra e o processo de desumanização ao qual eles
são acometidos durante seu tempo de serviço. O roteiro inclusive tenta mostrar
as diferenças entre o Justiceiros e um lunático armado qualquer através da
subtrama do soldado Lewis (Daniel Webber, que já tinha vivido outro militar
instável no Lee Harvey Oswald da minissérie 11.22.63),
que se afunda em seu estresse pós-traumático e inventa inimigos inexistentes
para não precisar abandonar guerra, se tornando um terrorista urbano.
O arco de Lewis também serve para
mostrar os perigos de se permitir que alguém com instabilidade mental tenha
porte de armas de fogo e há uma tentativa de se debater a necessidade do controle
de armas nos Estados Unidos. Esse esforço, no entanto, se revela como o elo
fraco da temporada, já que o debate sobre isso nunca vai além de sensos comuns
rasos e é abordado a partir de duas figuras que pendem para o exagero, de um
lado um homicida louco por armas na figura de Lewis e do outro um político rico
e privilegiado que nunca precisou conviver com crime ou violência urbana.
A ação não se furta em explorar a
brutalidade implacável de Frank ou de seus antagonistas, nem em mostrar as
crueza das consequências dessa violência, com direito a sangue e entranhas por
todo lado. Além disso ressaltam a engenhosidade e capacidade de adaptação de
Frank, como na sequência em que ele improvisa uma emboscada no esconderijo dele
e de Micro.
A primeira temporada de O Justiceiro acerta no tratamento da
psique fraturada de seu protagonista e na seriedade com a qual aborda as
consequências de uma vida de violência.
Nota: 8/10
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