Inicialmente Bright parece uma versão com criaturas fantásticas do competente drama
policial Marcados Para Morrer (2012),
também comandado por David Ayer, ao acompanhar o cotidiano de uma dupla de
policiais em patrulha até que eventualmente tudo dá errado. É possível pensar
também que o filme é uma espécie de Distrito
9 (2009) que troca humanos por alienígenas. Ainda que pareça uma mistura de
elementos familiares, os minutos iniciais carregam uma promessa de algum tipo
de metáfora social interessante, mas isso nunca se confirma.
A trama se passa em um universo
alternativo no qual humanos coexistem com criaturas fantásticas como elfos,
orcs e fadas. A história começa com o policial Ward (Will Smith), que está
descontente em ter que trabalhar com um parceiro orc, Nick (Joel Edgerton), o
primeiro da espécie a ser admitido na força. As coisas se complicam para eles
quando encontram uma jovem elfa, Tikka (Lucy Fry), portando uma varinha mágica,
um artefato de grande poder. Tikka é uma Bright, uma pessoa com dons mágicos
que pode extrair poder de artefatos como a varinha.
A este ponto as metáforas sociais
construídas no início são abandonadas para que o filme se torne uma espécie de O Senhor dos Anéis ambientado nos dias
atuais, com um grupo de heróis correndo contra o tempo para impedir que um
artefato de grande poder caia em mãos erradas e seja usado para ressuscitar o
"senhor das trevas".
A guinada de rumo seria menos
incômoda se ao menos oferecesse boas cenas de ação ou de desenvolvimento de
seus personagens, mas o filme não faz nada de interessante em nenhuma das
frentes. Apesar do sangue e da violência gráfica, as cenas de ação são
burocráticas, não empolgam e são prejudicadas pela montagem picotada. A partir
do momento em que sabemos que Tikka pode usar sua varinha para reviver pessoas,
o filme também perde parte da sua urgência e senso de perigo. O arco da dupla
principal é bem previsível, com ambos quebrando aos poucos a barreira de preconceito
que os distancia.
Como comentário social, Bright não se sai muito melhor, se limitando
em atestar lugares-comuns óbvios como a ideia de que a polícia existe para
proteger os ricos e oprimir os pobres ou a dificuldade do ser humano em lidar
com as diferenças. É também prejudicado por dar informações contraditórias em
relação à construção de seu universo ficcional. Os orcs são tratados o tempo
inteiro como cidadãos de segunda classe, nos fazendo imaginar que eles e os
humanos são inimigos há séculos. No entanto, mais a frente na projeção, somos
informados que a aliança entre todas as espécies que derrotou o primeiro senhor
das trevas foi liderada por um orc. Ora, se um orc foi responsável direto por
salvar o mundo e unir as espécies como é que eles são tratados como cidadãos de
segunda classe? O que exatamente aconteceu para provocar isso? Essas e outras
questões nunca são muito bem respondidas e com isso tudo parece frouxo e pouco
coeso.
Se há algo a ser elogiado é a
qualidade dos efeitos práticos e maquiagem usados para construir as diferentes
espécies. Os orcs tem aparência bem realista, com as narinas se movimentando e
conseguindo falar normalmente a despeito das próteses com presas grandes. Falar disso pode parecer algo pequeno, mas considerando que o mesmo não aconteceu com a meio-orc interpretada por Paula Patton em Warcraft (2016), que falava como se
estivesse com a boca cheia de farofa, então há um trabalho competente do departamento de próteses em produzir algo que ajuda na caracterização sem atrapalhar os atores. Falando em orcs, Joel Edgerton em bem
competente ao evocar o senso de deslocamento de Nick, alguém preso entre dois
mundos e que não se sente pertencente a nenhum. Will Smith, por outro lado,
interpreta Will Smith e o filme desperdiça atores como Noomi Rapace e Edgar
Ramirez em papeis pouco interessantes.
Ao tentar misturar fantasia,
crítica social e narrativa policial Bright
acaba resultando em algo que é menor que a soma de suas partes, falhando em
encantar, empolgar ou fazer pensar.
Nota: 5/10
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