domingo, 18 de fevereiro de 2018

Crítica - Cinquenta Tons de Liberdade

Análise Cinquenta Tons de Liberdade


Review Cinquenta Tons de Liberdade
Nenhum filme me fez rir mais em 2017 do que Cinquenta Tons Mais Escuros. Não que ele fosse exatamente bom, mas era tão tosco, exagerado e sem sentido que se tornava hilário. Diante disso, me aproximei deste Cinquenta Tons de Liberdade esperando que ele ao menos conseguisse alcançar o mesmo patamar de humor involuntário que faria a experiência ser minimamente divertida, mas nem isso ele consegue.

A trama já começa com o casamento de Anastasia (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) e os segue em sua lua de mel até que a vida de luxo do casal é interrompida pelo retorno de Hyde (Eric Johnson), que quer se vingar dos dois, e, bem, não há muito mais conteúdo para preencher 100 minutos sem parecer vazio e arrastado. Em algum momento Anastasia também descobre que está grávida, mas o conflito vindo disso é facilmente resolvido.

A primeira coisa que incomoda é o fato de Hyde, um sujeito que até ontem era apenas um editor de livros, se torna um supercriminoso capaz de sequestro, sabotagem corporativa, hackear dispositivos de segurança e entrar em qualquer lugar sem ser detectado. Imaginei que em algum momento o filme explicaria que o personagem teve um passado criminoso e que seu emprego de editor se deu pelo uso de uma identidade falsa, mas não, ele era só um editor de livros formado em uma boa universidade sem nenhum histórico de experiência como criminoso, ainda que sempre tenha sido mau caráter.

Seu plano também não fica muito claro, sendo vagamente explicado que ele quer vingança contra Grey, mas seus métodos para isso não são exatamente os melhores. Se ele era capaz de entrar no apartamento deles despercebido, porque não esperar Grey chegar para matá-lo? Do mesmo modo, porque exigir resgate por Mia (Rita Ora)? Matá-la não seria mais cruel? A revelação sobre o passado de Hyde, algo que poderia dar contexto a suas ações e fazê-lo parecer mais ameaçador, vem tão tarde que não tem impacto algum.

Igualmente pouco coerente é a conduta de Grey quando sua equipe de segurança captura Hyde. Ao longo desses filmes é estabelecido que Grey é um homem implacável, acostumado a usar seu dinheiro e influência para conseguir o que quer, e também tem uma postura possessiva em relação a Ana. Então é esquisito que ele simplesmente entregue Hyde à polícia quando alguém como ele, inclusive por seu poder e influência, poderia pedir a seus seguranças que matassem Hyde e fizessem parecer autodefesa ou até subornasse alguém para matá-lo na prisão. Se não quisesse matá-lo, poderia pressionar o juiz do caso a não dar liberdade condicional a Hyde, enfim, para um megaempresário durão e superprotetor, Grey é bem leniente.

Atitudes incoerentes também são recorrentes na conduta de Ana ao longo do filme. Em uma cena ela diz que não se sente confortável em usar o nome do marido, mas logo depois ela exige ser chamada de Sra. Grey ao confrontar uma arquiteta que fica se esfregando em Christian. Em um momento Ana diz a Grey que não vai abrir mão do trabalho dela para ser dona de casa, mas logo depois Grey a chama para viajar e ela literalmente larga o trabalho só para seguir o marido.

Quando não estão lutando para fazer o mínimo de sentido, os personagens viajam por locais paradisíacos em cenas que parecem saídas de algum vídeo publicitário dos órgãos de turismo europeus. O filme pensa que todas essas mudanças de locações serão suficientes para dar a impressão que algo está acontecendo, mas sem qualquer esforço de criar conflito ou desenvolvimento de personagem, tudo soa como uma tentativa de preencher a duração de um filme que não tem estofo para se sustentar.

As cenas de sexo são frígidas e mecânicas, tal como nos filmes anteriores, e os atores continuam parecendo completamente desconfortáveis um com ou outro. Algumas delas desabam para o humor involuntário, como a cena em que os dois transam besuntados de sorvete, algo que deveria ser sensual, mas soa ridículo pelo modo como é encenado. Assim como os dois primeiros filmes, este continua a tentar preencher o vazio emocional e sensorial das cenas de sexo inserindo canções pop e românticas conhecidas durante esses momentos. Fica evidente que elas são uma muleta dramatúrgica e, ao invés de acrescentar algo, as canções fazem tudo parecer um pornô softcore brega e antiquado. Além disso, o filme continua a confundir a conduta possessiva e machista de Grey como ações que demonstram romantismo ou cuidado, algo piorado pela performance mecânica de Jamie Dornan que o faz parecer um completo psicopata. A tentativa de criar um desenvolvimento emocional para ele ao inserir a possibilidade de se tornar pai também não leva a lugar algum, já que todo conflito entre ele e Anastasia é facilmente resolvido quando Hyde sequestra Mia.

Cinquenta Tons de Liberdade promete um grande clímax, mas entrega uma flácida broxada graças a uma trama quase inexistente, personagens incoerentes e cenas de sexo tão excitantes quanto uma ida ao DETRAN para tirar a segunda via da carteira de motorista. É tão incompetente, até mesmo em relação aos dois primeiros, que não serve nem como comédia involuntária.

Nota: 1/10

Trailer

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