Nenhum filme me fez rir mais em
2017 do que Cinquenta Tons Mais Escuros.
Não que ele fosse exatamente bom, mas era tão tosco, exagerado e sem sentido
que se tornava hilário. Diante disso, me aproximei deste Cinquenta Tons de Liberdade esperando que ele ao menos conseguisse alcançar o
mesmo patamar de humor involuntário que faria a experiência ser minimamente
divertida, mas nem isso ele consegue.
A trama já começa com o casamento
de Anastasia (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) e os segue em sua
lua de mel até que a vida de luxo do casal é interrompida pelo retorno de Hyde
(Eric Johnson), que quer se vingar dos dois, e, bem, não há muito mais conteúdo para
preencher 100 minutos sem parecer vazio e arrastado. Em algum momento Anastasia
também descobre que está grávida, mas o conflito vindo disso é facilmente
resolvido.
A primeira coisa que incomoda é o
fato de Hyde, um sujeito que até ontem era apenas um editor de livros, se torna
um supercriminoso capaz de sequestro, sabotagem corporativa, hackear
dispositivos de segurança e entrar em qualquer lugar sem ser detectado.
Imaginei que em algum momento o filme explicaria que o personagem teve um
passado criminoso e que seu emprego de editor se deu pelo uso de uma identidade
falsa, mas não, ele era só um editor de livros formado em uma boa universidade sem
nenhum histórico de experiência como criminoso, ainda que sempre tenha sido mau
caráter.
Seu plano também não fica muito
claro, sendo vagamente explicado que ele quer vingança contra Grey, mas seus
métodos para isso não são exatamente os melhores. Se ele era capaz de entrar no
apartamento deles despercebido, porque não esperar Grey chegar para matá-lo? Do
mesmo modo, porque exigir resgate por Mia (Rita Ora)? Matá-la não seria mais
cruel? A revelação sobre o passado de Hyde, algo que poderia dar contexto a
suas ações e fazê-lo parecer mais ameaçador, vem tão tarde que não tem impacto
algum.
Igualmente pouco coerente é a
conduta de Grey quando sua equipe de segurança captura Hyde. Ao longo desses
filmes é estabelecido que Grey é um homem implacável, acostumado a usar seu dinheiro e influência para conseguir o que quer, e também tem uma postura
possessiva em relação a Ana. Então é esquisito que ele simplesmente entregue
Hyde à polícia quando alguém como ele, inclusive por seu poder e influência, poderia
pedir a seus seguranças que matassem Hyde e fizessem parecer autodefesa ou até
subornasse alguém para matá-lo na prisão. Se não quisesse matá-lo, poderia pressionar o juiz do caso a não dar liberdade condicional a Hyde, enfim, para um megaempresário durão e superprotetor, Grey é bem leniente.
Atitudes incoerentes também são recorrentes na conduta de Ana ao longo do filme. Em uma cena ela diz que não se sente confortável em usar o nome do marido, mas logo depois ela exige ser chamada de Sra. Grey ao confrontar uma arquiteta que fica se esfregando em Christian. Em um momento Ana diz a Grey que não vai abrir mão do trabalho dela para ser dona de casa, mas logo depois Grey a chama para viajar e ela literalmente larga o trabalho só para seguir o marido.
Atitudes incoerentes também são recorrentes na conduta de Ana ao longo do filme. Em uma cena ela diz que não se sente confortável em usar o nome do marido, mas logo depois ela exige ser chamada de Sra. Grey ao confrontar uma arquiteta que fica se esfregando em Christian. Em um momento Ana diz a Grey que não vai abrir mão do trabalho dela para ser dona de casa, mas logo depois Grey a chama para viajar e ela literalmente larga o trabalho só para seguir o marido.
Quando não estão lutando para
fazer o mínimo de sentido, os personagens viajam por locais paradisíacos em
cenas que parecem saídas de algum vídeo publicitário dos órgãos de turismo
europeus. O filme pensa que todas essas mudanças de locações serão suficientes
para dar a impressão que algo está acontecendo, mas sem qualquer esforço de
criar conflito ou desenvolvimento de personagem, tudo soa como uma tentativa de
preencher a duração de um filme que não tem estofo para se sustentar.
As cenas de sexo são frígidas e
mecânicas, tal como nos filmes anteriores, e os atores continuam parecendo
completamente desconfortáveis um com ou outro. Algumas delas desabam para o
humor involuntário, como a cena em que os dois transam besuntados de sorvete,
algo que deveria ser sensual, mas soa ridículo pelo modo como é encenado. Assim
como os dois primeiros filmes, este continua a tentar preencher o vazio
emocional e sensorial das cenas de sexo inserindo canções pop e românticas conhecidas durante esses momentos. Fica evidente
que elas são uma muleta dramatúrgica e, ao invés de acrescentar algo, as canções
fazem tudo parecer um pornô softcore brega
e antiquado. Além disso, o filme continua a confundir a conduta possessiva e
machista de Grey como ações que demonstram romantismo ou cuidado, algo piorado
pela performance mecânica de Jamie Dornan que o faz parecer um completo
psicopata. A tentativa de criar um desenvolvimento emocional para ele ao inserir
a possibilidade de se tornar pai também não leva a lugar algum, já que todo
conflito entre ele e Anastasia é facilmente resolvido quando Hyde sequestra
Mia.
Cinquenta Tons de Liberdade promete um grande clímax, mas entrega
uma flácida broxada graças a uma trama quase inexistente, personagens
incoerentes e cenas de sexo tão excitantes quanto uma ida ao DETRAN para tirar
a segunda via da carteira de motorista. É tão incompetente, até mesmo em
relação aos dois primeiros, que não serve nem como comédia involuntária.
Nota: 1/10
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