Os quadrinhos do Archie sempre
tiveram uma clima de aventura juvenil ingênua e colorida. A ideia de adaptar
esse universo para uma série na qual os personagens estariam envolvidos na
investigação de um assassinato e a idílica cidade seria um local cheio de
segredos e corrupção, parecia mais uma estratégia comercial de seguir a atual
tendência de criar versões "sombrias e sisudas" de qualquer coisa.
Felizmente, porém, essa primeira temporada de Riverdale tem algo a dizer sobre esse universo e personagens além
de meramente observá-los sob um prisma mais sério e é graças a isso que a série
funciona.
A trama começa quando o
assassinato do estudante Jason Blossom (Trevor Stines) choca toda a cidade de
Riverdale. O jovem Archie (KJ Apa) ouviu um tiro ser disparado próximo ao local
em que Jason foi visto pela última vez, mas teme ir à polícia porque ele estava
acompanhado de sua professora, Geraldine Grundy (Sarah Habel), com quem tem um
romance secreto. Simultaneamente, a vizinha de Archie, Betty Cooper (Lili
Reinhart), e o melhor amigo dele, Jughead (Cole Sprouse), decidem investigar o
crime para o jornal da escola. Ao curso da investigação o grupo descobrirá que
muitos habitantes da aparentemente pacata Riverdale escondem terríveis
segredos.
Há um esforço genuíno por parte
da série em tentar subverter os arquétipos sobre os quais esses personagens
foram construídos nos quadrinhos. Ao invés de um herói ingênuo, Archie tem um
romance proibido com uma professora, algo fruto do mal resolvido Complexo de
Édipo que o personagem tem em relação à mãe que o abandonou. Betty demonstra um
lado sombrio por baixo da fachada da típica "garota da casa ao lado"
e seu hábito de ferir as próprias mãos quando fica nervosa, bem como a relação
complicada que ela tem com a mãe ultra controladora, revelam uma inesperada
vulnerabilidade emocional. O cinismo e o aspecto "trevoso" de Jughead
não são mera rebeldia adolescente e tem relação com as inúmeras dificuldades
que ele viu sua família experimentar ao longo dos anos. Veronica (Camila
Mendes), podia ser uma típica patricinha, mas a série lhe dá um arco dramático
no qual ela é obrigada a confrontar as consequências dos golpes financeiros
aplicados por seu pai, fazendo-a repensar sua conduta.
A narrativa ainda consegue falar
de temas importantes como bullying,
machismo, preconceito e abuso sexual de maneira natural e orgânica à trama, sem
parecer que os personagens estão dando uma videoaula sobre o tema. Por outro
lado, toda a parte das intrigas adolescentes, trocas de casais e brigas para
quem vai ser capitã das líderes de torcida soam incomodamente clichê e fazem
pouco para ir além dos lugares-comuns que já vimos em inúmeras narrativas
adolescentes. A série também apresenta números musicais recorrentes envolvendo
Archie ou as integrantes da banda Josie e as Gatinhas, mas estes, embora
corretos e relativamente bem produzidos, não chegam a encantar e deslumbrar
como deveriam.
A construção da trama
investigativa envolvendo Jason Blossom se sai um pouco melhor. Há um hábil
manejo da intriga, com cada episódio apresentando informações importantes e nos
dando razões para suspeitar de diferentes personagens, criando um mistério
instigante no qual qualquer um pode ser o culpado. A investigação dos
personagens também serve para mostrar como Riverdale está longe de ser essa
cidadezinha pacata e idealizada, revelando relações familiares incestuosas e
negócios sombrios da elite da cidade.
Essa ideia de uma cidade idílica
que esconde segredos sombrios também é percebida nas escolhas estéticas
envolvendo a cidade e os figurinos. As roupas e ambientes usam cores intensas e
bem marcantes, além de luzes neon coloridas, conferindo um certo ar cartunesco
aos espaços e figurinos. No entanto, a fotografia constantemente contrasta
essas cores fortes e luzes neon com espaços com pouca luz ou tomados por névoa,
conferindo um ar sinistro e surreal ao que inicialmente parece um colorido
infantilizado. É interessante também o modo como os figurinos conseguem remeter
a elementos dos quadrinhos sem abrir mão do realismo, como o fato da touca de
Jughead apresentar um design idêntico
ao chapéu/coroa que o personagem usa nos quadrinhos.
A escolha do elenco adulto também
tem muito a dizer sobre o esforço da série em desconstruir uma imagem ingênua e
idealizada da juventude. Não é acidente que Luke Perry e Molly Ringwald tenham
sido escalados para viver os pais de Archie. Para quem não lembra (ou é jovem
demais), Perry interpretou o galã Dylan da série Barrados no Baile, enquanto Ringwald foi a queridinha dos romances
adolescentes na década de 80 em filmes como Gatinhas
e Gatões (1984), O Clube dos Cinco (1985)
ou A Garota de Rosa-Shocking (1986).
Seus personagens, no entanto, são pessoas cheias de falhas, que tentam fazer a
coisa certa, mas cometem erros e decepcionam os filhos, enfim, estão longe de
remeter à imagem romantizada de juventude que esses atores um dia representaram.
O mesmo pode ser dito da escolha
de Skeet Ulrich como líder da gangue de motoqueiros local e pai de Jughead. Nos
anos 90, Ulrich viveu bad boys em
filmes como Pânico (1996) ou Jovens Bruxas (1996), mas aqui, embora
seu personagem claramente não seja um bom sujeito, seu personagem é menos
maniqueísta e tem mais nuance. Há uma certa melancolia nele, como se lamentasse
o caminho que sua vida tomou, e ele exibe um afeto genuíno pelo filho, temendo
que Jughead cometa os mesmos erros que ele.
Embora ocasionalmente se renda a
clichês pouco interessantes, a primeira temporada de Riverdale acerta no desenvolvimento de seus personagens e na
construção envolvente da investigação que serve como trama principal.
Nota: 7/10
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Um comentário:
Após assistir Riverdade 1 e 2 temporada, assisti Twin Peaks e só posso dizer o seguinte: Éramos felizes e não sabíamos. Série fraquíssima, com a maioria dos atores de péssima atuação, confusão no roteiro, ideias chupadas de outras séries. História sem pé nem cabeça apenas para entreter as novas gerações com pouca coisa na cabeça.
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