Em Força Maior (2014) o diretor sueco Ruben Östlund abordava com bom
humor e tom satírico o quanto é frágil o contrato social de cooperação e
civilidade ao abordar uma crise familiar iniciada durante uma avalanche de
neve. Neste The Square: A Arte da
Discórdia o cineasta visa abordar os mesmos temas, mas ampliando o escopo
do núcleo familiar para toda a sociedade, mostrando as pequenas hipocrisias do
cotidiano e criando uma bola de neve no qual esses momentos aparentemente
inofensivos de egoísmo e falta de empatia vão erodindo o tecido social.
A trama é centrada em Christian
(Claes Bang), o diretor de um museu que está prestes a inaugurar uma nova
exposição que aborda o tema da tolerância e empatia. Um dia, no caminho para o
trabalho, ele é assaltado, tendo o celular e a carteira levados. Ele consegue
encontrar a localização do seu telefone usando o GPS do aparelho, rastreando-o
até o um grande prédio. Sem saber quem no prédio está com o celular, ele decide
escrever uma carta para o ladrão e coloca cópias na caixa de correio de cada
apartamento. Logicamente esse pequeno ato de revanchismo vai causar uma série
de problemas ao personagem.
O filme tem ideias interessantes,
criticando não só esses pequenos atos diários de incivilidade, mas também uma
certa elite artística que adora pensar em si mesma como engajada, responsável
por uma arte transformadora, mas que efetivamente não transforma coisa alguma.
Isso fica evidenciado nas muitas tomadas de mendigos nas ruas contrapostas por
imagens do museu de Christian ou entrevistas dos artistas. Esse jogo de
montagem cria uma clara oposição entre o discurso desses artistas e a realidade
social ao redor deles. A ideia de que o ser humano facilmente abandona seu
verniz de civilidade é abordada principalmente na cena da performance do
"homem símio" que serve como uma síntese para as principais ideias do
filme sobre sociedade e os limites da arte.
A despeito de bons momentos
pontuais, o filme enfraquece diante da decisão do diretor em agregar cada vez
mais elementos e variáveis sociais no seu panorama crítico de incivilidades ao
ponto em que tudo fica cansativo e repetitivo. Mesmo quando o filme já passou
da metade de sua duração a trama continua a acrescentar novas provocações ao
invés de desenvolver as que já estavam estabelecidas. Desta maneira o discurso
do filme parece constantemente andar em círculos, apontando para uma
determinada situação, mas sem desenvolver qualquer insight interessante sobre ela.
Muitas cenas soam como esquetes
soltos, se conectando ao restante do filme apenas em um nível temático, mas sem
qualquer relação com a trama de Christian. Isso seria menos problemático se
esses momentos criassem provocações que acrescentassem alguma nova ideia sobre
as questões que o filme quer tratar, mas na maioria das vezes elas apenas
repetem os mesmos conceitos. Cenas como a entrevista constantemente
interrompida por um sujeito com Síndrome de Tourette ou a que Christian perde
as filhas em um shopping tem muito pouco a acrescentar e deixam o filme
desnecessariamente inchado e redundante.
Teria sido melhor focar no percurso
de Christian e conforme tudo começa a se desfazer ao redor dele do que gastar
energia e tempo em tantas digressões repetitivas. O arco narrativo do
protagonista, que literalmente o leva ao lixo (e o vídeo que ele grava a seguir
é um dos melhores momentos do filme), já seria por si só algo bastante
contundente. Ao tentar ampliar o escopo da narrativa o tempo todo The Square: A Arte da Discórdia termina soterrado por suas próprias ambições, sendo incapaz de oferecer um
olhar interessante sobre o infinitesimal número de questões que tenta abordar.
Uma pena, pois o filme oferece momentos memoráveis quando sua proposta
realmente funciona.
Nota: 5/10
Trailer
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