Depois do excelente Ex Machina: Instinto Artificial eu
estava curioso para conferir qualquer que fosse o projeto seguinte do diretor
Alex Garland. Este Aniquilação traz a
mesma ambição e até alguns temas de seu filme anterior, mas o resultado final,
embora satisfatório, não chega a causar o mesmo impacto que a estreia de
Garland na direção.
A trama é centrada em Lena (Natalie
Portman), uma cientista e ex-militar que é levada a uma base secreta do governo
depois que seu marido, o soldado Kane (Oscar Isaac), reaparece na casa dela
depois de passar um ano desaparecido em uma missão confidencial para o governo.
Na base, Lena conhece Ventress (Jennifer Jason Leigh), a responsável pelo
local. Ventress informa que Kane está em estado grave e os médicos não sabem
como tratá-lo. A missão de Kane tinha sido investigar um fenômeno chamado de
"O Brilho", que engolfou a área de uma reserva ambiental em um brilho
estranho do qual nada sai e Kane foi o único sobrevivente de sua expedição.
Como a área do Brilho está se expandindo, Ventress considera o fenômeno como
uma ameaça e monta uma segunda expedição. Lena se voluntaria para ir junto, na
esperança de encontrar lá dentro uma solução para o problema do marido.
A estrutura da trama, começando
com um interrogatório depois de tudo já ter acontecido, tira um pouco da tensão
da narrativa ao deixar claro quem irá viver e morrer, o que também impede, de
certa maneira, o engajamento com certos personagens. Em outros filmes isso
seria desastroso, mas aqui, como Lena está sempre em cena e tudo claramente
gira ao redor dela, isso acaba sendo um problema menor. Natalie Portman, por
sinal, é inteligente ao compor Lena de maneira discreta, sempre mantendo uma
frieza pragmática diante das bizarrices que ela e sua equipe encontram, mas
ainda assim nos deixando perceber os conflitos internos de sua personagem. A
performance de Portman é apoiada por um competente elenco coadjuvante, em
especial Gina Rodriguez como uma soldado que vai perdendo a cabeça conforme
avançam pelo Brilho.
A natureza alienígena do local
não é evocada somente pela fauna e flora bizarras que a equipe de Lena encontra
em sua jornada, mas também pelo uso da luz e da cor. Com uma paleta de tons
intensos que dão um caráter delirante às imagens e constantes padrões de
arco-íris causados pela incessante refração da luz, a paisagem do Brilho é
eficiente em nos deixar imersos, curiosos e temerosos pela sua estranheza.
Apesar de sabermos exatamente quem irá morrer, isso não tira o impacto das
cenas em que a equipe tem que lidar com as criaturas do local, em especial o
momento em que elas enfrentam um bizarro "urso" cujos rugidos emulam
os gritos desesperados de uma personagem anteriormente morta.
O ousado clímax, quase sem
diálogos e cheio de imagens psicodélicas, certamente irá dividir opiniões, com
muitos celebrando os significados a serem extraídos de sua superfície
enigmática, enquanto que outros rejeitarão toda a maluquice abstrata que
acontece. É possível perceber temas e ideias semelhantes às do trabalho
anterior de Garland, como reflexões sobre a natureza da consciência e da vida
em si ou sobre nossa incapacidade de conviver ou aceitar o que é diferente. Há
também um questionamento sobre o medo do fim e a recusa de perceber o
encerramento de algo como uma possibilidade de renovação. Isso é percebido
tanto na jornada de Lena através do Brilho como também em seus flashbacks com o marido e o amante nos
quais ela se recusa a admitir o fracasso de sua relação e se mostra indisposta
em mudar sua vida apesar de insatisfeita com o marido.
A questão é que falta contundência
no modo como o filme aborda essas temáticas. Apesar de toda a ambição de
Garland, atingir a compreensão das ideias propostas pelo filme não nos atinge
com o impacto que se esperaria de uma trama desenvolvida com o arrojo que o
diretor emprega aqui, tampouco chega perto do impacto causado por seu trabalho
anterior.
Aniquilação é uma ficção científica ambiciosa que conquista pelos seus
visuais psicodélicos e um ótimo trabalho de Natalie Portman, ainda que suas
ideias nem sempre reverberem com a força que se espera.
Nota: 7/10
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