segunda-feira, 12 de março de 2018

Crítica - Aniquilação


Análise Crítica - Aniquilação


Review - Aniquilação
Depois do excelente Ex Machina: Instinto Artificial eu estava curioso para conferir qualquer que fosse o projeto seguinte do diretor Alex Garland. Este Aniquilação traz a mesma ambição e até alguns temas de seu filme anterior, mas o resultado final, embora satisfatório, não chega a causar o mesmo impacto que a estreia de Garland na direção.

A trama é centrada em Lena (Natalie Portman), uma cientista e ex-militar que é levada a uma base secreta do governo depois que seu marido, o soldado Kane (Oscar Isaac), reaparece na casa dela depois de passar um ano desaparecido em uma missão confidencial para o governo. Na base, Lena conhece Ventress (Jennifer Jason Leigh), a responsável pelo local. Ventress informa que Kane está em estado grave e os médicos não sabem como tratá-lo. A missão de Kane tinha sido investigar um fenômeno chamado de "O Brilho", que engolfou a área de uma reserva ambiental em um brilho estranho do qual nada sai e Kane foi o único sobrevivente de sua expedição. Como a área do Brilho está se expandindo, Ventress considera o fenômeno como uma ameaça e monta uma segunda expedição. Lena se voluntaria para ir junto, na esperança de encontrar lá dentro uma solução para o problema do marido.

A estrutura da trama, começando com um interrogatório depois de tudo já ter acontecido, tira um pouco da tensão da narrativa ao deixar claro quem irá viver e morrer, o que também impede, de certa maneira, o engajamento com certos personagens. Em outros filmes isso seria desastroso, mas aqui, como Lena está sempre em cena e tudo claramente gira ao redor dela, isso acaba sendo um problema menor. Natalie Portman, por sinal, é inteligente ao compor Lena de maneira discreta, sempre mantendo uma frieza pragmática diante das bizarrices que ela e sua equipe encontram, mas ainda assim nos deixando perceber os conflitos internos de sua personagem. A performance de Portman é apoiada por um competente elenco coadjuvante, em especial Gina Rodriguez como uma soldado que vai perdendo a cabeça conforme avançam pelo Brilho.

A natureza alienígena do local não é evocada somente pela fauna e flora bizarras que a equipe de Lena encontra em sua jornada, mas também pelo uso da luz e da cor. Com uma paleta de tons intensos que dão um caráter delirante às imagens e constantes padrões de arco-íris causados pela incessante refração da luz, a paisagem do Brilho é eficiente em nos deixar imersos, curiosos e temerosos pela sua estranheza. Apesar de sabermos exatamente quem irá morrer, isso não tira o impacto das cenas em que a equipe tem que lidar com as criaturas do local, em especial o momento em que elas enfrentam um bizarro "urso" cujos rugidos emulam os gritos desesperados de uma personagem anteriormente morta.

O ousado clímax, quase sem diálogos e cheio de imagens psicodélicas, certamente irá dividir opiniões, com muitos celebrando os significados a serem extraídos de sua superfície enigmática, enquanto que outros rejeitarão toda a maluquice abstrata que acontece. É possível perceber temas e ideias semelhantes às do trabalho anterior de Garland, como reflexões sobre a natureza da consciência e da vida em si ou sobre nossa incapacidade de conviver ou aceitar o que é diferente. Há também um questionamento sobre o medo do fim e a recusa de perceber o encerramento de algo como uma possibilidade de renovação. Isso é percebido tanto na jornada de Lena através do Brilho como também em seus flashbacks com o marido e o amante nos quais ela se recusa a admitir o fracasso de sua relação e se mostra indisposta em mudar sua vida apesar de insatisfeita com o marido.

A questão é que falta contundência no modo como o filme aborda essas temáticas. Apesar de toda a ambição de Garland, atingir a compreensão das ideias propostas pelo filme não nos atinge com o impacto que se esperaria de uma trama desenvolvida com o arrojo que o diretor emprega aqui, tampouco chega perto do impacto causado por seu trabalho anterior.

Aniquilação é uma ficção científica ambiciosa que conquista pelos seus visuais psicodélicos e um ótimo trabalho de Natalie Portman, ainda que suas ideias nem sempre reverberem com a força que se espera.


Nota: 7/10

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