Um bom final muitas vezes
consegue salvar uma narrativa problemática ou nos faz relevar os problemas do
percurso. É mais ou menos isso que acontece nessa segunda temporada de Blindspot, que repete muitos dos acertos
e erros da temporada anterior, mas se eleva ao entregar um clímax que
verdadeiramente soa como a culminância de uma trama desenvolvida ao longo de
dois anos. Aviso de antemão que esse texto contem SPOILERS.
A narrativa começa alguns meses
depois do ponto em que a primeira encerrou. Jane (Jamie Alexander) está detida
em uma prisão secreta da CIA, mas está planejando escapar. Enquanto isso, a
equipe do FBI liderada pelo agente Kurt Weller (Sullivan Stapleton) tem que
lidar com o fato de que Jane talvez os tenha traído. Quando Jane finalmente
escapa, Kurt e sua equipe decidem capturá-la. O time de Kurt é também abordado
por Nas Kamal (Archie Panjabi), uma agente da NSA que há anos monitora o grupo
terrorista intitulado Sandstorm, do que Jane fazia parte antes de ter sua
memória apagada. Nas propõe a Kurt que o FBI deixe Jane se infiltrar na
Sandstorm para descobrir os planos da organização e a identidade de Shepherd,
sua liderança misteriosa. Como era de se esperar, a missão de Jane fornece
também novas informações sobre o seu passado.
A primeira metade da temporada é
competente em construir o grupo Sandstorm como uma ameaça crível, mas ao mesmo
tempo nos dá razões para entender o que impele a facção. Shepherd (Michelle
Hurd) funciona como vilã porque sua motivação é algo que podemos não só
compreender, mas dar certa medida de razão para ela, mesmo que discordemos de
seus meios. Eu temi que Shepherd fosse ser apenas uma terrorista caricata, mas
ideia de que os EUA são uma nação corrupta que oprime os menos favorecidos e
beneficia os mais ricos confere humanidade e credibilidade à personagem.
Ao se infiltrar em Sandstorm,
Jane aprende mais sobre seu passado e como ela era mais próxima da
personalidade implacável de Shepherd do que da heroína que é agora. Ainda é uma
jornada bem "padrão Jason Bourne", com uma agente desmemoriada
descobrindo a própria humanidade ao mesmo tempo em que faz as pazes com seu
passado cruel, mas continua sendo interessante por conta do carisma de Jamie
Alexander e o modo como ela transita de maneira orgânica entre a intensidade e
insegurança da personagem.
Assim como na temporada anterior,
no entanto, o resto da equipe de Jane continua falhando em angariar simpatia.
Kurt é o mesmo machão durão genérico e o ator Sullivan Stapleton costuma confundir
exagero com intensidade. O agente Reade (Rob Brown) até tem um arco
interessante no início da temporada, conforme tenta prender um antigo professor
de colégio que abusava dos alunos, mas tudo isso desemboca em uma trama
genérica de vício em drogas na segunda metade da temporada. Enquanto isso a
agente Zapata (Audrey Esparza) não tem muito a fazer senão gravitar ao redor de
Reade em sua jornada de autodestruição.
O destaque da equipe continua
sendo a agente Patterson (Ashley Johnson), que consegue ir além do clichê da
"hacker nerd" para se
mostrar um agente hábil e engenhosa também em campo. Ela também tem uma
subtrama interessante envolvendo sua tentativa de retomar sua vida depois da
morte do noivo e o eventual estresse pós-traumático quando ela é traída e
torturada pelo novo namorado, que se revela um agente da Sandstorm. A Nas Kamal
vivida por Archie Panjabi (a Kalinda de The Good Wife) começa como uma personagem intrigante graças à aura de
ambiguidade que Panjabi coloca na personagem, mas a trama nunca dá a Nas o
espaço necessário para que ela se desenvolva.
A segunda metade da temporada
perde um pouco do fôlego com a captura do irmão de Jane, Roman (Luke Mitchell),
que também tem suas memórias apagadas. Sem lembranças de seu envolvimento com a
Sandstorm, Jane e o resto da equipe precisam fazer as lembranças de Roman
retornarem de modo a conseguirem pistas para o plano definitivo de Shepherd.
Tudo isso acaba soando como uma repetição do arco de Jane na temporada
anterior. Além disso, a decisão de Jane em mentir para Roman sobre quem o
deixou sem memória deixa óbvio desde o primeiro momento que as coisas irão dar
errado no instante em que ele descobrir a verdade (que é exatamente o que
acontece).
Os dois últimos episódios da
temporada, porém, são uma ótima culminância de tudo que a série vinha
construindo nos últimos dois anos, entregando respostas para os principais
mistérios desenvolvidos até então e tecendo uma tensa corrida contra o tempo
conforme Jane e o resto do time tentam impedir o engenhoso plano final de
Shepherd. Seria fácil perder o controle sobre a mirabolante conspiração
apresentada ainda na primeira temporada, mas a série amarra tudo de modo
surpreendentemente satisfatório.
Repetindo boa parte dos acertos e
erros do seu ano de estreia, a segunda temporada de Blindspot funciona pela sua protagonista carismática, manejo da
intriga e do competente desfecho que encerra o arco iniciado no primeiro ano.
Agora é torcer para que a série consiga se reinventar em seu terceiro ano.
Nota: 7/10
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