quarta-feira, 14 de março de 2018

Crítica - Tomb Raider: A Origem


Análise Tomb Raider: A Origem


Review Tomb Raider: A Origem
Toda vez que um filme baseado em um game é anunciado, fica a dúvida se finalmente teremos uma adaptação de videogame para o cinema que irá render algo realmente bom. Este Tomb Raider: A Origem carregava essa expectativa de que poderia "quebrar a maldição" desse tipo de filme, afinal os dois últimos jogos, que reinventaram a franquia, foram muito bons e Alicia Vikander era uma atriz talentosa o suficiente para ser Lara Croft. O resultado, porém, é um filme de ação genérico que, embora não seja exatamente ruim, também não te faz sair do cinema muito satisfeito.

A trama acompanha os primeiros passos de Lara Croft (Alicia Vikander) como aventureira. Sete anos depois que seu pai, o Lorde Croft (Dominic West), desapareceu em uma ilha na costa da Ásia à procura da tumba da imperatriz Himiko, Lara organiza uma expedição para a ilha com o intento de descobrir o que aconteceu com o pai e desvendar os mistérios sobre o poder mágico da imperatriz. Chegando na ilha, ela encontra o grupo de mercenários liderados por Mathias Vogel (Walton Goggins) que também está em busca dos restos mortais de Himiko. Assim, Lara precisa enfrentar os mercenários e descobrir como acessar a mítica tumba.

Ao invés de tentar construir uma personalidade para sua heroína, o terço inicial do filme salta entre cena após cena de diálogos expositivos que tenta explicar em pouco mais de vinte ou trinta minutos toda a mitologia que o game desenvolve ao longo de trinta ou quarenta horas, fazendo tudo parecer arrastado e vazio. Ciente de sua falta de ritmo, a narrativa tenta quebrar o tédio com algumas cenas de ação, mas a maioria só faz travar o progresso da trama ainda mais, em especial a corrida de bicicletas e a perseguição no porto, sem sequer oferecer elementos interessantes para desenvolver a protagonista ou mesmo conseguir dar empolgação e adrenalina.

As coisas melhoram quando Lara finalmente chega à ilha e é confrontada com as dificuldades de sobreviver às intempéries do local e de enfrentar os numerosos capangas de Vogel. Apesar do roteiro dar pouco espaço para a exploração dos medos e inseguranças de Lara, Alicia Vikander convence ao mostrar como esses obstáculos vão moldando a protagonista da jovem ingênua do começo à sobrevivente durona que ela se torna ao final. Do mesmo modo, Walton Goggins pega um vilão que é basicamente unidimensional e o faz funcionar ao construí-lo como um sujeito perturbado, impaciente e pavio curto depois de anos preso na ilha. Poderia facilmente descambar para uma caricatura, mas Goggins é eficiente em nos convencer da perigosa instabilidade do sujeito.

Mesmo quando a narrativa parece engrenar, ela volta a encontrar problemas em algumas reviravoltas que não são muito bem concebidas. A principal delas é quando um personagem que todos achavam estar morto aparece vivo e até mesmo o vilão, que mais de uma vez diz ter matado o referido personagem, se mostra surpreso ao vê-lo vivo. Como o sujeito sobreviveu nunca é plenamente explicado e é igualmente estranho que Vogel tenha passado tanto tempo sem saber que o personagem estava vivo considerando que ambos estavam presos na mesma ilha diminuta nos últimos sete anos. Falando em reviravoltas problemáticas, não posso deixar de mencionar a revelação final envolvendo as intenções de uma determinada personagem que, além de previsível, não serve a qualquer outra função além de deixar um gancho para a sequência. Teria sido melhor deixar a identidade da líder da Trinity em aberto, como um mistério a ser resolvido em um próximo filme, ao invés de já dar a resposta aqui e não fazer nada com essa informação.

Outro problema é o modo como o filme cria a expectativa pela existência de algo sobrenatural na tumba de Himiko (que de fato é sobrenatural no jogo), mas decide abandonar essa ideia assim que os personagens chegam no lugar e prefere oferecer uma explicação pseudocientífica vaga para tudo que acontece. Sinceramente, crer que Himiko tinha algum tipo de habilidade mágica seria mais aceitável do que a resolução apresentada, de que na verdade ela era hospedeira de um vírus mortal cujo funcionamento ou efeito (ele mata? transforma as pessoas em mortos-vivos furiosos?) nunca é satisfatoriamente esclarecido.

Em contraposição com as inúteis cenas de ação do começo, as sequências da ilha funcionam melhor em construir tensão e adrenalina, em especial os momentos que colocam Lara para superar os obstáculos e armadilhas do local como a cena em um avião decrépito ou o segmento em que ela tenta desativar um mecanismo que faz as placas do chão desabarem. Os efeitos especiais são inconstantes e em alguns momentos, como o que Lara usa um paraquedas, fica evidente a artificialidade do chroma key. Em termos de design de cenário o filme falha em reproduzir a sensação de deslumbramento e descoberta evocados pela exploração das ruínas e tumbas dos jogos. Ao invés de colocar Lara para visitar lugares exóticos e sinistros, o filme se limita a nos mostrar algumas florestas e cavernas genéricas. Até mesmo a tumba de Himiko oferece pouco prazer visual e não impressiona como deveria.

Apesar do carisma de Alicia Vikander e alguns bons momentos de tensão, Tomb Raider: A Origem derrapa em um roteiro problemático, ação irregular e uma concepção visual sem personalidade.


Nota: 5/10


Trailer

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