Toda vez que um filme baseado em
um game é anunciado, fica a dúvida se finalmente teremos uma adaptação de
videogame para o cinema que irá render algo realmente bom. Este Tomb Raider: A Origem carregava essa
expectativa de que poderia "quebrar a maldição" desse tipo de filme,
afinal os dois últimos jogos, que reinventaram a franquia, foram muito bons e
Alicia Vikander era uma atriz talentosa o suficiente para ser Lara Croft. O
resultado, porém, é um filme de ação genérico que, embora não seja exatamente
ruim, também não te faz sair do cinema muito satisfeito.
A trama acompanha os primeiros
passos de Lara Croft (Alicia Vikander) como aventureira. Sete anos depois que
seu pai, o Lorde Croft (Dominic West), desapareceu em uma ilha na costa da Ásia
à procura da tumba da imperatriz Himiko, Lara organiza uma expedição para a
ilha com o intento de descobrir o que aconteceu com o pai e desvendar os
mistérios sobre o poder mágico da imperatriz. Chegando na ilha, ela encontra o
grupo de mercenários liderados por Mathias Vogel (Walton Goggins) que também
está em busca dos restos mortais de Himiko. Assim, Lara precisa enfrentar os
mercenários e descobrir como acessar a mítica tumba.
Ao invés de tentar construir uma
personalidade para sua heroína, o terço inicial do filme salta entre cena após
cena de diálogos expositivos que tenta explicar em pouco mais de vinte ou
trinta minutos toda a mitologia que o game
desenvolve ao longo de trinta ou quarenta horas, fazendo tudo parecer arrastado
e vazio. Ciente de sua falta de ritmo, a narrativa tenta quebrar o tédio com
algumas cenas de ação, mas a maioria só faz travar o progresso da trama ainda
mais, em especial a corrida de bicicletas e a perseguição no porto, sem sequer
oferecer elementos interessantes para desenvolver a protagonista ou mesmo
conseguir dar empolgação e adrenalina.
As coisas melhoram quando Lara
finalmente chega à ilha e é confrontada com as dificuldades de sobreviver às
intempéries do local e de enfrentar os numerosos capangas de Vogel. Apesar do
roteiro dar pouco espaço para a exploração dos medos e inseguranças de Lara, Alicia
Vikander convence ao mostrar como esses obstáculos vão moldando a protagonista
da jovem ingênua do começo à sobrevivente durona que ela se torna ao final. Do
mesmo modo, Walton Goggins pega um vilão que é basicamente unidimensional e o
faz funcionar ao construí-lo como um sujeito perturbado, impaciente e pavio
curto depois de anos preso na ilha. Poderia facilmente descambar para uma
caricatura, mas Goggins é eficiente em nos convencer da perigosa instabilidade
do sujeito.
Mesmo quando a narrativa parece
engrenar, ela volta a encontrar problemas em algumas reviravoltas que não são
muito bem concebidas. A principal delas é quando um personagem que todos
achavam estar morto aparece vivo e até mesmo o vilão, que mais de uma vez diz
ter matado o referido personagem, se mostra surpreso ao vê-lo vivo. Como o
sujeito sobreviveu nunca é plenamente explicado e é igualmente estranho que
Vogel tenha passado tanto tempo sem saber que o personagem estava vivo
considerando que ambos estavam presos na mesma ilha diminuta nos últimos sete
anos. Falando em reviravoltas problemáticas, não posso deixar de mencionar a
revelação final envolvendo as intenções de uma determinada personagem que, além
de previsível, não serve a qualquer outra função além de deixar um gancho para
a sequência. Teria sido melhor deixar a identidade da líder da Trinity em
aberto, como um mistério a ser resolvido em um próximo filme, ao invés de já
dar a resposta aqui e não fazer nada com essa informação.
Outro problema é o modo como o
filme cria a expectativa pela existência de algo sobrenatural na tumba de
Himiko (que de fato é sobrenatural no jogo), mas decide abandonar essa ideia
assim que os personagens chegam no lugar e prefere oferecer uma explicação
pseudocientífica vaga para tudo que acontece. Sinceramente, crer que Himiko
tinha algum tipo de habilidade mágica seria mais aceitável do que a resolução
apresentada, de que na verdade ela era hospedeira de um vírus mortal cujo
funcionamento ou efeito (ele mata? transforma as pessoas em mortos-vivos
furiosos?) nunca é satisfatoriamente esclarecido.
Em contraposição com as inúteis
cenas de ação do começo, as sequências da ilha funcionam melhor em construir
tensão e adrenalina, em especial os momentos que colocam Lara para superar os
obstáculos e armadilhas do local como a cena em um avião decrépito ou o
segmento em que ela tenta desativar um mecanismo que faz as placas do chão
desabarem. Os efeitos especiais são inconstantes e em alguns momentos, como o
que Lara usa um paraquedas, fica evidente a artificialidade do chroma key. Em termos de design de cenário o filme falha em
reproduzir a sensação de deslumbramento e descoberta evocados pela exploração
das ruínas e tumbas dos jogos. Ao invés de colocar Lara para visitar lugares
exóticos e sinistros, o filme se limita a nos mostrar algumas florestas e
cavernas genéricas. Até mesmo a tumba de Himiko oferece pouco prazer visual e não
impressiona como deveria.
Apesar do carisma de Alicia
Vikander e alguns bons momentos de tensão, Tomb
Raider: A Origem derrapa em um roteiro problemático, ação irregular e uma
concepção visual sem personalidade.
Nota: 5/10
Trailer
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