Este Jantar Com Beatriz é daqueles filmes que chega ser um pouco difícil
de classificar. Por vezes soa como um drama existencialista, ponderando o
impacto da intervenção humana sobre o planeta e sobre outros seres humanos. Em
outros momentos parece uma comédia de costumes apoiada em um certo "humor
de constrangimento" satirizando o desconforto de uma elite frívola ao ser
confrontada com suas próprias contradições. A mistura poderia resultar em uma
obra inconsistente, mas o diretor Miguel Arteta transita por tudo isso com
bastante sensibilidade.
Beatriz (Salma Hayek) é uma massagista
e "terapeuta holística" que está atendendo uma cliente rica, Kathy
(Connie Britton), na área nobre de Los Angeles. Quando o carro de Beatriz
quebra, sua cliente a convida para ficar para o jantar. O marido de Kathy está
dando um jantar para celebrar um acordo comercial envolvendo o magnata
imobiliário Doug (John Lithgow), um empresário duro e sem escrúpulos. Ao longo
do jantar, a natureza bondosa de Beatriz entra em conflito com o comportamento
bruto de Doug.
Fica evidente o desconforto dos
convidados de Kathy em terem Beatriz por perto. Por mais que tentem demonstrar
simpatia para com ela e digam repetidas vezes que ela é "como alguém da
família", eles também deixam claro que a veem como alguém pertencente a
uma casta diferente (e possivelmente inferior), exibindo um desconforto
perceptível toda vez que Beatriz tenta sair do lugar ao qual é relegada e emite
uma opinião própria que entra em desacordo com a dos seus anfitriões.
A principal oposição é entre
Beatriz e Doug. É difícil não olhar para Doug e não pensar em Donald Trump.
Embora o filme tenha sido escrito antes do empreiteiro se tornar presidente dos
Estados Unidos, o empresário tem uma quantidade enorme de semelhanças com Doug:
ambos empresários do ramo imobiliário, com uma postura pedante, preconceituosa
e machista, ambos tem um histórico de processos e representam a faceta mais
predatória e danosa do capitalismo contemporâneo. O ator John Lithgow até
reproduz alguns elementos da linguagem corporal de Trump, como seu hábito de
apertar os lábios um contra o outro quando vê ou ouve algo que lhe desagrada.
Enquanto Beatriz, uma imigrante
mexicana que viu sua cidade natal ser devastada por resorts estadunidenses, revela todo o dano que empresários como
Doug causam para o meio-ambiente e para as comunidades menos favorecidas, Doug
fica na defensiva afirmando que se ele não fizer outros o farão e que ele está
longe de ser o "câncer" do mundo tal como Beatriz afirma.
O embate entre eles, no entanto,
nunca se torna o exame ou crítica contundente sobre o papel do capitalismo nas
desigualdades sociais que os primeiros minutos dariam a entender que seria
construído ao longo da trama. O diálogo nunca passa da superfície de que a
estrutura financeira existe para manter os ricos mais ricos e os pobres mais
pobres, o texto evidencia alguns sintomas, mas não expõe completamente a doença
e mesmo com a curta duração do filme, começa a soar redundante depois de algum
tempo. A sensibilidade de Hayek como uma mulher que parece sentir todas as
dores do mundo e está farta de ser colocada de lado, bem como o cinismo que
Lithgow injeta em seu personagem evitam que a experiência se torne entediante,
mas fica a impressão que o material poderia ter rendido algo melhor.
No fim das contas, Jantar Com Beatriz propõe
um debate importante sobre os valores de nossa sociedade e se sustenta pelo
talento de seus atores, mas decepciona ao não conseguir ir além da superfície
das questões que tenta analisar.
Nota: 6/10
Trailer:
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5 comentários:
Gostei muito da resenha; do meu ponto de vista, abrangeu as impressões mais fundadoras do filme- como história e atuação dos protagonistas -, num texto sintético e bem escrito.
Parabéns!
Gostei bastante desse filme. Gostei da fotografia, do roteiro, me senti apreensiva por algumas ações da Beatriz, mas no final do filme me decepcionei um pouco.
Atriz e atores muito bons, uma história , que começou com muito sentido, decorreu entre o rico e o pobre !!! A super Moça do bem e
Super cara do mal !!! Ela altruísta , sensitiva , que se choca em nível de energia com o mal, e encontra dois caminhos mata lo ou morrer, pelo menos foi q entendi , To louca ou ela morre⁉️
Aí vem as questões
Uma pessoa
Espiritualizada não faria isso, ou faria⁉️⁉️⁉️
Por sua sensibilidade , pode ter se evidenciado que o mal dele , tb existia nela por desejar a morte dele⁉️⁉️
Essas conclusões por uma única frase q
Estava no carro dela
Todos somos um🌷
Bem questionador, uma
Questão de
Ótica
Cochilei o filme não tinha nem começado acordei meio q no final e fiquei curiosa q filme era aquele vim ler algumas críticas e desistir de ver o filme em outro momento
Gostei muito do filme.
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