Durante boa parte do meu tempo
com este Um Lugar Silencioso me
lembrei bastante de Alien: O Oitavo
Passageiro (1979), já que ambos acompanham um grupo de personagens sendo
caçados por um predador cego, mas com sentidos aguçados, criando um sufocante
clima de tensão. Ainda assim, Um Lugar
Silencioso nunca se reduz a uma mera imitação graças ao seu cuidado na
construção das relações familiares que estão no centro da narrativa.
A trama se passa em um futuro
próximo no qual a humanidade foi quase que inteiramente exterminada por uma
espécie alienígena extremamente letal que é cega, mas usa o som para localizar
sua presa. A família de Lee (John Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt) sobrevivem
por já estarem acostumados a se comunicarem em silêncio por sua filha Regan (Millicent
Simmonds) ser surda e eles dominarem a linguagem de sinais. O grupo, mais o
filho caçula Marcus (Noah Jupe, de Extraordinário)
tenta sobreviver em uma fazenda abandonada fazendo tudo com o maior silêncio
possível.
Há um enorme cuidado na
construção do universo e em nos fazer crer que aquelas pessoas realmente vivem
sob aquelas condições há mais de um ano e criaram todo tipo de mecanismo e
gambiarra possível para não produzir som. Do momento em que vemos Lee criar uma
trilha com areia para poder abafar o som dos passos às tábuas pintadas no
assoalho (mostrando em qual pisar para não fazer ruídos), ou mesmo o uso de
grandes folhas para servir a comida ao invés de pratos e talheres, há um visível
cuidado em nos deixar imersos nesse universo e suspender nossa descrença de que
viver daquela forma seria plenamente possível.
Essa construção do cotidiano
serve como um eficiente trampolim para situações carregadas de tensão na qual
mesmo as pequenas coisas, como pisar em um prego ou derrubar uma lamparina
podem significar a morte e são permeadas por uma alta sensação de perigo. O
clímax inclusive mal nos dá tempo para respirar, encadeando um momento de
suspense após o outro, nos deixando na beira da poltrona em relação a quem irá
sobreviver ao ataque das criaturas.
A atmosfera de silêncio é
construída não apenas pela ausência de fala dos atores, mas também pelo
constante uso de sons ambiente e pequenos ruídos de água ou vento para
ressaltar o quão pouco barulho está acontecendo ali. O filme também nos coloca
no "ponto de escuta" da surda Regan, criando um vácuo sonoro que
acaba servindo para ampliar a tensão de muitas cenas, já que não temos certeza
se a garota está sendo silenciosa ou não. Algumas vezes a música se torna
intrusiva e óbvia ao recorrer àquelas mesmas batidas graves que a grande
maioria dos filmes de terror hollywoodianos usa atualmente, mas nem isso ou as
ocasionais inconsistências do que os monstros conseguem ou não captar são capazes
de diminuir o excelente trabalho de design
sonoro que é realizado aqui.
O mesmo silêncio que os faz
sobreviver também faz erodir as relações daquela família, já que os sentimentos
não ditos e não externados levam a uma incompreensão em relação ao modo como um
vê o outro, em especial a relação entre Regan e Lee. Regan julga que o pai
ainda a culpa pelo que aconteceu com o irmão mais novo há tempos atrás e essa
ideia de que o pai não se importa com ela a afasta do pai. Nesse sentido, o
silêncio do filme é usado não só como um eficiente mecanismo de suspense, mas
como metáfora para a incomunicabilidade das relações familiares e os danos que
podem ser causados quando não deixamos claro para aqueles ao nosso redor o
quanto são importantes para nós.
Um Lugar Silencioso consegue, portanto, ser bastante eficiente na
construção de sua atmosfera de tensão, além de servir como uma inteligente
metáfora sobre relações familiares.
Nota: 8/10
Trailer
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