segunda-feira, 9 de abril de 2018

Lixo Extraordinário - A Reconquista


Análise A Reconquista


Review A Reconquista
Quando foi lançado em 2000, A Reconquista quebrou recordes ao se tornar o maior vencedor do Framboesa de Ouro até então, vencendo em sete categorias incluindo pior filme, pior diretor e pior roteiro. O "feito" alcançado pelo filme foi posteriormente superado por Eu Sei Quem Me Matou (2007), que ganhou oito, e Cada Um Tem a Gêmea Que Merece (2010), que ganhou dez, mas ainda assim A Reconquista entrou para a história como um dos piores filmes de todos os tempos. Inclusive o próprio Framboesa de Ouro "agraciou" A Reconquista com o prêmio especial de pior filme da década em 2010.

A película é baseada em um livro de L. Ron Hubbard, fundador da Cientologia, seita da qual John Travolta, que atuou e produziu este filme, faz parte. A trama se passa no ano 3000. A terra foi conquistada pelos Psychlos, uma raça de humanoides de mais de dois metros de altura que desde então mineira o ouro do nosso planeta. A raça humana foi quase inteiramente dizimada e os poucos sobreviventes são caçados e escravizados pelos alienígenas. Terl (John Travolta) é o Psychlo responsável pela segurança das operações de mineração no nosso planeta, ele odeia a Terra e não vê a hora de ir embora, mas um ato de insubordinação o faz ser "condenado" por seus superiores a continuar trabalhando na Terra indefinidamente. Frustrado, Terl bola um plano para enriquecer aos custos da companhia de mineração. Ao descobrir uma reserva de ouro intocada, ele resolve treinar humanos a usar o maquinário alienígena para minerar em segredo e ficar com todo ouro para si.

Com esse ouro Terl irá...bem...err...ele irá....espera um pouco...err...não vou mentir gente, nada nesse filme faz muito sentido. Terl ficar rico não o ajuda em nada a sair da Terra e arriscar agir pelas coisas da companhia seria um ato de traição que lhe custaria a vida, além disso ensinar os escravos a usar sua tecnologia é um ótimo plano se você quer que eles se rebelem contra você, o que logicamente acaba acontecendo. O humano Jonnie (Barry Pepper) usa o conhecimento dado por Terl para liderar uma revolta contra os ocupantes alienígenas.

Como já deu para perceber, coerência não é exatamente o forte desse filme. Cidades em ruínas e abandonadas há mil anos estranhamente ainda tem eletricidade funcionando, os livros de uma biblioteca destruída estão em perfeito estado de conservação apesar de terem ficado à mercê das intempéries por um milênio e uma antiga base militar ainda tem armamentos e jatos de combate que funcionam perfeitamente, inclusive os jatos estão plenamente abastecidos. O comportamento dos seres humanos também é inconsistente, com eles grunhindo e se movendo como primatas em um momento para no outro exibirem uma fala perfeitamente articulada, mas retornam à mesma postura primitiva logo depois.

Se o plano dos vilões não faz muito sentido, o dos heróis também não é lá muito fácil de embarcar. A explicação de Jonnie para libertar Terl depois de tê-lo capturado é pouquíssimo convincente, já que eles não precisariam continuar trabalhando para ele depois de levar seu plano adiante. Do mesmo modo, é difícil acreditar que um sujeito imoral e implacável como Terl manteria os humanos vivos depois de quase ter sido morto por eles. É evidente naquele momentos que os humanos são um risco grande demais, mas Terl acha que ameaçar o interesse amoroso de Jonnie será o suficiente para manter os humanos na linha e é lógico que não será. Também é difícil de acreditar que os humanos, que regrediram a seres primitivos, tenham sido capazes de se tornar hábeis pilotos de combate depois de alguns dias treinando em um simulador.

Os Psychlos falham em convencer como uma raça mais avançada e superior, já que na maioria das vezes agem de maneira tão ou mais estúpida que os humanos primitivos. Aliás, não há qualquer nexo no fato deles se referirem aos humanos como "homem-animal", mas falarem de ratos e cachorros apenas por "rato" e "cachorro". Se a escolha de palavras visa mostrar a superioridade dos invasores, eles não deveriam falar "rato-animal"? A fala "homem-animal" é o tipo de termo que o filme joga a esmo na cara do espectador, mas é inorgânico em relação ao universo construído e faz tudo soar falso e arbitrário ao invés de crível e natural.

Os toscos efeitos especiais e maquiagem também não ajudam a imergir naquele universo. As próteses dos longos dedos e garras dos Psychlos são claramente feitos de borracha barata e qualquer plano mais aberto deixa evidentes os enormes sapatos de plataforma usados pelos atores para fazer os alienígenas parecerem mais altos. Os efeitos especiais parecem saídos da série original de Star Trek (feita nos anos 60) ao invés de algo contemporâneo a filmes como Independence Day (1996), cujo orçamento foi quase o mesmo de A Reconquista, ou Armageddon (1998).

Um espectador atento por perceber que os rostos dos atores constantemente aparecem no canto de quadro e cortados para fora do enquadramento, isso acontece porque a obra inteira é filmada através daquilo que comumente é chamado de "plano holandês". O plano holandês consiste em criar enquadramentos com uma leve inclinação do eixo horizontal (até cerca de 45º). Normalmente é um recurso usado para criar a impressão de confusão ou desorientação, mas esse efeito depende da contraposição entre esse tipo de enquadramento e planos mais convencionais. Como isso não acontece aqui, dada a onipresença do plano holandês, mais parece que o filme usa esse recurso para parecer diferente e moderninho, mas soa amador, inconsequente e mal elaborado.

Os visuais ruins até seriam perdoáveis se ao menos a trama ou personagens fossem interessantes, mas além do colossal número de incoerências os diálogos são pobres e por vezes se prestam ao humor involuntário. Boa parte das conversas entre o vilão Terl e seu assistente Ker (Forrest Whitaker) parece retirada de algum desenho animado infantil dos anos 80, com Travolta e Whitaker agindo com tal exagero que seus vilões pendem para o ridículo ao invés do ameaçador. O exagero dos dois contrasta com a seriedade com a qual Barry Pepper concebe Jonnie criando uma inconsistência tonal quando ambos estão em cena juntos, como se cada um estivesse atuando em um filme diferente.

A Reconquista é um daqueles casos em que não dá para encontrar nenhum atributo positivo no filme. Visualmente pedestre, porcamente filmado, com uma escrita incoerente e atores entregues a um exagero caricatural, eu sinto que não assisti A Reconquista, mas que sobrevivi a ele.


Trailer

2 comentários:

Cara da net disse...

Sem duvida um classico! só que pelos motivos errados

Gil Nóbrega disse...

Mais vale a pena assitir sim ou não?