A quarta temporada de Agents of SHIELD, uma das melhores da
série diga-se de passagem, terminava com um instigante gancho: o agente Coulson
(Clark Gregg) era sequestrado por pessoas desconhecidas e quando acordava
percebia que estava no espaço. Imediatamente teorias começaram a pipocar: será
que o final ligaria a série com os eventos da (então) vindoura série dos Inumanos? Será que se conectaria diretamente com os acontecimentos de Vingadores: Guerra Infinita. Eram muitas
possibilidades empolgantes, mas quando a temporada nova começou o resultado foi
decepcionante e a mais fraca temporada da série desde então. Aviso que o texto
a seguir tem SPOILERS da temporada.
Na trama, Coulson e o restante da
SHIELD descobre que eles na verdade foram levados ao futuro. Eles estão em uma
gigantesca colônia espacial chamada O Farol, que a abriga o que restou da
humanidade depois que a Terra foi destruída. A existência humana não é fácil,
já que eles são governados com mão de ferro pelos Kree e todos os recursos são
controlados. No fim, a temporada não tinha conexão alguma com a série Inumanos (ainda bem, considerado o
quanto ela foi ruim e já está devidamente cancelada) ou com o Thanos. O vilão
chega a ser citado nominalmente em alguns dos últimos episódios, mas a série
não chega a abordar as consequências do que acontece no final de Vingadores: Guerra Infinita.
Sim, é mais um cenário de
universo alternativo que os heróis tem que reverter, não muito diferente da
incursão ao mundo virtual na metade da temporada anterior, o que soa como uma
reciclagem preguiçosa. Pior, pois no mundo virtual os personagens podiam de
fato morrer, dando um senso de perigo e urgência, mas aqui isso não acontece,
já que é evidente que os heróis conseguiriam retornar ao passado, reiniciando a
linha do tempo e desfazendo qualquer evento mais trágico.
Não ajuda que o roteiro tente
introduzir uma penca de novos personagens que inevitavelmente serão mortos (e a
maioria deles morre em um ou dois episódios depois de ser introduzidos) ou
apagados da linha do tempo quando a SHIELD voltar ao passado, o que faz todo o
esforço feito para desenvolver esses novos personagens (são tão esquecíveis que
nem me lembro dos nomes deles) pareça uma imensa perda de tempo. Um desses
personagens, o Deke (Jeff Ward), até sobrevive, mas tirando uma emocionante
cena entre ele e a Simmons (Elizabeth Henstridge), o personagem não tem muita
utilidade além de ser um alívio cômico descartável.
Essa perda de tempo soa ainda
mais grave quando percebemos que a série ainda tem tramas importantes para
desenvolver com seus personagens principais, mas constrói esses arcos de
maneira muito difusa. Fitz (Iain De Caestecker) precisa lidar com a descoberta
de seu lado mais cruel que foi exposto a ele e aos companheiros na segunda
metade da temporada anterior. May (Ming-Na Wen) tem seu lado materno explorado
na sua relação com a garotinha Robin, enquanto Daisy (Chloe Bennet) e Coulson
deixam cada vez mais claro a dinâmica de pai e filha que se criou entre eles.
Imaginei que a segunda metade da
temporada, quando os personagens retornam ao presente, a série retornaria à
velha forma, mas isso não acontece. Parte do problema vem da "dança das
cadeiras" que o roteiro faz com os possíveis vilões demorando a deixar
clara a ameaça e o conflito central. É a Hidra da General Hale (Catherine
Dent)? É a poderosa e instável Ruby (Dove Cameron)? É o Werner Von Strucker
(Spencer Treat Clark)? São os alienígenas da Confederação? Enquanto a trama
tenta se decidir por qual caminho seguir, o que se forma é um vácuo de tensão e
empatia, já que não temos um risco claro pendendo sobre os heróis. É só no
antepenúltimo episódio da temporada é que a série estabelece sua ameaça ao
transformar Glenn Talbot (Adrian Pasdar) no vilão Graviton, recorrendo ao
cansado clichê do sujeito que enlouquece ao receber um grande poder.
Outra coisa que incomoda é a
pobreza da produção em relação a temporadas anteriores. Mesmo com seu modesto
orçamento televisivo, a série conseguia nos convencer de que estávamos
assistindo a algo com escala global, com os personagens viajando por várias
cidades mundo, e efeitos especiais convincentes, como aqueles que deram
vida ao Motorista Fantasma na quarta temporada. Aqui tudo soa incomodamente
menor e mais pobre, limitando os cenários a um monte de corredores subterrâneos
genéricos como se a série fosse uma produção de baixíssimo orçamento filmada no
galpão do pai de alguém. Isso sem falar da tosqueira que eram os Remorath, os
alienígenas que atacam a SHIELD nos últimos episódios, e que mais parecem um
bando de figurantes rejeitados de Mortal
Kombat: O Filme (1995). Sim, a luta entre Daisy e Graviton no último
episódio é realmente espetacular, mas não compensa por uma temporada inteira
parecendo um produto de quinta categoria.
O último episódio, por sinal, é o
melhor da temporada inteira. É visível que ele fora concebido para funcionar
como o final da série, já que seu destino estava incerto (o anúncio da
renovação só veio dias antes da exibição do season
finale), e os últimos episódios exibem um esforço visível de remeter a todo
o legado da série, incluindo elementos das primeiras temporadas como o soro
Centipede, a mãe de Daisy, a morte de Lincoln (Luke Mitchell) e tantos outros.
O episódio final oferece a emoção e urgência que faltou à temporada inteira
conforme a equipe precisa tomar uma difícil decisão envolvendo Coulson e o
vilão Graviton. As despedidas de alguns personagens, em especial uma cena
envolvendo Mack (Henry Simmons) e Fitz, me surpreenderam pelo seu impacto
emocional e o desfecho amarrou com habilidade as pontas soltas deixadas até
então. Nesse sentido, talvez tivesse sido melhor que a série realmente acabasse
aqui, já que o episódio entrega um desfecho digno para seus personagens. Por
outro lado seria um tanto injusto que uma série que cresceu tanto encerrasse
justamente na sua pior temporada, então talvez o sexto ano (que só terá 13
episódios) consiga trazer de volta os melhores dias da série.
Apesar do ótimo final, a quinta
temporada de Agents of SHIELD é a
mais fraca da série até aqui, com uma produção capenga, uma narrativa perdida e
vilões sem carisma.
Nota: 5/10
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